Os 15 mil testes sorológicos adquiridos em maio pela prefeitura de Blumenau no esforço de combate à Covid-19 não são indicados para diagnosticar a doença. O exame para descobrir se um indivíduo está infectado e pode transmitir o novo coronavírus é o RT-PCR, conforme recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. 

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Exames de aplicação rápida podem ser úteis, mas para outra finalidade.

De acordo com estudo publicado no fim de maio pela CDC, e destacado em reportagem do Jornal Nacional no sábado (13), metade dos resultados positivos em testes sorológicos pode estar errada.

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Em Blumenau, testes rápidos vêm sendo aplicados para retirar do atendimento ao público pessoas supostamente infectadas, como motoristas e cobradores de ônibus, entre outras categorias. Foram afastados do trabalho 30 colaboradores da Blumob com resultado positivo. Mas há sérias dúvidas sobre o índice de acerto desse procedimento.

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Para o secretário de Saúde, Winnetou Krambeck, falsos positivos não preocupam. Zelo em excesso não faz mal, afinal.

Mas tem outro problema: o teste rápido (chamado assim porque fica pronto em meia hora) é, na verdade, lento para produzir diagnóstico. Ele não acusa o vírus em si, mas os anticorpos produzidos em resposta pelo sistema imunológico do paciente. Estes só começam a ser detectados a partir da segunda semana de infecção. Mas há casos em que aparecem apenas na terceira. Nesse meio tempo, a chance de alguém infectado testar negativo (enquanto contagia outras pessoas) é real.

Leia também: Cresce número de transplantes feitos no Hospital Santa Isabel, em Blumenau, mesmo em meio à Covid-19

O Ministério da Saúde não se pronuncia sobre o assunto desde 17 de abril, quando indicou exames sorológicos para testar profissionais de saúde.

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“Independentemente se o seu teste for positivo ou negativo, os resultados não confirmam se você pode ou não transmitir o vírus que causa a Covid-19”, diz o órgão do governo norte-americano.

Certeza mesmo, só com a testagem RT-PCR, que também é aplicada em Blumenau, em pacientes com sintomas e indicação médica. Custa mais caro, entretanto. Enquanto cada kit de teste rápido saiu por menos de R$ 80, um exame RT-PCR custa cerca de R$ 200.

Krambeck explica que o objetivo ao comprar testes sorológicos foi “aumentar a janela” de diagnóstico, isso porque o exame RT-PCR só é eficaz nos primeiros dias de infecção. E diz que o diagnóstico nunca é feito somente com base no resultado do teste:

— Falso negativo pode ser evitado com análise clínica do paciente, a clínica médica é soberana.

Há previsão para a compra de mais 15 mil testes rápidos e 10 mil RT-PCR ainda em junho.

Estatística duvidosa

Apesar das limitações dos testes sorológicos, a prefeitura de Blumenau inclui os resultados nas estatísticas municipais de casos. Assim, o gráfico de detecções empinou e o município ultrapassou, no domingo (14) a marca de 1.100 infectados (428 em tratamento). A Secretaria de Estado da Saúde informa 786 casos em Blumenau.

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Winnetou Krambeck informou que os procedimentos podem ser revistos caso haja indicação das autoridades de saúde.

Quando o teste rápido é útil

Joinville comprou 12 mil kits de exames sorológicos. Porém, lá eles serão aplicados em um levantamento que pretende descobrir qual parcela da população já teve contato com o vírus. Mesmo procedimento da pesquisa nacional que vem sendo executada pela Universidade Federal de Pelotas em 90 cidades, incluindo Blumenau.

É para este fim que os testes rápidos são indicados: produzir estatísticas que suportam as decisões governamentais.

Para diagnosticar a Covid-19 e evitar que pessoas doentes circulem em locais públicos, não.

Nota de esclarecimento da prefeitura

A respeito da publicação feita no blog, a prefeitura emitiu uma nota de esclarecimento no fim da manhã desta segunda-feira (15). Confira:

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A prefeitura de Blumenau, por meio da Secretaria de Promoção da Saúde (Semus) esclarece que não há fundamento na afirmação do jornalista Evandro de Assis, publicada no Portal NSC Total, de que “Testes rápidos comprados por Blumenau não são indicados para diagnóstico da Covid-19”, se não for seguida de uma longa e embasada explicação científica e médica que a contextualize.

Mesmo antes da aquisição dos testes, durante o período do pregão e do processo administrativo envolvido, a Prefeitura já havia se certificado de que a empresa fornecedora, que ganhou o processo, estava de acordo com as exigências legais necessárias, determinadas pelo órgão maior no país que envolve Vigilância em Saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O produto está registrado e com registro ativo sob número 81914040001, e a empresa detentora do registro é a Una Medic importação e exportação, conforme documento da própria Agência, na página 10 da publicação “Acurácia dos testes diagnósticos registrados na ANVISA para a COVID-19”, de maio de 2020.

Prezando pela eficiência, previamente ao início da testagem com trabalhadores da Blumob, e com os públicos indicados, torno de 35 pessoas que tiveram diagnóstico positivo de Coronavírus por meio RT-PCR, realizaram o teste o teste rápido (dentro da janela imunológica da indicação de 8 dias ou mais). Destes, cerca de 80% apresentaram resultado positivo para IG-M, que é a indicação de que o corpo já teve contato com o vírus.

Semanalmente são publicados em nível mundial, pelos mais diversos tipos de instituições, inúmeros e variados estudos que vem tentando explicar o mecanismo atuação do vírus, formas de transmissão, de combate, entre outras abordagens, na busca por mais definições, caminhos e melhores práticas em saúde e prevenção. Diante do cenário atual tão volátil, e de diversas incertezas científicas, basear-se em um único estudo é, no mínimo, leviano. O estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos é importante, precisa ser considerado, mas não é o único.

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É necessário neste momento, escolher uma linha de atuação em prol da população, e não alarmista infundada. É o que Blumenau tem feito, com reavaliações constantes sempre que necessário, com fundamento em instituições como Ministério da Saúde, Anvisa e Organização Mundial da Saúde, órgãos que ainda são balizadores da política de saúde. Ainda, a Secretaria de Promoção da Saúde tem desde março uma comissão formada por profissionais da área, e com suporte de para afins de gestão e estatística, que realiza reuniões periódicas e avalia publicação sobre o assunto e embasa decisões gerenciais.

Destaques do NSC Total