
Polêmica
Uma postagem do prefeito de Criciúma nas redes sociais, na última segunda-feira (9), repercutiu nesta quarta (11) na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Durante agenda em Florianópolis, Clésio Salvaro (PSDB) passou pelo campus da Universidade e gravou um vídeo demonstrando indignação com a falta de atividades presenciais. - Tudo fechado, isso aqui é uma vergonha - disparou.
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Salvaro foi além. - Fosse eu o presidente da República, eu dava 24 horas para reabrir a universidade com aulas presenciais. E se não reabrisse, mandava fechar de forma definitiva - disse. O prefeito afirmou que "todos estão trabalhando" de forma presencial, e que não há mais razão para atividades remotas na UFSC.
O reitor Ubaldo Balthazar (que é do Sul catarinense, natural de Siderópolis) escreveu uma longa e contundente carta de resposta encaminhada ao gabinete do prefeito. "Em nome das relações institucionais saudáveis", escreveu o professor, "é necessário e fundamental que saibamos conviver em uma democracia".
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Balthazar destacou que a fala do prefeito representa "desconhecimento das contribuições que as universidades federais têm demonstrado ao longo de sua história" e rotulou de "raso preconceito" a postura de Salvaro. O reitor provocou o prefeito a reconhecer os projetos desenvolvidos no Sul catarinense em prol da qualidade de vida.
No ofício, Balthazar garantiu, porém, que não se sente abalado como reitor, mas que sim toda a comunidade acadêmica da UFSC foi atacada. "Suas palavras agridem, isso sim, uma comunidade de mais de 50 mil pessoas" e menciona as presenças físicas da universidade em Florianópolis, Araranguá, Blumenau, Joinville e Curitibanos.
O reitor lembrou o papel que a UFSC, como todas as universidades federais, desempenham na promoção de jovens. "Isso, prefeito, nos entristece", grifou o professor, ao mencionar que para "milhares de jovens" a UFSC é "a única oportunidade de acesso ao ensino superior".
Balthazar bateu, ainda, na tecla do fechamento da universidade, defendido por Salvaro como medida a ser tomada pelo presidente Jair Bolsonaro em caso de manutenção da suspensão de atividades presenciais. "Fechar as universidades públicas é privar milhares de brasileiros e brasileiras do acesso ao ensino superior público de altíssima qualidade", argumentou o reitor. "É pretender calar o conhecimento", emendou. "E isso, senhor prefeito, consideramos vergonhoso!", destacou.
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Na sequência, o reitor indagou Salvaro se ele defende também fechamento de outros serviços públicos, como na saúde e educação. "E em nome de que lógica o faz? Fazendo pouco caso da tragédia da pandemia?", questionou. "Esperamos, honestamente, que sua atitude seja devidamente reparada e que o senhor próprio reveja sua fala", expôs Balthazar.
O prefeito Clésio Salvaro encontra-se em Brasília, onde chegou nesta terça-feira (10) para cumprir diversas agendas, e ainda não se pronunciou sobre a resposta da UFSC. Confira abaixo a íntegra do ofício encaminhado pelo reitor.
Senhor Prefeito, 1 - Tendo tomado conhecimento, na tarde desta segunda-feira, dia 9 de agosto de 2021, de vídeo publicado por Jornal de circulação regional em Santa Catarina, surpreendeu-nos a sua manifestação ao afirmar que a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está “parada”, “não funcionando”, contestando a qualidade do ensino e, o que julgamos mais grave, senhor prefeito, a menção de que se deva “fechar de forma definitiva” todas as universidades públicas, incluindo aí a UFSC. 2 - Em nome das relações institucionais saudáveis e harmônicas, as quais defendemos entre todos os entes do Estado, ainda que possamos, como gestores públicos, discordar uns dos outros, é necessário e fundamental que saibamos conviver, em uma Democracia, na base do diálogo e do convívio respeitoso e equilibrado. 3 - Sua fala, senhor prefeito, revela, no mínimo, o desconhecimento das contribuições que as universidades federais têm demonstrado ao longo de sua história e, obviamente, um raso preconceito sobre o papel presente e essencial da Ciência, da Pesquisa e de nossas instituições no desenvolvimento local e nacional e no combate à pandemia. 4 - Para ficar apenas na sua região, o senhor possivelmente conhece os inúmeros projetos desenvolvidos para melhorar a qualidade de vida, a indústria, a educação, resultando em benefícios às populações não apenas de Criciúma, mas à região Sul de Santa Catarina como um todo. 5 - Suas palavras não nos abalam como reitor. Como qualquer gestor público responsável e cioso de seu papel, correspondemos aos votos que a comunidade universitária em nós depositou, atitude que, julgamos, também lhe movam. Suas palavras agridem, isso sim, uma comunidade de mais de 50 mil pessoas, que extrapola um único município e alcança, além de Florianópolis, também Araranguá, Blumenau, Curitibanos e Joinville. Suas palavras ofendem milhares de jovens que têm, na UFSC, a única oportunidade de acesso ao ensino superior, muitos deles, certamente, oriundos da cidade que o senhor administra, e quantos outros tantos egressos, formados com a qualidade da UFSC e que hoje, certamente, desenvolvem atividades profissionais em inúmeras áreas no seu município. E isso, prefeito, nos entristece. 6 - Fechar as universidades públicas é privar milhares de brasileiros e brasileiras do acesso ao ensino superior público de altíssima qualidade; fechar as Universidades Públicas é pretender calar o conhecimento, reprimir o pensamento crítico, sufocar gerações de cidadãos e cidadãs que têm, nessas instituições, a oportunidade única de ascender socialmente e de se desenvolver como seres humanos. 7 - E isso, senhor prefeito, consideramos vergonhoso! Negligenciar tamanha relevância não deveria ser atitude de um gestor público, que tem sob seu comando uma cidade inteira, do porte e da importância de Criciúma. Ou o senhor também defende o fechamento da saúde pública, dos serviços públicos, da educação pública? E em nome de que lógica o faz? Fazendo pouco caso da tragédia da pandemia? Ignorando as milhares de vítimas do descaso e do descompromisso de outros gestores públicos que, conforme se vê, voltaram seus esforços não para prover a nação da proteção da ciência, mas para promover a ignorância e o obscurantismo? 8 - Esperamos, honestamente, que sua atitude seja devidamente reparada e que o senhor próprio reveja sua fala. Se não em respeito à UFSC e às pessoas que a constroem há 60 anos e continuam por fortalecê-la, que o faça em respeito às vidas perdidas, fruto de uma política desastrosa de alguns (poucos) mandatários, que preferem minimizar a catástrofe, com manifestações levianas e intimidações irresponsáveis. 9 - Sugerimos que repense seu discurso, senhor prefeito!
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