A capa do jornal inglês The Guardian que circulará nesta sexta-feira (17), e foi publicada há pouco no Twitter, traz uma foto de Dom Phillips com a legenda: “o jornalista que morreu tentando alertar o mundo sobre a guerra na natureza”. Repórter engajado e brilhante, Dom estava escrevendo um livro sobre “como salvar a Amazônia”. Ficaria pronto no fim do ano.

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A morte terrível do jornalista inglês ao lado do indigenista Bruno Pereira, um dos mais respeitados profissionais da área, profundo conhecedor das tribos indígenas da Amazônia – em especial dos povos isolados – revelou ao mundo que o tesouro verde brasileiro se converteu em terra sem lei.

Não é de hoje que a selva sofre com falta de Estado. São décadas de omissão. Mas o que era uma doença crônica chegou à fase aguda com um governo que estimula a tensão e o armamento, que considera inimigos os órgãos de fiscalização ambiental e desmonta as políticas de proteção dos povos indígenas, que gostaria de calar quem expõe as mazelas de um Brasil sombreado pela barbárie.

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Enquanto a selva é vilipendiada pelo crime, o Exército, a quem caberia resguardar o território, está engajado em um projeto golpista de descrédito do voto eletrônico, mirando no caos. A fala do presidente Jair Bolsonaro (PL), de que Bruno e Dom teriam se embrenhado em uma “aventura” perigosa, revela o total descontrole de uma área de alto interesse de segurança nacional. 

Perdemos dois defensores da floresta, dois defensores do Brasil. Dom Phillips foi um estrangeiro que se apaixonou pelo país e por aquilo que temos de melhor. Foi tratado com desdém pelo presidente da República, que se referiu a ele como alguém “malvisto”, quase como um invasor.

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Bruno também foi um apaixonado pelo trabalho com os povos originários. Afastado da Funai por exercer sua função, seguiu cumprindo a missão no lado de fora. Queria proteger os índios dos invasores, do garimpo, da pesca ilegal, do narcotráfico, dos pistoleiros. Acabou vítima, ele mesmo, do mal que tentava combater.

Imolados na floresta, Dom e Bruno expõem ao mundo, de forma permanente, a miséria moral e o rastro de dor e sangue que o desmonte das políticas ambientais e de proteção das populações indígenas agravou no coração do Brasil.

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