Não bastasse todos os desafios das turbulências causadas pelas tarifas de Donald Trump e pela transição energética no setor de veículos, o governo federal decidiu interferir na gestão da multinacional Tupy, de Joinville, uma das indústrias icônicas de Santa Catarina e fornecedora relevante de autopeças para o mercado global de grandes veículos. Como o BNDESPAR e a Previ têm o controle acionário (53,03% das ações) da Tupy, o governo federal decidiu indicar o economista e diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Luchesi, para suceder o engenheiro Fernado Rizzo, ´presidente da empresa desde abril de 2018.
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A informação da troca de presidente foi antecipada pelo Valor Econômico nesta terça-feira. Segundo o portal, a mudança será anunciada na convocação para assembleia de acionistas da próxima segunda-feira. A notícia sobre o plano de troca também repercutiu em outros veículos da área econômica e é apontada como mais uma interferência política do governo numa empresa que requer gestão totalmente técnica. As ações da Tupy caíram quase 7% nesta terça-feira em função da informação da mudança.
Veja fotos antigas e atuais da Tupy, multinacional de Joinville
Desde 1995, o BNDESPAR detém 28,19% das ações ordinárias da Tupy e a Previ, fundo de pensão dos empregados do Banco do Brasil, 24,84%. Mas esse não foi motivo até há dois anos para governos interferirem na empresa, que passou por ajustes e nos últimos anos virou uma multinacional pujante, com fábricas em diversos países.
A multinacional fechou 2023 com receita líquida de vendas de R$ 11,4 bilhões, 12% maior do que a do ano anterior. O lucro líquido alcançou R$ 517 milhões, com crescimento de 3% frente ao ano anterior. Além do crescimento orgânico, a Tupy avançou com aquisições. Adquiriu a Teksid, braço de fundidos da Fiat com várias fábricas no mundo e, no ano passado, concluiu a aquisição da MWM no Brasil.
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Fundada em 1938 em Joinville por imigrantes alemães, a empresa é referência no seu setor e um tipo de empresa que não para, ou seja, é “inquebrável”. Isso em função do perfil dos produtos que faz, principalmente blocos e cabeçotes de motores. Isso porque um projeto de um caminhão novo demora cerca de quatro anos para ser executado e segue em produção durante uma década ou mais. Então, esse produto tem que seguir sendo fabricado, mesmo se a empresa está endividada, no vermelho.
Foi por isso que a Tupy, em dificuldades financeiras em 1995, foi socorrida pelos fundos de pensão e o BNDES. Mas foi sendo arrumada a partir de 2003, quando o ex-presidente da Previ, Luiz Tarquínio Sardinha Ferro, assumiu a presidência por 15 anos, até 2018. E na atual gestão, ela acelerou atuação global.
A Tupy é uma indústria de bens de capital, essencial para os setores em que atua, totalmente voltada à indústria e tecnologia. Por isso, é importante que ela siga seu curso sem interferências políticas, tendo diretoria e conselhos com perfil técnico, com conhecimento dos setores em que ela atua. Agora, está fazendo um esforço para avançar em motores sustentáveis, movidos a biogás ou biodiesel.
Quando o governo indicou os ministros Anielle Franco e Carlos Lupi para o conselho de administração da companhia, nos bastidores do meio empresarial catarinense a decisão política foi considerada “loucura”.
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Daí o governo indicou mais Vinícius Marques de Carvalho da Controladoria Geral da União. E, agora, vem uma sugestão para um novo presidente que, embora tenha um bom currículo, nunca comandou uma empresa, ainda mais com peculiaridades assim.
A Tupy já vem sofrendo, desde o segundo semestre do ano passado, queda nas vendas nos países desenvolvidos em função da menor demanda na Europa e do risco Donald Trump, que agora se acentuou. São grandes desafios que podem ser enfrentados com muito mais capacidade por um gestor técnico de carreira como Fernando Rizzo, que entrou na empresa como estagiário.
Até porque governos são curtos. O atual mandato de Lula vai terminar em menos de dois anos. Só para comparar, se um projeto com a Tupy demora quatro anos e ele não for reeleito, significa que o mandado do novo presidente da empresa pode ser insuficiente para lançar um novo motor de caminhão. Isso mostra que tanto em futebol, quanto em determinadas empresas, mexer em time que está ganhando não é o melhor caminho.
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