Faleceu na madrugada desta segunda-feira (3), aos 91 anos, em Criciúma, o comerciante João Abel Benedet. Pai do ex-deputado Ronaldo Benedet, ele deixou ainda a esposa Maria Irene e os filhos Renato, Rosane e Rosimara. João Abel estava internado havia alguns dias no Hospital São João Batista.

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João Benedet foi nome histórico do comércio. Era o mais antigo dos comerciantes da área central, participou da fundação do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) e foi primeiro presidente da CDL Criciúma, além de integrar diretorias da Associação Empresarial (Acic). Participou do Rotary Clube desde 1962, sendo governador distrital entre 1994 e 95.

Natural de Tubarão, chegou em Criciúma aos 19 anos, em 1950, para gerenciar a filial das Lojas Pernambucanas. Era vendedor exímio de tecidos, item dos mais procurados naquela época. Registramos trechos de antigas entrevistas que fizemos com ele para contar mais da vida dessa figura icônica da história de Criciúma.

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O início no comércio

– Criciúma não tinha nem calçamento na rua. Tinha que usar galocha para andar por aí – lembrava, contando como era a cidade que conheceu no início dos anos 50. Associou-se aos alfaiates Itamar Campos e Algemiro Manique Barreto para fundar, em outubro de 1957, a Casa Imperial, da qual tornou-se o único proprietário poucos anos depois.

Ele foi dos comerciantes que despontou com o ápice da mineração de carvão em Criciúma. – O mineiro ganhava bem e gastava mesmo. A gente vendia muito bem para eles – recordava. Benedet citava os períodos dos governos Sarney e Collor como dos mais difíceis para continuar no comércio. – Mas tudo isso a gente venceu – enfatizava.

Com o filho Ronaldo no último Dia dos Pais, em agosto
Com o filho Ronaldo no último Dia dos Pais, em agosto (Foto: Divulgação)

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As crises e o livro

O comerciante mencionava com preocupação o esvaziamento do comércio local nos últimos anos. – A Henrique Lage, que era nossa rua forte do comércio, tem muitas lojas fechadas. Isso é ruim e acontece em outras regiões também – contava, sem esconder o que chamava de “nova e grave crise”.

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Em 2012, a partir de memórias próprias, João Abel Benedet escreveu e lançou o livro “Comerciantes do meu tempo”, contando histórias de 200 lojas, seus proprietários e trajetórias. 

João Abel no lançamento do seu livro, em 2012
João Abel no lançamento do seu livro, em 2012 (Foto: Divulgação)

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Não pedia voto para o filho

O advogado Ronaldo, um dos quatro filhos de João Abel Benedet, derivou cedo para a política. – O Ronaldo foi deputado cinco mandatos. Eu nunca pedi voto para ele – contava, orgulhoso, para comprovar sua isenção política, muito pelas atividades que ocupava na benemerência e no Rotary Clube. – No Rotary não se discute política e religião – pontuava.

Ronaldo Benedet candidatou-se pela primeira vez em 1988, a vice-prefeito de Criciúma, em chapa encabeçada por Eduardo Moreira que perdeu aquela eleição. – Ele começou guri e me desobedeceu, pois eu era da Arena e ele foi para o MDB. Nunca me meti na vida política dele – registrava.

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O que faltava em Criciúma

João Abel reclamava a falta de investimentos em infraestrutura viária em Criciúma. – Faltam viadutos e cuidados com as ruas – dizia, tanto nas entrevistas quanto nas conversas na Praça Nereu Ramos, onde era habituê havia seis décadas, ausentando-se nos últimos tempos por conta do resguardo com a pandemia de Covid-19 e a avançada idade, além de outras dificuldades impostas pela saúde.

Mas ele gostava de opinar sobre política, embora as reservas em relação à carreira do filho, que deixou a Câmara Federal ao ser derrotado na última eleição. E usava a prestigiada memória para elencar os feitos dos prefeitos do passado em Criciúma.

– Todos tiveram seu valor. O Ruy Hülse, por exemplo, me agradava muito pois impunha disciplina. Se o Brasil tivesse disciplina, viraria uma potência mundial. E o Addo Faraco foi um bom prefeito, só não fez mais por falta de recursos – comentava.

João e a esposa Maria Irene, à frente, com a equipe da Casa Imperial nos seus 60 anos, em 2017
João e a esposa Maria Irene, à frente, com a equipe da Casa Imperial nos seus 60 anos, em 2017 (Foto: Suzi Nascimento / Divulgação)

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Mas para o antigo comerciante, três personalidades destacaram-se no comando da prefeitura na história local. O primeiro era Algemiro, de quem João havia sido sócio nos anos 50 e 60. – Não é por ter sido meu sócio, mas ele foi corajoso, convencia até os militares. Fez a Avenida Centenário, urbanizou a cidade – relacionava. – O Altair Guidi não perdeu muito. Foi um grande prefeito, desbravou Criciúma – dizia. – E o Eduardo Moreira, embora não tão reconhecido, fez os terminais de ônibus, que têm valor extraordinário – opinava.

João Abel Benedet deixou a esposa Maria Irene, quatro filhos, 10 netos e 12 bisnetos. O velório começou às 9h no Crematório MIllenium, em Içara, e o sepultamento será às 17h no Cemitério Municipal do Bairro São Luiz, em Criciúma.

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