A Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), uma das mais influentes entidades empresariais do estado e do país, está trocando de liderança. Nesta sexta-feira (8), após dois mandatos que somaram 2.554 dias de trabalho intenso, o industrial de Joinville, Mario Cezar de Aguiar, passa a presidência da federação para o industrial de Caçador, Gilberto Seleme. A posse festiva será dia 22, na sede da entidade, em Florianópolis.
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Aguiar liderou uma gestão que desenvolveu trabalho reconhecido em todas as áreas de atuação, levando a entidade e a indústria de SC a uma projeção ainda maior nos cenários estadual, nacional e internacional. Os investimentos somaram mais de R$ 1,5 bilhão, com foco em educação e formação técnica, melhorias de laboratórios, estudos, pesquisas e trabalho institucional de interesse de toda a sociedade.
Imagens de alguns eventos e projetos de destaque na gestão de Aguiar na Fiesc:
A gestão desenvolvida no período de 2018 a 2025 teve como grande desafio a inédita pandemia e se encerra, agora, no início do tarifaço dos EUA, também outra adversidade inesperada. Aguiar, que é engenheiro civil e agora vai se dedicar às empresas da família na área de construção e autopeças, passa o bastão para outro engenheiro civil liderar a federação representativa do setor que puxa o desenvolvimento de SC. A seguir, leia a entrevista exclusiva que Aguiar concedeu à NSC sobre a gestão de sete anos à frente da Fiesc:
O senhor liderou a Fiesc por 2.554 dias e, pelos resultados apresentados, o reconhecimento nacional da entidade, superou as expectativas. Quais foram, de forma geral, os avanços importantes que marcaram esse período?
– Foram 2.554 dias muito intensos. A Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina é uma entidade robusta, que atua em várias áreas. A Fiesc congrega sob seu guarda-chuva, o Sesi, o Senai e o IEL (Instituto Euvaldo Lodi). São temas diversos, e cada um exige atenção e apresenta um nível de atividade bastante intenso. Posso dizer que foram dias de muito trabalho, que exigiram bastante da nossa equipe.E esse trabalho foi dividido com os nossos gestores. Eu diria que os principais temas que adotamos seguiram as diretrizes que estabelecemos no início do mandato.
Quais foram essas diretrizes?
– O primeiro objetivo era sermos percebidos pela indústria e pela sociedade como uma entidade de valor. Certamente, a sociedade já tinha, historicamente, uma boa imagem da Fiesc. Mas trabalhamos muito nesse sentido, no reconhecimento da sociedade, especialmente do setor industrial, que é quem nos mantém. Outra diretriz, que dialoga diretamente com o pensamento da indústria, era fazer mais, melhor e com menos. Esse foi um lema que repetimos bastante: prestar mais serviços à indústria, com maior qualidade e menor custo. Isso está no cerne da lógica industrial. Para ser competitiva, a indústria precisa fazer mais, melhor e com menos. E, naturalmente, essa premissa também deveria nortear a entidade que representa o setor industrial.
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Outra diretriz foi a transformação digital, algo que também está no centro do processo inovador pelo qual passam as empresas. Por fim, buscamos nos tornar uma entidade de referência no âmbito da CNI. A Federação das Indústrias e suas casas trabalharam com o objetivo de ser referência dentro da Confederação Nacional da Indústria. Posso dizer que todos esses objetivos foram alcançados e perseguidos com muita dedicação pela nossa equipe.
E com relação à sociedade catarinense, quais foram as pautas destacadas?
– Dentro desse contexto, atuamos firmemente naquilo que é a função essencial do nosso sistema. Qual é a nossa missão? A missão institucional é defender os interesses da indústria. Na atuação institucional, portanto, trabalhamos intensamente na defesa desses interesses. Mas isso acaba fazendo com que o interesse da indústria se confunda com o interesse do estado. Ou, mais amplamente, com o interesse da sociedade como um todo porque não se desenvolve uma boa empresa em um ambiente que não seja amigável e favorável.
Por isso, todas as nossas ações, embora voltadas à indústria, também representavam uma defesa da sociedade catarinense, do estado como um todo. Se observarmos todas as ações relacionadas à infraestrutura, ao meio ambiente e à legislação, percebemos que sempre atuamos em defesa do interesse do Estado. Naturalmente com foco na indústria, mas com reflexos positivos para toda a sociedade.
No âmbito do Sesi, voltamos nossas atenções especialmente à educação ofertada aos jovens. Enfrentamos desafios significativos dentro de um programa chamado Educação 2030, que abrange o período de 2020 a 2030. Esse programa estabeleceu metas e desafios, com os quais nos comprometemos, e dos quais saímos bastante satisfeitos. Também no Sesi, focamos fortemente na saúde e na segurança do trabalhador, investindo no tratamento de saúde e na melhoria dos ambientes de trabalho.
No Senai, o foco foi na capacitação profissional. Como resultado, em 2024, agora entrando em 2025, o Sesi obteve a nota mais alta entre os departamentos regionais, e o Senai foi eleito o melhor do Brasil na área da educação. O Senai de Santa Catarina foi escolhido como o melhor do país. Isso mostra que os desafios lançados no início da gestão culminaram, ao final do mandato, em resultados muito positivos. Com isso, atingimos também nossa meta de sermos uma entidade de referência.
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Hoje, quando se fala no sistema CNI, sempre que se citam bons exemplos e boas práticas, a Fiesc é mencionada. Prova disso é que somos constantemente visitados por outras federações interessadas em conhecer nossas boas práticas. Essa meta também foi atingida. O reconhecimento, a digitalização, praticamente eliminamos o papel aqui dentro, e o objetivo de sermos percebidos como uma entidade de referência pela indústria foram concretizados. E na questão de fazer mais, melhor e com menos, nós reduzimos custos; o faturamento por colaborador aumentou bastante, assim como a produtividade. Dentro dessas diretrizes, podemos afirmar que seguimos um caminho coerente e conquistamos resultados bastante positivos.
E no campo institucional como foi a atuação da Fiesc nesses sete anos?
– No campo institucional, que citei brevemente, também atuamos na manutenção dos incentivos fiscais e na melhoria da infraestrutura de transporte em Santa Catarina. Mantivemos um bom relacionamento com os poderes constituídos. Sempre praticamos a independência e a isenção, mas, quando necessário, criticamos. E, quando cabia, elogiamos. A entidade nunca foi omissa. Sempre que consultados ou diante de temas relevantes, nos posicionamos, trabalhamos e demos respostas. Nossas manifestações sempre foram pautadas nas informações trazidas por nossos vice-presidentes regionais, que nos representam institucionalmente nas 16 regiões em que estamos organizados no Estado.
Então, considerando tudo o que foi feito, as metas da sua gestão foram alcançadas?
– É evidente que sempre esperamos fazer mais, não é? Mas posso dizer o seguinte: aquilo que projetamos, priorizamos e estabelecemos como diretrizes, nós perseguimos e obtivemos resultados muito positivos. Um exemplo claro disso foi na pandemia. A Fiesc, em nenhum momento, fechou as portas. Funcionamos todos os dias durante a pandemia.
Participamos, se não integralmente, ao menos de maneira constante, de todos os protocolos construídos pelo governo. E Santa Catarina se tornou uma referência nesse processo, justamente por conseguir manter a atividade econômica, ainda que em nível mínimo. Elaboramos diversos protocolos ou participamos diretamente deles. Alguns foram totalmente desenvolvidos por nós. E muitos passaram integralmente pelo nosso crivo, pois mantínhamos reuniões diárias com o governo do Estado para tratar dessas questões.
Ajudamos na recuperação de respiradores, algo crucial naquele momento. Atuamos no desenvolvimento e na fabricação desses equipamentos em parceria com empresas catarinenses, que contaram com nosso apoio técnico. Desenvolvemos, por exemplo, no nosso Instituto de Inovação, a válvula, considerada o coração do respirador. Trata-se de uma peça extremamente delicada, técnica e de alta complexidade, que desenvolvemos e fornecemos para as indústrias responsáveis pela produção dos respiradores.
Também enfrentamos, em Santa Catarina, um momento muito difícil, quando o governo estadual foi proibido de realizar aquisições com pagamento antecipado, justamente quando essa era a prática corrente no mercado. Naquele contexto de alta demanda por determinados produtos, os fornecedores só vendiam mediante pagamento antecipado. Devido a um processo de fiscalização, o Estado ficou impedido de fazer esse tipo de pagamento. Assim, muitos produtos necessários ao enfrentamento da pandemia estavam inacessíveis.
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Após uma análise criteriosa, a Fiesc assumiu a responsabilidade: efetuamos a compra, realizamos o pagamento e posteriormente fomos ressarcidos pelo governo do Estado. Talvez poucas pessoas saibam dessa nossa atuação. Mas foi algo importante e, na época, crucial. Pode ser que muitos não se lembrem…
Então, na pandemia, a Fiesc ajudou a salvar vidas quando o governo teve restrições?
– Sim. Quando surgiu aquele escândalo envolvendo o governo do estado, que depois resultou em prisões e processos. O governo estadual foi proibido de fazer pagamentos antecipados. Mas essa era a regra do mercado. Na maioria dos casos, para comprar máscaras ou outros insumos, era preciso pagar antes. Algumas empresas catarinenses até se dispuseram a pagar por conta própria e receber depois do estado. Não sei se efetivaram isso, mas a Fiesc fez.
Lembro, por exemplo, que compramos oxímetros. Verificamos a procedência da empresa, que ficava em Curitiba, analisamos se era estabelecida, se tinha tradição no mercado. Pagamos, recebemos os produtos, entregamos ao governo estadual e fomos ressarcidos. Foi um serviço prestado em um momento extremamente importante e delicado para Santa Catarina, para o Brasil e para o mundo. Além disso, realizamos eventos para identificar como as grandes empresas estavam enfrentando a pandemia — e compartilhamos essas boas práticas com os nossos industriais aqui no Estado, ajudando-os a superar aquele período tão difícil.
A pandemia Covid-19 foi um dos momentos mais difíceis da sua gestão?
– Eu não diria que foi apenas da minha gestão. Foi um dos momentos mais difíceis dos últimos anos da sociedade como um todo. Foi uma situação para a qual ninguém estava preparado, e que ninguém conhecia com profundidade.
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E agora temos outro momento difícil, a taxação dos EUA. Qual é a sua opinião sobre o tarifaço de 50% ao Brasil e como ele pode impactar a indústria de SC?
– Embora houvesse sinais sobre a possibilidade do tarifaço desde o início do mandado de Trump, faltou ao governo brasileiro iniciativa para criar os necessários canais de comunicação com os Estados Unidos. A pesquisa da Fiesc mostrou que o tarifaço terá – e já tem, na verdade – graves impactos para as indústrias catarinenses, como suspensão de pedidos, interrupção de embarques, férias coletivas e possibilidade de demissões.
Além das elevadas tarifas, o alto grau de incerteza e interpretações distintas sobre as regras tem ampliado a insegurança de exportadores catarinenses e de importadores norte-americanos, o que agrava a situação. Um exemplo é o caso dos segmentos de móveis e madeira, que estão na chamada investigação 232. Inicialmente a interpretação predominante era de que estes itens estariam livres da sobretaxa de 40%. Agora as sinalizações que recebemos vão noutra direção.
Caso as tarifas permaneçam elevadas por um período prolongado, há risco real de contração econômica acentuada nas regiões onde estão os setores mais afetados. E é importante lembrar que mesmo setores não afetados diretamente serão prejudicados, pois as cadeias produtivas estão interligadas. Por exemplo: um fabricante de verniz, que vende para uma moveleira terá redução de vendas.
A Fiesc esteve como o vice-presidente Geraldo Alckmin e tem atuado em âmbito nacional junto com a CNI, além do contato permanente com o governo do estado. Criamos um comitê de crise e estamos participando da formulação de políticas para minimizar os efeitos adversos desse adicional de tarifas, buscando preservar a competitividade das empresas e o emprego nas regiões mais afetadas. Sem uma reversão ou mitigação dessas tarifas, o impacto econômico e social nas regiões produtoras, especialmente nos segmentos de móveis e produtos de madeira, será profundo, com risco de perda acelerada de empregos, fechamento de empresas e deterioração da atividade econômica.
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Uma das prioridades da sua gestão foi elevar a competitividade da indústria por meio da inovação. Como foram os resultados nessa área?
– Nós tínhamos metas de fortalecer a inovação. Isso foi muito atingido, sim. Temos os nossos institutos de inovação e de tecnologia. Só para citar um exemplo, nós vencemos recentemente dois editais, no valor total de R$ 380 milhões, destinados aos nossos institutos de inovação, além de outros projetos. Temos uma carteira bastante intensa nessa área. Divulgamos muito isso para que as nossas indústrias pudessem também melhorar seus parques fabris e se sentissem incentivadas a investir em tecnologia. Fizemos investimentos relevantes em nossos laboratórios e na estrutura geral da Fiesc. Nunca houve um investimento tão intenso quanto o dessa gestão: foram mais de R$ 1,5 bilhão.
Esses investimentos superiores a R$ 1,5 bilhão foram os maiores da história da Fiesc em duas gestões?
– Sim. Foram muito focados em melhoria dos ambientes, na construção de novas unidades, substituição e modernização de equipamentos, para atender especialmente nossos laboratórios. Atingimos esse objetivo. E a parte da infraestrutura sempre foi uma pauta importante aqui da casa. É um dos quatro “Is” que sempre tratamos: inovação, infraestrutura, internacionalização e inclusão.
A educação com foco em qualidade, com escolas que ensinam pela metodologia Steam (Ciência, tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) recebeu atenção especial nos investimentos. O que o senhor destaca?
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– A formação dos jovens nos preocupa muito aqui no Estado. Assim que assumimos, a primeira ação foi transferir o ensino médio do Senai para o Sesi. Era a única federação no Brasil com essa configuração. Estabelecemos metas e identificamos melhorias necessárias. Criamos um padrão físico para as escolas, o que ajudou a consolidar um modelo nacional de escola de referência. Adotamos critérios visuais e estruturais comuns, de modo que as pessoas reconhecem uma unidade Sesi/Senai facilmente. Trabalhamos fortemente na qualificação e valorização dos nossos professores, com melhoria de remuneração baseada em reconhecimento.
Também adotamos a metodologia Steam e o ensino bilíngue. Nossas escolas oferecem, por exemplo, 40 horas semanais de aulas em inglês, não de inglês, em inglês. Tudo com metodologia e material didático próprios, que considero de excelente qualidade. Hoje somos a maior rede de ensino privado do estado e temos como meta ser a melhor. Estamos crescendo de forma robusta em número de alunos, com várias escolas em projeto e outras já em execução, tanto do Sesi quanto do Senai.
Temos várias unidades em obras e outras em planejamento. Mas sabemos que não é possível atender a todas as cidades. A indústria catarinense é muito diversificada e distribuída, o que gera um custo elevado. Toda cidade que tem indústria quer ter uma unidade do Sesi ou Senai, mas precisamos concentrar em polos. Mesmo assim, proporcionalmente, somos o Estado com mais unidades do Sesi/Senai por metro quadrado. Claro que São Paulo e Minas Gerais têm mais escolas em números absolutos, mas proporcionalmente somos os líderes.
Essas escolas do Sesi são voltadas ao ensino fundamental com foco em tecnologia. Quem participa?
– As escolas são abertas, mas há grande participação de filhos de trabalhadores da indústria. Nossa expectativa é que muitos desses alunos venham a trabalhar na indústria no futuro. A indústria hoje é um ambiente tecnológico, inovador, desafiador, e que remunera bem. É uma boa carreira ser colaborador da indústria. O aluno pode entrar no ensino fundamental, seguir para o médio, depois fazer um curso técnico e já sair com uma profissão, como ocorre na maioria dos países europeus. Lá, a maior parte dos jovens que saem do ensino médio faz ensino técnico. Somente depois, eventualmente, fazem um curso superior.
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Aqui no Brasil, geralmente se vai direto ao ensino superior, mesmo que boa parte das oportunidades de emprego exija formação técnica. No Brasil, apenas 12% a 13% dos alunos do ensino médio vão para o ensino técnico. O restante vai para a universidade ou simplesmente não continua os estudos. Em países como a Áustria, esse percentual chega a 60% ou 70%.
Outra prioridade da sua gestão foi a internacionalização de empresas catarinenses. Como foi esse trabalho?
– Para a internacionalização, criamos plataformas para ajudar as empresas a entenderem como estavam inseridas, ou como poderiam se inserir no mercado internacional. Houve um incremento expressivo no número de empresas exportadoras graças a esse trabalho. Esse crescimento foi resultado direto da plataforma e do suporte prestado.
Também fizemos o programa Santa Catarina Day, com viagens ao Chile e à Colômbia, que geraram resultados positivos. É um programa interessante.
E na área da inclusão de pessoas no mercado?
– Na área da inclusão, realizamos eventos para ajudar pessoas com deficiência a encontrarem espaço no mercado de trabalho. Queremos mostrar que essas pessoas podem ser produtivas para a sociedade. Criamos uma plataforma que conecta pessoas com deficiência a vagas disponíveis. Elas expõem seus currículos e as empresas podem buscar profissionais adequados, seja para cumprir as cotas legais ou por iniciativa própria.
A plataforma ajuda a mostrar que elas estão dispostas a contratar. Claro que a pessoa com deficiência também precisa querer, estar disposta a trabalhar. Às vezes, não tem condições ou interesse. Mas esse é um trabalho que fizemos, observando a lei, mas principalmente inspirados por esse espírito catarinense de inclusão. A ideia é inserir essas pessoas não só no mercado de trabalho, mas na sociedade.
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Quais são os desafios para a indústria catarinense crescer ainda mais? Falta trabalhadores?
A indústria catarinense tem apresentado crescimento consistente, 7,6% no ano passado e 7,1% nos primeiros meses deste ano, mas enfrenta uma grande dificuldade: a falta de trabalhadores. Há uma carência generalizada de mão de obra em todos os níveis, do chão de fábrica à gestão.
Hoje, o jovem está mais disperso e menos interessado nas carreiras industriais. Diante disso, temos investido em campanhas para atrair esse público para o ambiente industrial, mostrando seus desafios, a remuneração, as oportunidades e a inovação tecnológica presente nesse setor. Ainda assim, a oferta de profissionais está abaixo da demanda.
Quais as projeções para os próximos anos sobre trabalho na indústria de SC?
– Um estudo da CNI indica que, entre 2024 e 2027, precisaremos qualificar e requalificar 950 mil trabalhadores na indústria catarinense. Destes, 800 mil são trabalhadores que já estão na ativa e precisam se requalificar, enquanto 153 mil são novos profissionais que ingressarão no setor.
Por enquanto, as empresas têm optado pela alternativa de contratar imigrantes de outros estados e países. Santa Catarina é hoje um dos estados que mais recebem venezuelanos no Brasil. Há uma empresa, por exemplo, com 48 mil colaboradores, dos quais 8 mil são venezuelanos e 4 mil de outras nacionalidades. Isso representa 25% do total.
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E como a Fiesc tem atuado nesse cenário?
– Apoia ações para acolher e qualificar esses profissionais, especialmente no Oeste, uma região com forte presença de imigrantes. Essa movimentação traz impactos culturais importantes, especialmente em cidades menores, e exige atenção das lideranças locais.
A indústria é um setor que oferece muitas oportunidades de crescimento profissional. O que o senhor gostaria de citar?
– Temos muitos exemplos de ascensão profissional. Dos cinco homenageados com a comenda do Mérito Industrial neste ano pela Fiesc, três foram alunos do Senai. Começaram como operários, se tornaram empreendedores e hoje comandam empresas de destaque nacional e internacional.
A qualidade da infraestrutura foi pauta prioritária na sua gestão. Com a reforma tributária, se torna ainda mais estratégica?
– Sem dúvida. Como a arrecadação vai deixar de ser feita na origem e passará a ocorrer no destino, Santa Catarina, que é um estado exportador, perderá arrecadação. Nesse novo cenário, o diferencial competitivo será o custo logístico. E isso envolve qualidade de estradas, ferrovias, portos e aeroportos.
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A qualidade de infraestrutura ainda é um gargalo em SC. Mesmo com mão de obra qualificada e tecnologia de ponta, uma empresa pode perder competitividade se não conseguir escoar sua produção de forma eficiente. O custo logístico será cada vez mais determinante.
Um desafio, que é a oferta de gás natural, foi solucionado com o terminal de gás liquefeito?
– O Estado consome mais gás do que o volume máximo fornecido pelo Gasbol (2 milhões de m³ por dia). Já atingimos 2,5 milhões em momentos de pico. Como alternativa, foi implantado um sistema flutuante de regaseificação na Baía da Babitonga, com um navio tanque que armazena gás derivado do petróleo. Apesar de estar operando com capacidade reduzida, essa estrutura é uma segurança estratégica, principalmente para setores como cerâmica e vidro.
E quais são os planos pessoais do senhor para o futuro, após a presidência da Fiesc?
Quero tirar um período sabático e fazer viagens de carro pela América do Sul, além de passar um tempo na praia, algo que nunca fiz (risos). Depois disso, pretendo apoiar meus filhos na gestão da empresa da família e desenvolver um novo negócio.









