Nunca as águas do Itajaí-Açu carregaram tanto barro como neste verão nas regiões de Blumenau e Rio do Sul. A frequência do desabastecimento causado por excesso de turbidez nas estações de tratamento da Casan e do Samae é sem precedentes. Os municípios respondem à situação tratando dos sintomas, mas ignoram a origem de um problema grave que se tornou crônico.

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No Alto Vale, a população convive com torneiras secas há mais de duas semanas. O prefeito de Rio do Sul, José Thomé (PSD), ameaçou multar a Casan acusando falta de investimentos no tratamento de água. A companhia estatal acionou caminhões-pipa e pediu aos moradores que economizem.

Barro eleva turbidez da água e afeta abastecimento para 15 mil pessoas no Alto Vale

Em Blumenau, o Samae decretou situação de alerta e anunciou que fiscalizará o desperdício contumaz de água por cidadãos que lavam calçadas, telhados e carros. São medidas emergenciais, mas paliativas.

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No longo prazo, ambas as companhias de água planejam ampliações milionárias em estações de tratamento. Segundo o superintendente regional da Casan no Vale do Itajaí, Rangel Barbosa, uma nova estação projetada para Rio do Sul e região será capaz de produzir 700 litros de água por segundo, o dobro da atual. Haverá um reservatório com capacidade para 13 milhões de litros de água, o suficiente para abastecer toda Rio do Sul por um dia inteiro. As obras devem começar em 2023.

Blumenau tem um projeto para quase duplicar a Estação de Tratamento de Água (ETA) 2, na Rua Bahia, que abastece 70% da cidade. O investimento previsto é superior a R$ 100 milhões, incluindo uma mudança no ponto de captação da água do Itajaí-Açu e a construção de um reservatório para 10 milhões de litros de água.

Água turva em Blumenau é problema que nem obra será capaz de resolver

Em ambos os casos, haverá mais espaço e equipamentos para decantar e filtrar detritos. Quando for necessário reduzir a produção por causa da turbidez, o impacto à população será menor, mas não eliminado.

Técnicos das duas empresas públicas admitem que há limite para resolver o problema com tecnologia. Rio do Sul registrou neste ano a inédita turbidez de 13 mil NTUs. Em geral, sempre que o índice supera 1 mil NTUs, a capacidade de produção das estações de tratamento é afetada.

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Tamanha concentração de barro exigiria a construção de uma megaestrutura de tratamento, com capacidade que ficaria ociosa no restante do ano. O custo gerado à tarifa paga pelos consumidores seria inviável.

Barro no Itajaí-Açu

A questão deixada de lado nos discursos dos prefeitos é de onde vem tanta terra misturada à água. O Rio Itajaí-Açu tem naturalmente aspecto terroso na época de chuvas, mas nunca os índices de turbidez foram tão sensíveis a qualquer trovoada à montante.

A explicação óbvia é a redução gradativa da cobertura vegetal em encostas, margens de rios e ribeirões. Quando chove, o barro exposto assoreia os cursos d’água. De lá, vai parar nos decantadores das estações de tratamento.

Num vale com tamanha riqueza hídrica, deixar faltar água para necessidades básicas dos seres humanos é um despautério. A turbidez tornou-se assunto estratégico, de sobrevivência para as gerações futuras. Exige articulação ampla de municípios para conciliar atividades econômicas como construção civil e agricultura à proteção da bacia hidrográfica.

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Décadas de ocupação descontrolada do solo não serão resolvidas apenas com obras e punição a cidadãos irresponsáveis.

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