Em 2001, era uma espécie de “repórter setorista” de Guga na CBN Diário e na antiga TVCom. Apesar de não viajar para cobrir os torneios, a minha responsabilidade era saber tudo sobre os passos de Guga no circuito mundial. Passei a exercer essa função, entre outras, de 1998 para 1999.
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Portanto, em 2001, eu já tinha muito conhecimento acumulado sobre regras do circuito, histórico do tênis, jogadores da época, possíveis adversários e cenários. Virei um especialista em Guga no circuito.
Sendo assim, poderia dizer sem nenhum receio que GUGA era “o cara” para Roland Garros naquele ano. Era o mais forte tenista e mais regular no saibro, e ainda estava muito bem nas quadras duras. Vivia seu melhor momento e era muito TEMIDO no piso vermelho pelos rivais.
Na minha visão, Guga só poderia perder aquele Roland Garros para três outros concorrentes. O russo Marat Safin, o australiano Lleyton Hewitt, que não era muito especialista em saibro, mas incomodava demais o catarinense, e para o espanhol Juan Carlos Ferrero – este último, o principal concorrente.
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Era uma época que Guga parecia jogar em outra rotação em relação aos adversários. Parecia flutuar em quadra, mesmo no piso lento de saibro.
A zebra Michael Russell
Como previsto, Guga passeou em quadra nas três rodadas iniciais. Perdeu apenas um set. E o próximo adversário era um “zé ninguém”. O americano Michel Russell não seria barreira para o caminho de Guga. Era o domingo que abria a segunda semana do torneio. O jogo começou cedo no nosso horário. E ninguém acreditava no que estava acontecendo. Nem eu, que fazia uma espécie de acompanhamento da partida, nos estúdios da rádio, informando as parciais e os detalhes do jogo.
Russell fazia aquilo que mais incomodava Guga: devolvia tudo no fundo da quadra. E Guga batia e batia, mas a bola voltava. O tênis é muito mental e isso vai desgastando qualquer jogador. Guga precisava achar uma bola, um caminho. Precisava fazer o americano duvidar que poderia vencer. Foi o que aconteceu quando salvou os match-points dele no terceiro set.
Conhecendo Guga, sabia que ali era o caminho. O jogo estava ganho. A virada viria. É o que Guga relata no seu livro. A partir daquele momento era só fazer o básico, que as coisas estavam de volta ao seu lugar. Guga era o campeão em quadra e Russell o tal “zé ninguém”. Ele teve a chance e não aproveitou. Guga cresceu e se tornou imparável.
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Os dois jogos do título
A final sempre é “o jogo”, mas neste Roland Garros a conquista veio nas vitórias sobre o russo Yevgeny Kafelnikov, por 3 x 1 nas quartas, e na semifinal contra o fortíssimo concorrente Juan Carlos Ferrero por 3 x 0. Kafelnikov era uma espécie de carimbo de passagem para o título em Paris. Desta vez o jogo foi mais fácil que em 1997 e em 2000, o que já era um grande sinal. Veio a história das “esquerdas de Picasso”, elogio dado pelo próprio Kafelnikov ao Guga.
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Antes da semifinal lembro de ter comentado nos corredores da rádio “Guga vai atropelar o Ferrero”. Era uma sensação que tinha por uma espécie de Déjà vu. Ferrero havia derrotado Guga na final de Roma por 3 x 2, semanas antes de Roland Garros. Como fez Magnus Norman, o sueco, no ano anterior. Só que Roland Garros era território de Guga. Ali ele mandava. Em 2000 deu o troco em Norman. E dito e feito: em 2001 devolveu para Ferrero a derrota, com 3 x 0 num jogo de pancadaria do início ao fim. Guga sufocou Ferrero.
Corretja era freguês
Com Marat Safin caindo na terceira rodada, Lleyton Hewitt perdendo nas quartas para Ferrero, a final era seria contra o espanhol Alex Corretja. Ele era um excelente jogador, um dos melhores no saibro, mas seu jogo não casava pra ele com o estilo de Guga. Antes da final de Roland Garros 2001, os dois jogaram quatro partidas importantes recentes no saibro. Duas semifinais e uma quartas-de-final em Roma, e um jogo de Copa Davis na Espanha, e Guga ganhou todas sem ceder nenhum set.
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Corretja até desanimava nos jogos. Não conseguia colocar o seu tênis. O quadro se repetiria naquela final. Guga perdeu o primeiro set, mas só por causa das condições. Ventava muito em quadra e o catarinense estava incomodado com isso. Mas depois que se encontrou, foi um passeio, com direito a 6/0 no quarto e último set.
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A única frustração que fiquei foi ter que sair no meio da transmissão que fizemos na CBN Diário. Fiz junto com Mário Motta os dois primeiros sets, mas tive que sair porque tinha que fazer o provão do MEC. Isso mesmo. Como um recém-formado em jornalismo (2000 na UFSC) tinha que, pelas regras daquela época, fazer o provão para validar meu diploma. E a prova estava marcada justamente para aquele domingo. Fazer o quê, né! Perdi o grande momento, mas Guga cumpriu o seu destino, que era ser TRI em Roland Garros.
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