Grupo de startups e entidades de Portugal buscou parcerias, conexões e investimentos em missão a Florianópolis, Santa Catarina, nesta terça-feira. A diretora da Startup Portugal, instituição sem fins lucrativos de apoio ao setor, falou com a coluna sobre o sucesso de empresas de tecnologia emterras lusitanas, oportunidades de investimentos e objetivos da visita a SC e a São Paulo. Confira. 

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O que motivou a missão empresarial de vocês a Santa Catarina?
Temos ouvido falar muito sobre o papel que Santa Catarina tem no contexto atual da economia do Brasil como local privilegiado para startups por várias razões. Porque tem várias entidades de apoio, incubadoras e empresas e, depois, a qualidade de vida. Há segurança, praia e surfe, estilo de vida que interessa muito essa geração que trabalha em empresas inovadoras como startups. Nós viemos com um conjunto de startups portuguesas para apoiar a internacionalização dessas empresas porque Portugal é um mercado de 10 milhões de pessoas, é minúsculo. Tem menos pessoas do que São Paulo. Qualquer empresa tem que procurar o mercado externo desde que nasce. Então, a nossa função enquanto entidade de apoio para as startups de Portugal é organizar missões e ajuda-las a vir conhecer parceiros que possam apoiar a entrar nesses mercados. É por isso que estamos aqui com uma delegação de startup que está olhando para o mercado da América Latina e para o Brasil como porta de entrada desse mercado por razões culturais e de proximidade. Viemos para SC por termos informações de que o setor aqui é mais desenvolvido e recebe mais investimentos. 

Portugal vem se destacando em tecnologia. Como está o setor de startups no país?
Portugal vem de uma crise profunda enfrentada em 2008 e 2009. Esteve muito deprimido em investimentos e empregos. Chegamos a ter taxa de desemprego de 20%, muito profundo. E começou a surgir uma coisa curiosa. Os novos empregos que começaram a aparecer eram de empresas com menos de cinco anos de atividades. Então o governo começou a perceber que aquela ideia de que as startups não vão resolver os problemas da economia, na verdade se conclui que elas vão resolver, mais do que se pensa. Começamos a ter, de fato, essa nova corrente de empresários de uma nova geração que está querendo inovar, trabalhar em cima de setores tradicionais. Isso está fazendo uma diferença muito interessante na economia do país. Portanto, o governo, há três anos, conseguiu desenhar um pacote de políticas públicas para apoiar essa geração de empresários e essa comunidade de empresas. 

Como foram definidas as novas políticas públicas para apoiar o setor?
Essas políticas públicas foram feitas convidando pessoas do chamado ecossistema de startups a virem para dentro do governo. Eu fui uma dessas pessoas. Eu passei a integrar a Secretaria de Estado da Indústria sob a direção do secretário João Vasconcellos, que antes de assumir esse cargo foi o diretor da mais bem-sucedida incubadora de Portugal, a Startup Lisboa. A experiência que eu trouxe para o governo ajudou a criar um pacote de medidas favoráveis ao setor. Quando se fala que há condições interessantes para investir tem a ver com alguns programas que foram criados para não só startups, mas a quem quer investir em startups, como os capitais de risco, os investidores anjo. As medidas implementadas vão desde apoiar as empresas na fase de ideias, até na internacionalização com missões como esta. A Startup Portugal começou como uma iniciativa para o desenho de políticas públicas e depois acabou por criar uma associação privada sem fins lucrativos que está fora da esfera pública embora trabalhe todos os dias com o governo. Nós somos mais ágeis, temos cultura de startups, falamos a língua das startups, falamos inglês e respondemos e-mails em tempo real, portanto, temos mais agilidade. Temos um diálogo permanente com o governo por meio dessa entidade que atua como um tipo de lobby do setor, mas continua a desenvolver com o governo novas políticas públicas. Nós somos uma entidade que é a tradutora da comunicação entre o setor de startup português e estrangeiro e o governo. Mandamos desde um e-mail para um órgão público atender um investidor com problema até um estrangeiro que está com dificuldades  num visto.  

Que programas específicos Portugal tem para atrair investimentos?
De programas específicos para investir em Portugal vou falar de apenas um que está num momento especial esta semana. Há dois anos o governo desenhou um programa chamado 200 M, que significa 200 milhões de euros. Toda informação sobre esse fundo está no site www.200m.pt. É um fundo para atrair investidores estrangeiros. Se, por exemplo, um fundo de capital de risco brasileiro quiser investir numa empresa portuguesa, o fundo 200 M vai dizer, vai, investe que eu duplico teu investimento. Isso baixa o risco. Ele é muito inovador porque um fundo brasileiro não precisa abrir uma entidade veículo em Portugal para isso. A empresa em que esse fundo vai investir precisa ter uma operação em Portugal. Isso tem permitido atrair investidores estrangeiros para olhar startups portuguesas porque na prática eles têm risco inferior do que investir por conta própria numa empresa qualquer. E isso é muito importante para nossas startups porque o estrangeiro conhece o mercado estrangeiro. Então, essa chegada do estrangeiro não é só dinheiro, é smart Money, dinheiro com conhecimento de outra realidade. Outra coisa que fazemos é a política de visto. Lançamos o Startup Visa, que é um visto para investidor de fora da União Europeia e vamos lançar o Tec Visa, que é um visto para trabalhadores que vão atuar em startups de Portugal. Sexta-feira vamos nos reunir com universidades em São Paulo. Trouxemos várias empresas para essa reunião, inclusive uma que é o nosso novo unicórnio, a OutSystems, todas a procura de talentos. Queremos aumentar esse fluxo de investidores e talentos de parte a parte. 

Quem é essa empresa unicórnio?
É a OutSystems. É uma empresa que ajuda uma empresa que não absorve códigos a desenvolver códigos. O que ela faz é muito mais complexo do que isso. Mas eu não sou tecnóloga, não tenho essa facilidade de explicar (a empresa recebeu US$ 360 milhões do fundo de capital de risco KKR e Goldman Sachs)

Vocês estão recebendo muitos investidores brasileiros com negócios em Portugal?
A Neoway e a Resultados Digitais, de Santa Catarina, já abriram filiais em Portugal. A Glóbulo está pesquisando o mercado. Nós temos contatos e relação com várias pessoas deste Estado e do país. Não sei se pelo clima econômico vivido no Brasil, sentimos que o país está olhando para a Europa e a ligação entre Portugal e Brasil faz com que muitos vejam nosso país como uma porta de entrada para negócios.