Você sabe qual era a fruta preferida da Princesa Isabel? Cambucá, a jabuticaba amarela gigante nativa do Brasil. Foi com essa e outras informações sobre a riqueza da flora brasileira, que tem a maior diversidade do mundo – mais de 50 mil plantas – que o paisagista Ricardo Cardim justificou o movimento que lidera no país de trazer a flora nativa para o urbanismo. Ele participou neste sábado do lançamento do projeto D/Yard, edifício da Dimas Construções, no Centro de Florianópolis, que adotará essa tendência em projeto assinado por ele.
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– Quando eu trago uma vegetação pensada não só de forma decorativa, mas multifuncional, onde eu coloco essa vegetação como uma máquina de qualidade de vida, de saúde pública e bem-estar das pessoas, eu estou mudando a cidade – explicou Cardim, após citar os exemplos da transformação da Champs-Élysées, em Paris, e da High Line, de Nova York, que fazem esses regates de vegetação nativa.
O paisagista destacou que atualmente, 90% das plantas usadas na arquitetura e decoração do Brasil são nativas de outros países. Isso não valoriza a brasilidade e afasta a fauna local.
– Um trechinho de mil metros quadrados da Mata Atlântica, pode ter 144 espécies diferenciadas, enquanto na Europa, só 5% das florestas nativas têm mais do que seis espécies de árvores numa área assim. Então, a gente não está falando de algo que é parecido. A gente fala de algo que é completamente discrepante – compara ele.
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O projeto criado por Cardin para o prédio no Centro de Florianópolis, terá plantas nativas nas fachadas; na entrada terá dois araçás pitanga, árvore da Mata Atlântica que tem casca dourada; e na área permeável do terreno terá uma florestinha de palmito juçara para trazer a fauna. Na cobertura, onde ficará a área comum com piscina, estarão vegetações da restinga de Florianópolis.

Outro diferencial do emprendimeot será um café no térreo para proporcionar área de convivência porque a rua Antenor de Mesquita, atualmente, é eminentemente residencial, explica o diretor da Dimas Construções, Daniel Dimas da Silva. Internamente, o edifício terá escada atrativa para incentivar uso e a construção será adaptável a pessoas com dificuldade de mobilidade.
– Nossos novos projetos reforçam princípios em torno da biofilia, como iluminação e ventilação naturais. Teremos uma fachada com vegetação em todo o prédio, uma verticalização verde – afirmou Daniel Dimas, que prevê a adoção do princípio da biofilia também no empreendimento que a empresa fará no bairro João Paulo, onde hoje é o Hotel Maria do Mar.
Mestre em botânica pela Universidade de São Paulo, com graduação em odontologia, Ricardo Cardim utiliza, há anos, a flora brasileira em projetos paisagísticos. Conta que no começo tinha dificuldade em conseguir as árvores, mas desenvolveu uma cadeia de fornecedores que hoje conseguem suprir a demanda. O escritório dele desenvolve projetos do Norte ao Sul do país com essas características.
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Cardim disse também que em março está previsto o lançamento do livro que está escrevendo há sete anos, intitulado Paisagismo sustentável para o Brasil: integrando a natureza e a humanidade no Século XXI. É uma obra com mais de 700 referências bibliográficas com o objetivo de trazer um caminho para as áreas verdes construídas no país.
Para ele, um dos desafios para as cidades brasileiras deixarem de ser selvas de pedra e ficarem mais belas é resgatar o uso de plantas nativas no urbanismo. Questionado pela coluna sobre qual seria a cidade ideal, ele associou o passado com o presente.
– A cidade ideal para mim é aquela em que eu estou na minha casa, seguro, confortável, com toda essa tecnologia que a gente demorou centenas de ano para conquistar, mas eu vejo da janela um tucano comendo uma fruta nativa e me sinto parte da natureza mesmo com todo o conforto que tenho – revelou.