Uma das surpresas da COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontece na Escócia, foi o anúncio, nesta terça-feira, da adesão do Brasil à meta de redução das emissões de gás metano em 30% até 2030. O país também anunciou no evento a sua nova meta de redução de emissões de CO2 em 50% até 2030 e acompanha os debates sobre crédito de carbono, um mercado que deve ganhar lei nacional em breve. A adesão à limitação do metano é mais uma oportunidade do que ameaça para Santa Catarina, avalia o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia, Airton Kunz.
Continua depois da publicidade
Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp
Isso porque o Estado é grande produtor de suínos e de aves, cujos efluentes processados em biodigestores podem gerar biogás para energia e biometano para gás veicular, explica ele, ao destacar que esse potencial tem sido chamado carinhosamente de “pré-sal caipira”. A geração de metano pelos animais ruminantes, principalmente os bovinos, é maior do que por suínos. No Brasil, quem pesquisa a redução de emissão por fermentação entérica (pelo aparelho digestivo dos animais) são as unidades da Embrapa que trabalham com bovino, como a Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos-SP).
Conforme Airton Kunz, dados do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) em relatório publicado em 2020 sobre as estimativas anuais das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, considerando-se agropecuária brasileira grande parte das emissões são provenientes da fermentação entérica de bovinos que responde por cerca de 60 % das emissões de metano.
No mundo, dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que a agropecuária responde por cerca de 40% das emissões de metano e, desses 40 pontos percentuais, 29 correspondem a emissão entérica de ruminantes. As fontes de outras origens, principalmente industriais, respondem por 60% das emissões globais desse gás.
Continua depois da publicidade

A Embrapa Suínos e Aves detém tecnologias para fornecer ao setor produtivo nessas áreas de biodigestor para geração de biogás, energia, biometano e também orienta para soluções com base em potencial de territórios. Para viabilidade econômica, em alguns casos, pode ser melhor um projeto que une efluentes da produção pecuária com um aterro sanitário urbano e um aterro industrial, por exemplo.
– O biogás é um gás produzido pela degradação de matéria orgânica por um processo na ausência de oxigênio. Ele é composto principalmente por metano. Depende do processo, mas 60% é metano. O resto é CO2. O biometano é o biogás purificado. A gente purifica o biogás para mais de 90% para que ele possa ser usado como biocombustível conforme exigências da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Nesse caso, ele fica com características iguais às do gás natural veicular (GNV) – explica Airton Kunz.
Conforme o pesquisador, a Embrapa Concórdia tem o mais completo e avançado laboratório para pesquisas em biogás na América Latina para resíduos agropecuários e agrodindustriais, (o laboratório de estudos em biogás). O padrão é igual ao dos melhores laboratórios do mundo, como na Alemanha. Desde 2018, tem a unidade experimental que produz biometano, conhecido como biogasfort, para abastecimento de um veículo convertido a GNV da sua frota de veículos.
Tecnologias da estatal de pesquisa são aplicadas em uma propriedade modelo, a Granja São Rogue em Videira, SC, conhecido como projeto SISTRATES que alia geração e uso de biogás para geração de energia elétrica a partir de resíduos da suinocultura
Continua depois da publicidade
Evento sobre o tema
Essa adesão do Brasil à redução de emissão de metano aconteceu um dia antes de um dos eventos importantes da comunidade científica sobre o tema. Começou nesta quarta-feira e vai até sexta o VII Sigera – Evento da Sociedade Brasileira dos Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Industrial. É um seminário internacional, virtual, por adesão.
 
				 
                                    