Já faz algum tempo, eu estava lançando meu livro “O poder do eu te amo” em uma escola no interior do Rio Grande do Sul, respondendo perguntas da plateia formada por adolescentes. Os jovens de hoje em dia podem ter todos os problemas que os jovens de hoje em dia têm (ou seja, todos os problemas que nós tínhamos quando éramos adolescentes e mais alguns), mas se tem uma coisa que gosto neles é que são honestos. Uma menina, por exemplo, levantou a mão e na frente de todo o auditório contou sobre como foi difícil pra mãe dela continuar a amando depois que ela descobriu que era gay. Outro jovem perguntou se dizer “eu te amo” excessivamente para as pessoas não poderia espantá-las.

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Fiquei muito surpreendido com a vulnerabilidade e sinceridade das perguntas. Não lembro dessa honestidade na minha época de jovem. Escondíamos nossos sentimentos de nós mesmos, ainda mais dos outros, ainda mais de estranhos, ainda mais de um auditório lotado em um lançamento de livro. Palmas para esses jovens corajosos. Jovens de hoje em dia dão sua opinião sem querer agradar o interlocutor. Para alguns adultos isso pode parecer falta de educação, mas acredito que seja uma autoconsciência mais profunda. Todo mundo deveria ser assim.

O evento ia bem até que um jovem levantou a mão e fez a seguinte pergunta: “o que você considera mais poderoso? O amor ou o ódio?”. Da mesma forma que considerei as perguntas anteriores interessantes e sinceras, essa veio com uma carga de honestidade bastante desconcertante. O público ficou em silêncio, as pessoas no palco ficaram em silêncio, eu fiquei em silêncio, pensando na resposta. O ódio é, sem dúvida, um força monumental. O ódio pelo diferente promove genocídios ao redor do mundo, conflitos, massacres. O ódio mata, destrói, quebra laços que duravam anos, movimenta dinheiro em guerras intermináveis. Qual é mais poderoso? O amor ou o ódio?

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“É claro que é o amor”, eu disse. “O ódio é barulhento e está todos os dias nas manchetes. Os conflitos e o morticínio estará todos os dias na abertura dos jornais, na indignação das redes sociais. Mas o ódio chama atenção porque ele é raro, assustador e perigoso”, eu disse. “Acredito que, enquanto isso, o amor opera em silêncio. O amor é calmo e resiliente. Espalhado.  O amor se manifesta nas milhares de vaquinhas, rifas e apoios que vemos se espalhar nas crises mais assustadoras. Opera de forma discreta, na honestidade das histórias que algumas pessoas contaram aqui. Na vontade que a gente tem de ficar junto, ouvindo uns aos outros. Nas pessoas que vamos encontrar quando voltarmos pra casa. Nos nossos sonhos. Aqueles que temos quando dormimos e aqueles que temos quando estamos acordados. E se o amor morre aqui, renasce outro dia em uma maternidade”.

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