Um discurso de Mark Zuckerberg, repleto de acenos e significados, selou nesta semana uma guinada de 180 graus na política de conteúdo da Meta, empresa que controla o Instagram, o Facebook e o Threads – concorrente do X de Elon Musk. Menos moderação, com o fim da checagem profissional, e mais conteúdo político, que até então era freado pelo algoritmo.
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O contexto e o tom, no entanto, dizem muito mais que as palavras no recado de Zuckerberg. O bilionário emulou o discurso da extrema direita global, classificando como censura a necessária moderação de conteúdo. Sem controle, as redes sociais são espaço onde prolifera o discurso de ódio, a pornografia, a desinformação.
Zuckerberg sabe que há léguas de distância entre censura e moderação. Sua empresa foi pioneira na parceria com órgãos de checagem e veículos de imprensa – modelo que, diante do novo arranjo global, ele decide rechaçar.
A fala ocorre às vésperas da posse de Donald Trump, e depois da Meta ter feito a primeira doação à posse de um presidente – US$ 1 milhão. Parece evidente que, como Musk, Zuckerberg também se rendeu ao namoro com o autoritarismo que ronda o antes progressista Vale do Silício.
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Há diferentes especulações circulando para a motivação do dono da Meta. Pablo Ortellado, professor da USP, citou o fato das big techs terem sido colocadas contra a parede com as regras de controle na União Europeia, que as atingem financeiramente. Seria uma razão para buscar o apoio de Trump – um entusiasta da liberdade de expressão radical – para frear a regulação das redes em outros lugares no mundo. A BBC levantou outra questão: as pendências judiciais da Meta, que não são poucas nos EUA, e que podem ter um custo exorbitante se houver um presidente na “cola” da empresa.
Em ambas as hipóteses, it´s the money. A razão é financeira. As big techs têm enxergado no retorno de Trump à presidência uma chance de escapar das pressões pelo mínimo de controle. O discurso de liberdade de expressão radical da extrema direita trumpista é um remédio eficaz contra medidas que enfraquecem o poderio ilimitado das redes sociais e seus bilionários donos.
O realinhamento da Meta faz supor que será ampliado o palco para reverberar o discurso extremista de Donald Trump, e o que ele traz a reboque. Que o mundo, e a democracia, se segurem.
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