Suspensas nesta semana, as atividades da Cristal Blumenau serão encerradas. O presidente da empresa, Ednaldo Machado, fez contato nesta manhã de sexta-feira com o blog para informar que a reunião marcada para segunda-feira entre direção e representantes dos trabalhadores apenas irá definir com serão feitas as rescisões dos cerca de 150 funcionários que atuavam na fabricante de copos e taças de cristal. O executivo fala em uma possibilidade de desligamento coletivo, o que poderia acelerar o acesso dos colaboradores ao seguro-desemprego.
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Machado também corrigiu informação publicada anteriormente pelo blog, ressaltando que os funcionários chegaram a se apresentar para o trabalho na data marcada para o reinício das atividades. No entanto, informados da decisão da empresa de suspender as atividades, foram para casa.
A situação da Cristal Blumenau já era difícil há muito tempo. O encerramento das atividades foi cogitado internamente no início de 2016, mas a direção acabou sendo convencida a dar uma última chance para o cristal. Sob o comando de Ednaldo Machado, que é sommelier de cervejas, a empresa começou a produzir copos e taças personalizados para cervejarias. A estratégia permitiu um pequeno suspiro e garantiu sobrevida à companhia por mais alguns meses.
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Os custos da operação, no entanto, continuaram crescendo – só a mão de obra, essencialmente artesanal, demanda 70% das despesas – e a empresa já vinha parcelando salários. A concorrência com produtos importados da China e do Leste Europeu era desleal e a Cristal Blumenau não tinha margem para aumentar preço no mercado.
Para agravar a situação, fornos quebraram ao longo do último ano, reduzindo a produção e, como consequência, a entrada de receitas – um baque de pelo menos R$ 1 milhão, calcula Machado.
— A gente não suportou o tamanho das contas com o faturamento que vinha tendo — lamenta.
A Cristal Blumenau fecha as portas devendo dois salários, 13º e demais direitos trabalhistas atrasados. Há informações de que o fornecimento de gás que gerava energia para os fornos já foi cortado nesta sexta-feira.
O sindicato dos trabalhadores move ações contra a empresa cobrando o não depósito de FGTS. Fala-se em uma dívida “milionária” e “impagável”, embora os valores exatos ainda não sejam conhecidos. Machado admite, no entanto, que “não se justificaria” injetar tanto dinheiro em uma nova tentativa de salvar o negócio, como chegou a se ventilar na quinta-feira.
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Blumenau, que já teve em copos e taças de cristal dois de seus principais produtos turísticos, mobilizando compradores de todo o Brasil que vinham à cidade em busca das peças – algo que ainda acontecia, em menor na escala, na loja de fábrica da empresa –, fica órfã nesse segmento e deixa mais uma leva de talentosos artesãos à deriva. Outra companhia tradicional do ramo, a Strauss, fechou em 2016.
Nas redes sociais, pipocaram relatos de trabalhadores e cervejeiros lamentando mais um trágico desfecho de uma tradicional empresa blumenauense. Neste caso, uma perda dupla por se tratar de uma tão rara e bela arte.
