Sétima maior empresa supermercadista do Brasil, o Grupo Pereira, fundado em Itajaí, Santa Catarina, em 1962, pelo casal Ignácio Theodoro Pereira e Hiltrudes Fantini Pereira, avançou graças à união e ao trabalho em família. Um dos protagonistas é claro, foi o primeiro filho do casal, Manoel Pereira, que junto com os pais e os irmãos, já na adolescência se tornou um exímio vendedor de alimentos e outros itens em Santa Catarina e São Paulo.
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Presidente do conselho de administração e vice-presidente de Patrimônio e Expansão do Grupo Pereira, Manoel Pereira, 75 anos, recebeu na noite desta sexta-feira (30) o troféu “Empresário do Ano”, mais importante condecoração empresarial de Itajaí, município que hoje tem o maior Produto Interno Bruto (PIB) de SC. Ele falou do começo da empresa, quando os pais, da comunidade de Limoeiro, interior do município, começaram a vender produtos coloniais, até chegar ao grupo gigante atual.
Veja mais fotos sobre a homenagem a Manoel Pereira e sobre o Grupo Pereira:
Contou que ao lado do irmão Ignácio, o segundo da família, começou a ajudar os pais nas vendas em Itajaí, e em outros municípios. Muito jovens, tentavam conciliar trabalho intensivo com lazer e um dos preferidos era o Carnaval.
De acordo com Manoel Pereira, o momento mais difícil da trajetória do grupo foi nas enchentes de 1983 e 1984, quando diversas lojas foram alagadas em Itajaí e Blumenau e o impacto financeiro foi grande. Foi nessa crise que a família decidiu investir em outros estados que não tivessem enchentes. O primeiro passo foi em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
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O Grupo Pereira, que está chegando a 144 operações, tem atuação em seis estados com 23 mil colaboradores e faturamento de R$ 15,3 bilhões em 2024. A maior empresa do grupo é a rede de atacarejo Fort Atacadista, que teve como principal idealizador Manoel Pereira em 1999.
Atualmente, são 68 lojas Fort Atacadista, 31 supermercados Comper, 27 farmácias Sempre Fort, três centros de distribuição Atacado Bate Forte, 5 lojas da agência Pera Turismo, 1 bunker Nestlé e mais de 1 milhão de cartões Vuon. Além de SC, o grupo atua no Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, e Distrito Federal. Os planos futuros são de investimentos bilionários para seguir crescendo até chegar aos 100 anos. Saiba mais sobre a trajetória do grupo e de Manoel Pereira na entrevista a seguir:
O que representa para o senhor a homenagem da Associação Empresarial de Itajaí com o troféu “Empresário do Ano”?
– Fiquei muito feliz ter sido escolhido para receber esse importante reconhecimento, num município com tantas empresas que se destacam. Isso me enche de orgulho. Sou muito grato à presidente da ACII, Thaisa Nascimento Corrêa, e demais empresários por me escolherem para receber essa importante homenagem na minha cidade natal.
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O senhor é o primogênito de um casal de empresários que fundou um grande grupo, e vocês começaram pequenos. Como foi o início do Grupo Pereira?
– O começo foi lá pelos anos de 1955, 1958. Meu pai começou, junto com minha mãe, com uma carroça. Eles compravam mercadorias no interior, ali na região de Itajaí, localidade de Limoeiro, na divisa com Brusque – cachaça, farinha de mandioca – e traziam para vender em Itajaí. Depois de uns oito ou nove anos, meu pai comprou um caminhão e fazia esse mesmo trajeto, só que aí ia para o Oeste Catarinense. Levava sal, querosene, açúcar, e trazia de lá os produtos regionais: feijão, milho, produtos coloniais, para vender aqui embaixo. E assim foi. Em 1962, eles se mudaram para Itajaí. Alugaram um pequeno depósito, um pequeno armazém, aqui no alto da Rua Brusque. O pai cuidava das mercadorias e a mãe vendia no balcão. Em 1972, nós inauguramos a nossa primeira loja de varejo.
Abriram o primeiro supermercado?
– Isso! Aqui mesmo. na rua Sete de Setembro, já com o nome Comper. Comper quer dizer Comercial Pereira. Em 1962, foi fundado o Comercial Pereira. E, em 1972, abrimos o supermercado. Mas, nesse intervalo, entre 1962 e 1972, eu e meu irmão Inácio fazíamos o que meu pai fazia. Carregávamos os caminhõezinhos e atendíamos a região. Íamos para Tijucas, Porto Belo, Itapema, Navegantes, Penha, Piçarras vendendo de forma ambulante.
Em 1972, inauguramos essa loja, e hoje, graças a Deus, estamos todos juntos, com a família reunida, todos fazendo parte da empresa. Para nossa satisfação, hoje somos o sétimo maior grupo no ranking nacional de supermercados, e isso me dá imensa alegria.
Você e seu irmão vendiam o que nessa região toda?
– Nós levávamos açúcar, trigo, querosene, sal… Nós fazíamos três viagens por semana, atendendo todo o litoral de Santa Catarina. Nos fins de semana, íamos para Itajaí, Itapema, Porto Belo, Bombinhas. Em outros dias, atendíamos Navegantes, Piçarras, Penha, Itajuba… E às quintas-feiras, íamos até Tijucas e Canelinha. Eu e o Inácio nos organizávamos. Depois começamos a comprar arroz aqui no Sul, no Rio Grande do Sul, e levávamos para vender em São Paulo. Lá ganhávamos muito dinheiro. E na volta trazíamos trigo, açúcar, banha e outros produtos de São Paulo para vender aqui também.
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Queria que o senhor falasse um pouco sobre a relação de vocês com seus pais. Como eles eram? Trabalhavam juntos, cada um numa ponta. Como orientavam vocês?
– Meu pai e minha mãe eram pessoas incríveis. Extremamente trabalhadoras. E se amavam muito. Eu nunca vi os dois brigando. Nunca! E meu pai confiava muito em nós, nos filhos. Ele dava total autonomia. Nós gostávamos muito de trabalhar. Mas também éramos muito festeiros. Gostávamos de festa, baile, dança… Às vezes, chegávamos de madrugada em casa, e o pai dizia: “Não me importa a hora que você chegou. Só sei que às sete da manhã tem que estar no trabalho.” E, às vezes, ele nos acordava, batendo na porta só uma vez.
O senhor comentou na inauguração da loja de Rio do Sul sobre um carnaval e uma enchente…
– Sim. Era véspera de Carnaval. Tínhamos um bloquinho com uns quatro ou cinco amigos aqui em Itajaí. Todos de calça preta e camisas floridas. Íamos dançar no Clube da Vila (Operária). Tudo pronto, aí meu pai chegou e disse: “Meu filho, você vai para o Oeste com o João, nosso motorista.” Eu falei: “Pai, mas é Carnaval…” E ele respondeu: “Boa viagem.” E fui.
Quando chegamos em Rio do Sul houve uma grande enchente. Não dava para passar. Liguei para o meu pai e avisei: “Pai, estou aqui em Rio do Sul, a estrada está alagada. Não passa. Vou voltar de trem.” E ele respondeu: “Se a enchente demorar 30 dias para baixar, você vai ficar aí 30 dias. E ponto.” Meu pai era muito amoroso. Nunca levantou a voz com um filho. Nunca bateu. Meu pai só olhava, e nós já entendíamos o recado.
Tem uma passagem que nunca esqueço. Eu tinha uns 9 anos. Morávamos no Limoeiro, divisa com Brusque. Era a festa de São Sebastião, no dia 20 de janeiro. Meu pai dava 100 cruzeiros para fazermos um lanche, tomar um refrigerante. Nesse ano, perguntei: “Pai, você vai me dar os 100?” E ele respondeu: “Vem cá, meu filho.” Abriu um cofre pequeno, verde, e disse: “Você já é um homenzinho. Daqui para a frente, não precisa me pedir dinheiro. O que precisar, você pega. Só tem uma coisa: se trabalharmos juntos, com seriedade e economizarmos, vamos longe. Mas, se gastarmos mais do que ganhamos, voltamos todos para a roça.” Peguei só 80 cruzeiros. Veja só… Um homem com apenas o primário, já com essa visão. Meu pai confiava muito em nós.
Ensinou a gestão austera para vocês…
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– É. Teve a visão de empresário de longo prazo. E realmente nós não fizemos por desmerecer. Todos aqui em casa sempre trabalhamos muito. Gostamos de festa também. Essa mistura é que dá bom. Celebrar as conquistas.
A empresa tem 62 anos. Qual foi o momento mais difícil que ela enfrentou?
– Gostei muito dessa pergunta. Porque aí entra um personagem muito importante nessa história. O momento mais difícil que tivemos foi com as enchentes de 1983 e 1984, quando perdemos muita mercadoria. As águas invadiram várias lojas, em Blumenau, Itajaí… Em Blumenau, por exemplo, a água chegou no telhado. Dava para entrar na loja de canoa. Nossos centros de distribuição foram extremamente afetados. Ficamos numa situação bastante difícil.
Aí a família resolveu procurar oportunidades em outros estados. Fomos para o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Eu caçava em uma cidade chamada Coxim, próxima de Campo Grande. Achei a cidade bonita, com pouco comércio. Vi ali uma oportunidade. Inicialmente, como éramos atacadistas, queria ir pra Rondonópolis, que fica no eixo entre Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo. Mas lá foi difícil, não encontramos onde ficar.
Então, a família resolveu se estabelecer em Campo Grande. Na época, o Beto (Roberto) tinha recém-casado com a Denise. Ele fazia medicina na Universidade Federal de Santa Catarina, era cabeludão, e foi convidado pela família para tocar um negócio. Era um garoto, e ele e a Denise foram para lá. Fizeram um excelente trabalho.
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Deram sustentação para o nosso recomeço. Hoje, nós só estamos aqui porque superamos esses 63 anos, com bons e maus momentos. As enchentes foram uma dificuldade imensa.
Como vocês conseguiram reabrir as lojas que foram alagadas?
A princípio, não tinha seguro. Seguro não cobre enchente. Nem hoje cobre. Aqui a gente teve problema de crédito, e foi a ida para Campo Grande que nos deu condições de refazer o nosso negócio. Fomos obrigados a procurar outros mercados.
A que o senhor atribui o sucesso de hoje, de o grupo ser um gigante nacional?
– Só conseguimos isso por causa da união da família. Continuamos juntos na época boa e ruim. Se ajudando… E o Beto em Campo Grande… E os outros espalhados. Eu fui pra Brasília. O Inácio foi para Cuiabá, onde está até hoje. O importante é que os sete irmãos são acionistas. Quatro homens e três mulheres. Estamos juntos até hoje. Isso é raríssimo. Uma empresa de 63 anos com todos os irmãos ainda sócios.
O que mais a crise da enchente ensinou para vocês? Outras empresas apontam maiores dificuldades em outros momentos…
– Na época da enchente, não conseguimos crédito suficiente. Nas outras crises, por incrível que pareça, sempre ganhamos dinheiro. Na época da Dilma, 2015 e 2016, anunciaram que iam baixar a energia elétrica. Aí pensei: “Como vão baixar se não inauguraram nenhuma usina? Vai faltar energia.” Liguei para os meus irmãos e vimos ali uma oportunidade: o mercado livre de energia. Começamos a entender e partimos para esse mercado. Compramos antecipadamente com a Engie e ganhamos muito dinheiro.
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Isso levou também vocês a investir em energia limpa?
– Sim! Hoje, 96% da energia que usamos é renovável. Na maioria das nossas lojas usamos energia limpa.
Vocês dedicam também atenção ao social e preservação ambiental, com doações, hoje com contratação de estrangeiros, pessoas com 50 mais. Isso vem desde sempre?
– Desde sempre. Nosso troco solidário, pioneiro desde 2007, já arrecadou 20 milhões e beneficiou 700 instituições. Só no ano passado, via Mesa Brasil, doamos mais de 800 toneladas de alimentos para mais de 1 milhão de pessoas. Investimos em 71 escolas no Brasil. Temos hoje 1.330 colaboradores de outras nacionalidades, sendo 1.057 refugiados.
Fomos o primeiro varejista do Brasil a receber o selo Age Friendly por ter ação especial para contratar pessoas 50 mais. Nossa preocupação com o meio ambiente sempre esteve na cultura da empresa. Nosso projeto de limpeza dos mares já retirou 190 toneladas de lixo.
Agora eu queria saber como o senhor avalia o momento atual do grupo Comper e do Fort Atacadista?
– Olha, eu acho que estamos muito bem consolidados. Estamos pensando e trabalhando bastante na sucessão. Hoje, a nossa empresa já é auditada, tem conselhos formados e está sendo preparada para alcançar os 100 anos de existência. Estamos firmes. É uma empresa pujante. Já temos dois sobrinhos da terceira geração, o Lucas e o Arthur, trabalhando com a gente. E minha netinha Manoela, da quarta geração, também já está na empresa, lá em São Paulo. Estamos preparando tudo com muito otimismo.
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Conta um pouco sobre o seu trabalho. O senhor, além de ser presidente do conselho é vice-presidente de Expansão. Imagino que essa seja uma das áreas mais desafiadoras?
– É a parte mais gostosa do negócio pra mim. Expandir uma empresa é muito mais do que crescer: é transformar a região onde você se instala. Uma loja do Fort ou do Comper muda completamente um bairro, melhora tudo. Gera emprego, renda, segurança, valoriza o entorno, adota praças… Isso me deixa muito feliz. Você vê a vida melhorar, o comércio se fortalecer. E ainda por cima, sua empresa cresce junto.
E uma loja de supermercado traz um impacto duradouro, dificilmente sai de lá?
– Exatamente. O investimento é alto, chega a R$ 50 milhões só na obra. Se incluir o terreno, vai a R$ 70 milhões. Então é algo feito para durar. A gente precisa ter certeza, fazer tudo com muita informação. Só de exemplo: temos uma loja inaugurada em 1972, está ali até hoje, mais de 50 anos depois. Loja é coisa perene. Tem obra, terreno, equipamento… Não é algo de curto prazo.
E quanto vocês vão investir este ano?
– Temos um plano até 2027. Como estamos em 2025, são mais dois anos e meio, três anos pela frente. Nesse período, vamos abrir 37 lojas, com um investimento previsto de R$ 1 bilhão e R$ 200 milhões em obras. Isso deve gerar um aumento de R$ 5 bilhões no faturamento. No ano passado, investimos R$ 700 milhões com recursos próprios e abrimos entre 13 e 15 lojas. Nossa média é de 12 a 13 novas unidades por ano, sem contar as aquisições.
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Teve a aquisição da rede Schmidt, por exemplo?
– Isso. Compramos sete lojas do Schmidt. Elas ainda estão com essa bandeira, mas em 90 dias todas já vão virar Comper ou Fort Atacadista. Esse é um crescimento orgânico muito bacana. Temos 37 unidades já contratadas e dentro do planejamento.
E onde serão as próximas lojas?
– Agora vem Campo Grande, Gravataí… Aqui em Santa Catarina teremos 11 inaugurações ainda este ano. No ano que vem, mais 13. Aqui no estado vamos para Itajaí no Contorno Sul, São Francisco do Sul, São Bento do Sul, Itapema, Chapecó, São José — que, aliás, vai ganhar mais uma loja ainda este ano, no bairro Potecas. Também abriremos uma no bairro Caminho Novo, em Palhoça
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