Um dos países com economia forte e elevado índice de desenvolvimento humano, a Noruega tem no Brasil o seu principal parceiro econômico na América Latina. Atualmente, conta com cerca de 230 empresas com unidades no Brasil e o plano é ampliar negócios, com ênfase em preservação ambiental e tecnologia.

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A informação é da cônsul do país no Brasil, Mai Tonheim, que fez palestra dia 24, em Florianópolis, no evento ESG Summit Brazil, sobre “Desafios e oportunidades da agenda econômica global e a importância da cooperação internacional no ano da COP30”.

Segundo ela, o governo da Noruega acaba de apresentar plano estratégico de desenvolvimento com o Brasil, denominado ‘Parcerias para um futuro comum’. Destaca os pilares da democracia, cooperação industrial e comercial, clima e conhecimento. Recentemente, os dois países também acabaram com a bitributação. Saiba mas na entrevista a seguir da cônsul May Tonhein.

O que o Brasil ofereceu em troca pelo bacalhau da Noruega

A Noruega é, historicamente, reconhecida como o país do bacalhau. Foi com esse produto que começaram as relações comerciais com o Brasil?
– Sim. Foi a origem da relação entre o Brasil e a Noruega. O primeiro navio norueguês chegou ao Rio de Janeiro em 1842. Chamava-se Nordstjerne. Em português, “Estrela do Norte”. Foi o início do comércio entre os dois países. Esse navio trouxe bacalhau da Noruega. Depois, os noruegueses começaram a comprar café do Brasil. O café brasileiro era muito importante. A partir daí, a relação foi se desenvolvendo. Vieram o gás, o petróleo, o setor de energia, o setor marítimo…

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Agora, estamos entrando em uma nova fase, voltada à energia renovável e à transição verde. Isso será muito importante. A Noruega quer ser parceira do Brasil nessa mudança fundamental de transição energética. Temos mais de 230 empresas atuando no Brasil. Já estamos bem estabelecidos aqui. Mas queremos aprofundar ainda mais essa parceria.

Muitas empresas norueguesas têm tecnologias muito procuradas, muito demandadas. Principalmente na área de software, por exemplo. São tecnologias que o mercado brasileiro deseja. E nós podemos desenvolver ainda mais essa cooperação.

Você mencionou um novo plano da Noruega com o Brasil na área econômica. Um projeto para aproximar ainda mais as economias dos dois países. Que plano é esse?

– O plano denominado “Parceria para um futuro comum” foi lançado no mês passado, em Oslo, na Noruega, com a presença de autoridades brasileiras como representantes do Itamaraty, o embaixador do Brasil no país, além de ministros noruegueses. Essa é uma estratégia da Noruega. Não é algo feito em conjunto, mas, claro, buscamos formas de seguir cooperando com o Brasil.

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O plano tem quatro pilares principais. O primeiro é a defesa da democracia e da ordem mundial baseada em regras. Isso é crucial para o futuro. Envolve esforços de resolução de conflitos, diálogo e trabalho conjunto em instituições multilaterais para encontrar soluções comuns.

O segundo pilar é a cooperação industrial e comercial. Como expliquei, o Brasil é o parceiro mais importante da Noruega na América Latina. É aqui que temos o maior volume de investimentos fora da Europa e dos Estados Unidos.

O terceiro pilar é voltado ao clima, ao meio ambiente e à segurança alimentar. E o quarto e último é a cooperação em conhecimento, inovação e digitalização.

Por que esse plano para o Brasil contou com a participação de diversos ministérios noruegueses?

Isso é muito relevante. Essa estratégia não foi elaborada apenas pelo Ministério das Relações Exteriores. Tivemos a participação de sete outros ministérios, da Energia, da Educação, da Pesquisa, do Clima, entre outros. Isso mostra o papel importante que o Brasil tem para a Noruega. Essa relação envolve muitas áreas: relações internacionais, clima, floresta, energia…

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O Ministério do Comércio também esteve envolvido. Educação, inovação, tecnologia, tudo isso tem um papel fundamental. Estamos muito felizes que essa estratégia tenha sido construída com tanta cooperação dentro da Noruega.

Quais são as principais empresas norueguesas estabelecidas aqui no Brasil?

– Temos uma variedade, né? Temos as maiores empresas norueguesas, como a Statkraft, como a Equinor, Norsk Hydro, Yara e, também, a Newton que estão estabelecidas aqui no Brasil. Mas existem várias que são de dimensões menores também, médias e pequenas também. Algumas podem ter apenas um representante aqui. Mas também temos os casos da Equinor e da Statkraft, com centenas de funcionários.

Mas nós estamos muito bem envolvidos em várias áreas aqui no Brasil. E ainda temos oportunidades para crescer. Então, o Brasil, como eu mencionei, é uma potência na questão da energia renovável. É muito interessante essa posição que o Brasil tem. Tem muitos recursos: petróleo, gás, solar, eólica, biometano…

Você falou também da transição verde. Como pretendem trabalhar conjuntamente com o Brasil nessa área?

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– Nas áreas que são possíveis de ter energia renovável, o Brasil está presente em todas. Todas as possibilidades estão abertas para o Brasil. E isso é raro. É raro que um país tenha tantos recursos, tantas oportunidades como o Brasil tem. Então, para o mundo, a energia é fundamental. E também precisamos lidar com isso… Com o clima, proteger, atender a meta de Paris, né? Então,  por isso queremos trabalhar junto com o Brasil na transição energética.

A Noruega é um dos países convidados para a COP30. Como será essa participação?
– Participaremos da COP30 como delegação oficial da Noruega. Teremos também um pavilhão com algumas empresas norueguesas na área de exposições durante o evento. Nossa delegação do Ministério do Clima também estará presente.

Durante a sua palestra no ESG Summit Brazil você falou sobre o Fundo Amazônia, no qual a Noruega investe. É um valor alto, US$ 1 bilhão ou mais para o Fundo Amazônia. Como são utilizados esses recursos?
Esse valor é acumulado desde 2008. Vai para o Fundo Amazônia, que é administrado pelo BNDES. É o BNDES quem seleciona os projetos que vão receber apoio, projetos com o objetivo de reduzir o desmatamento. A Noruega não é a única doadora, mas é a maior contribuidora do Fundo Amazônia. Também há contribuições da Alemanha, dos Estados Unidos… Mas a Noruega é, de fato, a maior doadora.

Para quem quer fazer negócios com a Noruega pode procurar quais instituições?
– Nós temos no nosso consulado-geral no Rio de Janeiro o Team Norway. Nosso time inclui a Innovation Norway (Inovação Noruega), uma equipe que vem diretamente da Noruega e que está aqui justamente para apoiar os negócios entre o Brasil e a Noruega na área da inovação. Temos também o Conselho de Pesca, responsável pelo bacalhau. Agora podemos trazer também salmão e outros produtos do mar para o Brasil.

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Há, ainda a Norwep, que é a Norwegian Energy Partners. Temos a Abran (Associação de Armadores Noruegueses), que representa o setor de navegação, e a NBCC, a Norwegian-Brazilian Chamber of Commerce, a Câmara de Comércio Noruega-Brasil. Então, é possível entrar em contato com qualquer um desses canais. Estamos muito felizes em estar cada vez mais envolvidos com o Brasil. Temos também a embaixada em Brasília, que é nossa principal base no país.

A Noruega e o Brasil firmaram um acordo na área fiscal. Pode explicar do que se trata esse acordo?
Havia uma questão de taxa de importação dobrada entre os dois países. Então a Noruega firmou um acordo com o governo brasileiro para reduzir essas taxas. Foi um ganho enorme porque tudo o que exportamos e importamos hoje, entre Noruega e Brasil, tem uma taxa diferente. É o Double Taxation Agreement, o Acordo de Dupla Tributação.

Então, os dois países eliminaram a dupla tributação?
– Agora temos um acordo para evitar a dupla tributação entre Brasil e Noruega. Isso ajuda muito tanto as empresas norueguesas no Brasil quanto as empresas brasileiras na Noruega. Facilita também o comércio entre os países.

E beneficia pessoas físicas que vivem fora do país de origem, que não precisam mais pagar imposto de renda nos dois países. Antes, se um norueguês morasse no Brasil, teria que pagar imposto aqui e na Noruega. Com esse acordo, isso deixa de ser necessário. E a medida também se estende às empresas. Ficou tudo muito mais simples. E agradecemos aos nossos parceiros do lado brasileiro por terem atualizado essa legislação. Ela entrou em vigor em 1º de janeiro deste ano. É bem recente.