Fernanda Bornhausen, presidente do conselho diretor do Social Good Brasil (SGB)
Fernanda Bornhausen, presidente do conselho diretor do Social Good Brasil (SGB) (Foto: Leo Munhoz / Diário Catarinense)

A grande tendência mundial na área de tecnologia é o uso de dados. Esse avanço pode ser usado para o bem ao permitir mensurar o tamanho de desafios sociais e buscar soluções, afirma a presidente do conselho diretor do Social Good Brasil (SGB), Fernanda Bornhausen.

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Esse é o tema central do Festival Social Good, que será realizado no Sesc Cacupé, em Florianópolis, dias 27 e 28 deste mês, e também do Laboratório de Dados para Governo, novo programa para governos estaduais, do SGB, que contará com oito Estados na primeira rodada. Confira a entrevista:

No próximo final de semana acontece o Festival Social Good Brasil. O que vai priorizar este ano?

Vai ser um evento bem diferente. Teremos diversas atrações, mas o tema central será o uso de dados para o social. Nós temos que fomentar o uso de dados na adoção de políticas públicas, por isso várias palestras e painéis serão sobre esse tema. Também vamos debater a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrará em vigor no Brasil em agosto do ano que vem.

É um tema que interessa governos, iniciativa privada, terceiro setor e os cidadãos. Vai acontecer no Brasil o que ocorreu na Europa quando adotaram lei sobre isso. Muitas discussões sobre o tema. A gente tem essa pegada que começamos há mais de um ano, que é o Data for Good, ou seja, o uso de dados para resolver problemas sociais. Mas deverá haver polêmica também sobre privacidade e segurança no uso dessas informações. Por isso falaremos sobre o uso de dados para o social e também da LGPD.

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Como serão abordados esses temas?

Teremos sete palestras sobre isso. Uma será com um especialista bem fera no assunto, Fredy Rodriguez Galvis, do Centro de Pensamento Estratégico Internacional da Colômbia. O Social Good Brasil sempre teve esse protagonismo de trazer o que está sendo discutido na agenda global. É a primeira vez que será amplamente discutido o uso de dados não só visando o comportamento ético, mas também como usar isso como ferramenta para mudanças.

Os oito anos do SGB serão bem celebrados. Será uma oportunidade para convidar a sociedade brasileira a discutir essa questão do uso de dados, tecnologias de impacto e LGPD. É importante envolver órgãos públicos, políticas públicas.

Por que os dados são importantes para a área social?

Eu sempre faço um comparativo como gestora. Quando eu fui secretária de Estado, não tínhamos informações organizadas para dar um imput, tomar uma decisão mais correta de investimento social. Hoje, temos muitos dados. As estatísticas apontam que 90% de todos os dados disponíveis no mundo foram gerados nos últimos dois anos. Quer dizer que a gente está trabalhando na era da informação e que, trabalhar dados com inteligência é possível resolver problemas sociais.

Não tem como não trabalhar analiticamente se você tem dados. Nós, do Social Good Brasil, fomos preparados como organização pela empresa alemã SAP. Durante mais de um mês, técnicos da empresa estiveram conosco para isso. Hoje falamos que as organizações devem ser Data Driven, ou seja, guiadas por dados. Seus gestores, seu board devem estar com os dados na mão para tomar decisões corretas.

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Pode citar alguns exemplos desse uso diferenciado de informações?

Eu vou destacar um caso bem emblemático do Brasil que é dos nossos parceiros desde o início do laboratório, que é o Serenata de Amor. É um projeto que reuniu todos os dados abertos da Câmara dos Deputados sobre o uso das verbas parlamentares. Havia muito abuso nos gastos de dinheiro público.

Um grupo de cientistas de dados de Porto Alegre resolveu encontrar uma solução. Eles criaram um crowdfunding e a Rose, um robô que analisa dados. Assim, conseguiram constatar, via análise de dados, o mau uso do dinheiro público. A sociedade apoiou e eles conseguiram criar uma cultura de não usar de forma errada as verbas parlamentares. A Rose segue cruzando dados. Um exemplo dos EUA foi o projeto que usou Data for Good para combater o tráfico de pessoas. Eles conseguiram cruzar dados e reduzir muito o problema.

Há exemplos catarinenses?

Temos o Portabilis. Ele participou de um laboratório de inovação do SGB. Eles conseguiram identificar, por meio de informações, um padrão de aluno que tem mais chance de sair da escola antes do período letivo. Com isso ajudam a escola na busca da melhor forma de o aluno terminar o ano letivo. Quantos mais dados você tem, mais informações você tem para o padrão.

Outro exemplo é a startup Manejebem, de estudantes de pós-graduação da UFSC. Elas estão usando dados da agricultura familiar de SC para ajudar a agricultura do Maranhão. Vamos para o terceiro laboratório de dados com metodologia que nós criamos. O primeiro foi com grandes empresas, o segundo foi com empreendedores sociais de impacto e, agora, estamos fazendo com governos.

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Como será esse novo projeto com governos para o uso de dados?

A gente tem um movimento que é uma comunidade intersetorial nacional. Estamos trabalhando com todos os setores da sociedade visando o uso de dados para o bem, para resolver problemas sociais. Nesse movimento temos três frentes: conectar, capacitar e inspirar. A nova onda é o movimento Data for Good. O laboratório é o programa do movimento. Estamos dentro de um movimento mundial.

No Brasil, a gente é protagonista junto com a Fundação Telefônica e outros parceiros. De Santa Catarina a gente está convidando órgãos públicos para estarem conosco. Entendemos que não é possível fazer movimento de impacto sem política pública. Estão nos apoiando o governo do Estado, o Tribunal de Justiça (TJSC) e o Ministério Público de SC (MPSC) nessa primeira rodada.

Quantos Estados participarão na primeira rodada?

Nesta primeira rodada, oito secretários de Estado, com mais dois técnicos cada, virão a Florianópolis para duas imersões de três dias, que serão na Softplan, empresa no Sapiens Parque. Uma será de 9 a 11 de outubro e outra de 27 a 29 de novembro. Serão capacitados em inteligência de dados e estratégias. Cada secretaria será convidada a montar um projeto contando com um mentor, que é um cientista de dados.

Num segundo momento, esse projeto já vai estar em andamento e contará novamente com o auxílio dos cientistas de dados. Os Estados que vão participar são Santa Catarina, São Paulo, Pará, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Ceará e Amapá. Os gestores públicos vão levantar problemas importantes que necessitam de solução e os projetos visarão essas soluções. De SC, participa a Secretaria de Estado de Administração.

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Quem patrocina essa iniciativa?

Quem está financiando tudo isso é uma aliança privada integrada pela Fundação Lemann, Instituto Humanize, Fundação Brava e República.Org. Essas instituições têm muito interesse em melhorar a gestão pública pelo uso de dados. Não há dinheiro público envolvido. Os órgãos públicos também poderão colaborar porque já estão trabalhando com dados, como vimos no Tribunal de Justiça e no Ministério Público. O MPSC está com um projeto para a área da saúde.

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