A gestora catarinense Lucia Dellagnelo acaba de assumir o cargo de vice-diretora de Educação e Habilidades da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris. Mestre e doutora em Desenvolvimento Humano e Educação pela Universidade de Harvard, com sólida experiência em funções de liderança, ela destaca que vai trabalhar na missão da organização que é apoiar países na melhoria dos seus sistemas educacionais, com foco em equidade, qualidade e inclusão.

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A OCDE é uma das organizações mais renomadas do mundo que fazem pesquisas estratégicas para o desenvolvimento da educação. A pesquisa mais conhecida é a de PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que permite mensurar o aprendizado de alunos do ensino médio e fazer comparações visando maior qualidade.

Nascida em Florianópolis, graduada em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lucia Dellagnelo já desempenhou diversas funções estratégicas. Foi secretária de estado de Desenvolvimento Econômico Sustentável, fundadora do Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICOM), presidiu o Centro de Inovação para Educação Brasileira (CIEB) e foi consultora do Banco Mundial.

Apesar da experiência como gestora com capacidade para dialogar com diversos públicos, a catarinense só foi confirmada no cargo na OCDE porque além de nacionalidade brasileira, tem nacionalidade europeia de Luxemburgo. Ela reside na Europa desde que o marido, executivo internacional, assumiu a presidência de multinacional com matriz no velho continente no final de 2023. Leia, a seguir, entrevista exclusiva com Lucia Dellagnelo sobre o novo desafio.

Pode nos contar sobre sua nomeação como vice-diretora de Educação e Habilidades da OCDE?

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– É uma grande honra assumir a posição de vice-diretora de Educação e Habilidades da OCDE em Paris, especialmente após um processo seletivo altamente competitivo. A nomeação para esse cargo só foi possível devido a minha dupla cidadania já que o Brasil ainda não é membro formal da OCDE.

Sinto-me motivada e comprometida com a missão da organização de apoio a países na melhoria de seus sistemas educacionais, promovendo políticas baseadas em evidências e focadas na equidade, qualidade e inclusão. Minha formação acadêmica e trajetória profissional, que combina experiência no setor público, em ONGs e em organismos internacionais, me preparou para contribuir com uma perspectiva prática e estratégica às iniciativas da OCDE em educação.

Para quem não está familiarizado, o que é a OCDE e qual é sua importância no cenário global?

– A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma instituição internacional que reúne 38 países comprometidos com a promoção de políticas públicas que melhorem o bem-estar econômico e social das pessoas ao redor do mundo.

A OCDE é amplamente reconhecida por sua produção rigorosa de dados, análises comparativas e recomendações de políticas em diversas áreas, incluindo educação, economia, inovação e sustentabilidade.

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No campo da educação, a OCDE tem um papel central na geração de conhecimento e no estímulo à cooperação internacional, influenciando políticas educacionais em escala global. Programas como o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), o PIAAC (avaliação de competências de adultos) e o TALIS (pesquisa internacional com professores e diretores sobre ensino e aprendizagem) oferecem dados robustos que ajudam governos a compreender seus desafios, identificar boas práticas e orientar reformas educacionais mais eficazes.

Qual é o impacto concreto do trabalho da OCDE na área de educação?

– A OCDE apoia os países na formulação de políticas educacionais mais justas e eficazes. Seu impacto se dá em três dimensões principais: produção de evidências comparáveis internacionalmente, orientação técnica para a formulação de políticas públicas e criação de espaços de aprendizagem entre pares.

Com dados como os do PISA, por exemplo, é possível identificar desigualdades educacionais dentro e entre países e entender quais sistemas estão conseguindo combinar excelência com equidade. Isso permite que formuladores de políticas aprendam com a experiência de outros países e adotem soluções mais bem fundamentadas. Além disso, a OCDE promove diálogos contínuos com ministérios da educação, especialistas e parceiros, contribuindo para decisões mais estratégicas e baseadas em evidências em todos os níveis de governo.

Quais serão suas prioridades nesse novo cargo?

– Minhas prioridades estarão alinhadas com o compromisso da OCDE de promover sistemas educacionais mais inclusivos, resilientes e preparados para os desafios do século XXI. Isso inclui fortalecer o uso dos dados gerados pela OCDE para apoiar os países na elaboração de políticas mais contextualizadas e eficazes, ampliar a visibilidade de boas práticas em educação ao redor do mundo, e fomentar o desenvolvimento de habilidades que permitam às pessoas prosperarem em sociedades cada vez mais digitais, interconectadas e desafiadoras. Também buscarei incentivar a colaboração entre países e parceiros de desenvolvimento, promovendo espaços de aprendizagem mútua e inovação em políticas públicas.

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Como é a relação do Brasil com a OCDE, incluindo o processo de adesão?

– O Brasil é um parceiro estratégico da OCDE há mais de duas décadas e, desde 2022, está em processo formal de adesão à organização. Esse processo é um marco importante, pois representa o compromisso do país com os princípios e padrões internacionais promovidos pela OCDE, incluindo governança democrática, desenvolvimento sustentável, economia aberta e políticas públicas baseadas em evidências.

Mesmo antes da adesão formal, o Brasil já participa ativamente de diversos comitês da OCDE e de programas importantes, como o PISA, o PIAAC e o TALIS, contribuindo e se beneficiando da produção e do uso de dados comparativos de alta qualidade. A participação do Brasil fortalece o diálogo entre países com diferentes contextos econômicos e sociais, enriquecendo as análises e recomendações da organização.

O processo de adesão também representa uma oportunidade para o Brasil alinhar suas políticas públicas, inclusive na área da educação, aos mais altos padrões internacionais, promovendo mais transparência, eficiência e equidade nos serviços públicos.

Antonietas

Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade para a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.

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