Santa Catarina é historicamente prejudicada na distribuição de investimentos federais em infraestrutura. O governo Jair Bolsonaro descumpriu promessa ao cortar metade do dinheiro da BR-470 no orçamento. O pacto federativo pode ser tudo, menos justo.

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Todos esses argumentos são verdadeiros. Mas felizmente foram vencidos na discussão sobre o aporte de R$ 350 milhões do Estado em obras federais. Para quem vislumbra um mundo ideal, em que a representação política em Brasília é forte, governantes cumprem o que dizem e os impostos retornam na forma de obras, pode até ser decepcionante. Mas na dura realidade catarinense, a saída encontrada é pragmática e lógica.

Primeiro, porque a situação financeira do Estado só pode ser considerada boa sob as condições proporcionadas pela legislação especial da pandemia de Covid-19. O governo federal despejou dinheiro na saúde, na economia e no caixa dos estados. Então, indiretamente, esse dinheiro vem também de Brasília.

Segundo, porque é racional investir o dinheiro de sobra nas rodovias que gerarão maior resultado imediato na redução de acidentes e de custos com transporte. Tome-se o exemplo da BR-470: de que adianta melhorar o acesso a municípios do interior se o morador dessas cidades continuará encontrando congestionamentos e perigo quando chegar à rodovia federal? É mais inteligente desobstruir primeiro a artéria do que os vasos capilares da infraestrutura.

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Por fim, deve-se levar em conta o impacto econômico da duplicação de uma rodovia que serve a dezenas de municípios e conecta zonas industriais e agrícolas com portos e aeroportos. Basta observar a transformação gradativa por que passam as margens da BR-470 para entender o que está por vir. Mudam as perspectivas de desenvolvimento e de geração de impostos de toda uma região. O dinheiro despendido hoje retornará, ao menos em parte, aos cofres do Estado, que poderá redistribui-lo em obras locais também necessárias.

Embarcar na retórica estéril sobre as crueldades do pacto federativo significaria repetir o erro de 20 anos atrás, quando o discurso fácil contra a cobrança de pedágio anulou o processo de concessão da BR-470 à Ecovale. Quem prefere esperar pelos humores do orçamento de Brasília em nome do bom funcionamento da federação deveria gastar dois minutos imaginando mais duas décadas sem a duplicação.

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