Em algum momento da vida escolar, toda criança de Blumenau é convidada a abrir as gavetinhas da coleção de borboletas depositada no interior do Museu de Ecologia Fritz Müller, na Rua Itajaí. Parte da diversão é não saber se surgirão bichinhos coloridos ou besouros assustadores a cada compartimento trazido à luz.
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Trata-se da experiência mais interativa que a antiga casa do naturalista oferece. Talvez por isso, ao menos para mim, o nome dele sempre esteve relacionado ao passeio da escola e àquelas gavetas — mesmo que nunca tenham pertencido à família, foram doadas ao museu bem depois.
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O amigo de Charles Darwin, o Príncipe dos Observadores, o Sábio, o Doutor Müller… Ouve-se falar muito do velho Fritz na cidade e no Estado, mas sempre em contornos heróicos que pouco ajudam a compreender, de fato, o sujeito que completa 200 anos nesta quinta-feira (31). Ele é tratado como um monumento, e não um antepassado humanamente singular.
Fritz viveu e trabalhou em Blumenau e Florianópolis, mas visitou e tem conexões importantes com a região de Rancho Queimado e Águas Mornas, com os campos de Curitibanos, com o Planalto Norte, em São Bento do Sul, com a região portuária de São Francisco do Sul, com a praia de Armação da Piedade, em Governador Celso Ramos… É um personagem estadual, de fato, mas desconhecido da maioria dos catarinenses.
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Em 2007, o escritor, cronista e professor Maicon Tenfen publicou um texto no Jornal de Santa Catarina questionando por que a estátua de Fritz Müller, na Rua São Paulo, calçava sapatos. Era uma provocação sobre quem, afinal, Blumenau queria homenagear: o verdadeiro Fritz ou aquele que gostaria que ele fosse? Dez anos mais tarde, quando procurava um personagem para escrever uma biografia, lembrei do texto do Maicon. E encontrei muito mais do que sapatos contradizendo a estátua.
O especial Caminhos de Fritz Müller, publicado aqui no Santa e, entre 28 e 31 de março, na NSC TV, apresenta uma parte dessa pesquisa, que continua e só deve ser concluída em 2023 para publicação em livro.
> Acesse o especial Caminhos de Fritz Müller
Voluntários
As pessoas que atuam na preservação da memória de Fritz Müller em Santa Catarina são, na maioria, voluntárias. Gente como o ambientalista Lauro Bacca e o empresário Marcos Schroeder, presidente do Instituto Histórico de Blumenau. Como o médico neurologista Cezar Zillig, cujo trabalho popularizou a relação com Charles Darwin, e o também médico e biólogo paulista Luiz Roberto Fontes, tradutor de Für Darwin. A historiadora Ana Maria Moraes, de tanto pesquisar, fala de Fritz como alguém da família.
A divulgação que o cientista tem hoje em Florianópolis é fruto do empenho, iniciado há mais de uma década, dos professores Margherita Barraco e Alberto Lindner, da UFSC. Mais recentemente, do Grupo Desterro Fritz Müller-Charles Darwin 200 Anos.
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Graças a instituições como o Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, em Blumenau, a Biblioteca Pública do Estado, na Capital, e a Universidade de Cambridge, na Inglaterra, entre várias outras, centenas de documentos relacionados ao naturalista continuam preservados. Um trabalho silencioso que permitiu a novas gerações de pesquisadores cavar e traduzir materiais inéditos, ampliando o universo de Fritz aos olhos contemporâneos.
Valorizar o trabalho dessas pessoas e instituições é preciso, assim como profissionalizar e dar continuidade à preservação da memória de Fritz Müller. Universidades, órgãos de fomento da ciência, empresas e órgãos governamentais têm de assumir maior parcela da responsabilidade.
Se uma coleção de borboletas que nem mesmo a ele pertenceu e uma crônica de jornal me conectaram à trajetória de Fritz para sempre, imagine o que toda a celebração desse 2022 e investimentos em ciência inspirados no naturalista poderão produzir no futuro.
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