Quem conheceu o empresário Eike Batista como megainvestidor no setor de petróleo com o Grupo EBX, que chegou a ter fortuna estimada pela Forbes em US$ 30 bilhões em 2012 e depois entrou em crise, se surpreende agora com a radical virada dele para a sustentabilidade. Na noite desta sexta-feira (22), no Expocentro Balneário Camboriú, onde fez palestra na abertura do CREA Summit, recomendou aos cerca de 2 mil participantes comprarem veículos elétricos e afirmou que o Brasil vai liderar globalmente a biotecnologia verde com a supercana, incluindo a produção de etanol para aviação.

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O empresário fez palestra na segunda edição do evento do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de SC (CREA-SC, numa parceria com o Grupo de Líderes Empresariais (Lide). Foi recebido pelo presidente do CREA SC Carlos Kita Xavier, e apresentado pelo presidente do Lide Santa Catarina, Delton Batista, e pelo líder de Turismo do Lide Emirates e chairman do Grupo Wish, o ex-ministro do Turismo, Vinicius Lummertz,  

Ao falar ao público sobre “Desafios e oportunidades para o Brasil”, o empresário fez questão de começar contando a trajetória do pai, o engenheiro Eliezer Batista, ex-ministro das Minas e Energia e ex-presidente da Vale. Disse que o pai foi o mais internacional executivo brasileiro, impulsionou as exportações de minério de ferro e foi quem recomendou aos japoneses fazerem navios gigantes de cargas, dando origem aos meganavios atuais.  

Veja imagens de Eike Batista e de outras lideranças no evento em SC:

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Antes de abordar sua fase atual de negócios em bioeconomia, Eike Batista falou da tragetória com ênfase no grupo EBX, que fundou por volta de 2000. Ele chegou a projetar para Biguaçu (SC), em 2009, a unidade OSX, produtora de plataformas e navios para extração de petróleo, que não obteve licença ambiental no Estado e foi para o Rio. Citou empresas daquela fase – OGX, OSX, LLX, MPX, MMX, CCX, SIX, IMX e NRX, e disse que viabilizou US$ 50 bilhões de investimentos estruturantes ao país.

No novo negócio principal, o empresário segue com a série X. A empresa que informou ter com dois sócios em São Paulo para explorar a supercana se chama BRXe. Segundo ele, é um unicórnio biotech e a cana desenvolvida com pesquisas brasileiras, gera até três vezes mais etanol e 12 vezes mais biomassa.

O ex-bilionário chamou a atenção da plateia, também, por recomendar o uso de carros 100% elétricos. Disse que quando comprou um modelo BYD, há cerca de seis meses, foi no posto fazer uma despedida (enterro) do uso de combustíveis derivados do petróleo.

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– Vocês ainda estão muito diesel nas veias. Tiram o diesel de vocês. Inclusive, quem conseguir ter uma tomada em casa, faça hoje. Para mim, um carro híbrido é comprar um dinossauro e os Jetsons. O motor elétrico tem hoje 97% de eficiência e o motor de combustão, se for turbo, tem 50% – disse para a plateia catarinense.

E ainda para o grupo de engenheiros, recomendou a eles estudar, ler história e priorizar a inovação. Lembrou que o carro elétrico foi fundado antes do carro à combustão e o uso de petróleo foi opção política.

Apesar de ter chegado ao topo dos bilionários globais – foi o sétimo mais rico do mundo em 2012 – e de ter enfrentado a falência da EBX decretada em 2021 – Eike Batista segue igual, pensando grande, com ousadia e foco em negócios do setor produtivo. A expectativa dele é ter mais êxito nessa nova imersão nos negócios, que inclui, também, a atividade de palestrante para empreendedores. Veja a seguir entrevista em que ele detalha um pouco mais o cenário da supercana e passa mensagens para engenheiros.

O senhor está voltando ao mundo dos negócios após um tempo parado. Antes teve a fase dos investimentos no setor petrolífero. Agora, está dando atenção à economia verde, à cana celulose. Que negócios está priorizando?

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– Acho que Deus não quis que eu mexesse com petróleo (risos). Então, nesse último ciclo, eu realmente fui me dedicar à inovação na empresa de biotecnologia. Nós temos, não é cana celulose, é a supercana. Essa supercana tem 11 anos de desenvolvimento, de pesquisas. Ela produz de duas a três vezes mais etanol por hectare e de 7 a 12 vezes mais biomassa (em relação à cana convencional).

A biomassa é muito valiosa porque a gente não deve queimar ela como combustível para gerar energia, mas para fazer produtos recicláveis, embalagens, substituir plásticos.

Então, na transição energética, temos a cana do Brasil – nós somos o maior produtor do mundo, duas vezes mais que a Índia – uma pesquisa que o país tem da Embrapa e outros institutos. Mas essa pesquisa foi conduzida por dois paulistas nos últimos 11 anos e o resultado é que saíram dali 17 espécies de supercana que vão povoar o Brasil nos próximos 5, 10, 15, 20 anos.

Então, é uma revolução muito parecida com a que o meu pai fez 50 anos atrás quando ele trouxe o eucalipto da Ásia para trocar pelo pinho (araucária) porque a gente fazia papel e celulose, que é uma árvore que cresce de 18 a 25 anos e o eucalipto faz isso em 5 anos e meio a 7 anos. Por isso o Brasil, hoje, é o maior produtor e de mais baixo custo. A supercana é uma revolução muito parecida em termos de biotecnologia. Ela é uma máquina de fotossíntese muito mais poderosa.

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O senhor pode detalhar mais a atual fase desse projeto da supercana?

– Sim, a empresa está fazendo parcerias com grandes grupos estrangeiros para produção e modos de produção de 70 mil hectares que vão se espalhar pelo Brasil, substituindo o que é feito hoje. E a grande sorte do Brasil é que o combustível, o querosene no futuro, o combustível sustentável de aviação que eles chamam de SAF (sigla em inglês para Sustainable Aviation Fuel), é o querosene que usa muito etanol e óleos, aproveitando todo tipo de óleo para fazer esse SAF. E o etanol é um dos componentes muito importantes desse SAF e o Brasil vai liderar isso.

As companhias aéreas estão incentivando a produção desse combustível porque terão que começar a usar daqui a cinco anos. O senhor acredita que o Brasil poderá liderar a oferta desse produto?

– Vai ser o maior (fornecedor) do mundo, sem dúvida. No Brasil, será feito com etanol, o mais puro. Não precisa… Eventualmente, algumas plantas de SAF vão usar óleos comestíveis. Em vez de jogar fora, o mundo está aproveitando esse lixo para fazer um combustível de aviação limpo, o que é um espetáculo. É a economia circular na sua melhor engenharia: aproveitar tudo, em vez de jogar fora, fazer um combustível de avião para pelo menos

O mundo ser um pouco menos poluente.

Então, o senhor recomenda a todos, mesmo usuários de veículos grandes, priorizarem veículos elétricos para não poluir?

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– Absolutamente. Principalmente os veículos grandes. As pessoas não sabem, mas o motor elétrico tem torque instantâneo. Ele é muito superior ao motor a diesel. O diesel é um dinossauro, um negócio jurássico.

Como as tecnologias evoluíram, quem mexeu com o mundo elétrico, eu insisto nisso, quem mexeu com isso de um ano para trás, eventualmente não gostou muito da experiência. Isso porque a autonomia não era boa, tinha problemas de qualidade, coisa de infância de qualquer setor.

Quantos setores a gente conhece? O próprio etanol. Eu sou da geração em que 90% dos carros vendidos no Brasil eram a etanol. O Brasil já era verde há 30 anos atrás. E a gente, por políticas, pôs fim.

Hoje a mistura de etanol na gasolina está aí a quase 30%. Não sei se vocês sabem, mas hoje 25 países do mundo já decidiram misturar até 10% de etanol na gasolina. Então, só isso vai fazer o Brasil virar um exportador de etanol. Hoje, todo usineiro depende do mercado brasileiro. Você vê que se não tivessem aumentado o percentual da gasolina de 5% a quase 30%, os usineiros também não conseguiriam nem vender a produção de etanol.

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Mas esse mercado de exportação está aí porque vários países do mundo querem misturar até 10% na sua gasolina para fazer o combustível menos poluente. Isso é bom para a humanidade.

Dos seus negócios do petróleo, o senhor tem ainda alguma coisa?

– No fundo, o que aconteceu comigo nas empresas de petróleo… Eu falo isso, o que aconteceu com as Lojas Americanas. Quando você tem 15, 20, 30 executivos que decidem fazer um assalto à companhia, você não tem o que fazer. É simples assim.

Foi o que aconteceu com o seu grupo de uma outra forma?

– Claro. Aconteceu a mesma coisa com o grupo EBX. Como eu tinha cinco empresas listadas em bolsa, quando a maior é prejudicada, você cai que nem um dominó. Confiança, dinheiro, dinheiro é covarde, como vocês sabem, não está certo.

Qualquer mínima desconfiança você vai vender suas ações. É assim, é o mercado. Você tem que aceitar isso. Então eu tinha seis empresas listadas na bolsa, e obviamente que a maior dela era de petróleo, onde aconteceu essa questão de os executivos passarem informações erradas, inclusive para mim, como maior acionista, aí criou o colapso delas todas.

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Disseram que o senhor usou informação privilegiada?

– Eu não usei. Isso aí, na hora que se embola tudo, isso aí é uma história que é contada do jeito que a narrativa que é feita. Foi feita pela mídia.

O senhor está aqui para fazer uma palestra no evento promovido pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de SC.  Que mensagem o senhor vai deixar aos engenheiros?

– Que os engenheiros procurem tecnologia e inovação na veia. Isso nas várias áreas de megatendências do mundo. O mundo, de fato, está se eletrificando. Então, eu recomendo a todos os engenheiros olharem o quanto as operações que estão envolvidos, as mais diversas de logística e transportes, se olhe o mundo elétrico porque a página virou entre o fóssil e o mundo elétrico.

Por que eu falo isso? O mundo elétrico hoje, do jeito que está funcionando, chega a ser 5 a 6 vezes mais barato por unidade de energia, comparando com o combustível fóssil. Então, quem não se digitalizou entre o ano 2000 e 2024, não pode perder essa onda da eletrificação de tudo que é equipamento usado em diversos setores, incluindo o setor imobiliário, máquina elétricas e caminhões elétricos.  

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A minha provocação é que tem que olhar para isso, porque a revolução aconteceu. Quem mexeu com o mundo elétrico 10 anos atrás, realmente entrou na fase de aprendizado. Mas eu diria para vocês que de um ano para cá, é “game over” (fim de jogo) para o mundo do combustível fóssil.

Como o senhor vê essa relação entre a inovação tecnológica da eletrificação e a sustentabilidade na prática?

– Quando falam que a bateria polui é porque baterias, por exemplo são usadas em um país que gera muita energia a carvão ou a gás ou a outros combustíveis fósseis. Mas o Brasil, que é quase 90% verde, isso é uma bênção que o país tem. E agora, crescendo muito o solar e o eólico, mas o solar é que está crescendo muito e está dominando. Então, é tão extraordinário que nós não temos esse dilema, não. Esse é o dilema dos países geram energia à base de fontes fósseis.

A engenharia participa de uma vasta cadeia de produção, que vai desde alimentos, extração mineral, construção civil e saneamento. Como o senhor vê todas essas áreas impactando nas cadeias produtivas e economia do país?

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O Brasil continua sendo uma potência agrícola. Então, se Deus quiser, a gente vai sair do mundo dos glifosatos, dos pesticidas danosos, para os orgânicos, fertilizantes orgânicos, bactérias etc… para você consertar essa parte do meio ambiente, na agricultura.

Mas o Brasil não vai deixar de ser uma potência, porque temos terra, muito sol e muita água. A agricultura nada mais é do que exportação de água. Então, enquanto a gente ainda tiver esse patrimônio, o Brasil vai continuar crescendo muito nessa área agrícola.

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