Sérgio Tomio se tornou figura conhecida nos meios empresarial e político de Blumenau pela incansável luta, testemunhada pela coluna, para manter de pé o Entra21, programa que oferece cursos gratuitos de tecnologia e informática a jovens de baixa renda. Nas últimas semanas, porém, ele encarou uma batalha muito mais dura do que a romaria anual em busca de verba para garantir a sobrevivência da iniciativa que já formou 4,5 mil pessoas desde 2006.

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Acometido pela Covid-19, Tomio precisou ser internado em um leito de terapia intensiva. Foram 25 dias de permanência em uma UTI do Hospital Santa Catarina, 10 deles intubado. Pouco depois de receber alta, na última terça-feira (20), o empresário compartilhou parte da sua experiência com a doença em um impactante texto publicado nas redes sociais (leia a íntegra no final desta postagem).

“Conheci o medo da morte e ultrapassei a fronteira da realidade, passando a viver em um mundo paralelo que meu cérebro construiu, o que dificultou ainda mais a tarefa de médicos e família”, escreveu.

“Ganhei a chance que poucos tiveram, de viver, e não quero desperdiçar. Quero poder aprender com o que vivi e ser uma pessoa melhor”, acrescentou.

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Tomio não exagera na comparação e ao reconhecer o privilégio. No mês passado a rede BBC divulgou dados inéditos de uma pesquisa que revelou que 8 em cada 10 pacientes intubados por Covid-19 morreram no Brasil em 2020. O alarmante índice de 80% é resultado da análise de 163,2 mil internações de pacientes entre agosto e dezembro. Os dados foram obtidos junto ao Ministério da Saúde.

Severa, a doença costuma deixar sequelas aos que necessitam de hospitalização. Tomio diz ter perdido mais de 20 quilos durante a internação. Na publicação, relatou que já consegue andar sozinho, mas observou também que “pulmão e coração lembram o tempo todo que estão muito fracos e limitados”. Uma caminhada de poucos passos se tornou um convite à exaustão.

“Estar em uma UTI não é fácil e sair dela requer força de vontade para reaprender coisas que parecem simples, como comer sem mastigar a língua, falar sem parecer estar bêbado, beber água sem engasgar”, confidenciou.

Sérgio Tomio
Empresário celebrou alta na última semana após passar 25 dias na UTI (Foto: Arquivo pessoal)

“Não via perspectiva de sair dali”

Conversei com Tomio no sábado (24). O empresário ainda fala com a voz um pouco embargada, consequência dos dias de internação, e se emociona ao lembrar dos dias difíceis que passou preso a uma cama de hospital.

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Nada nele indicava o desenvolvimento de um quadro crítico de Covid-19. Aos 58 anos, Tomio não tem qualquer tipo de comorbidade. A rotina profissional, dividida entre a própria empresa, a ProWay, e as agendas públicas para tratar do Entra21, era intercalada por idas frequentes à academia, corridas na rua e voltas de bicicleta.

— Eu não era um atleta, mas tinha bom condicionamento — garante.

Cuidadoso com as regras de prevenção, o empresário não faz ideia de onde foi contaminado, mas descobriu logo a força do vírus. O resultado positivo do teste foi seguido por um quadro de febre entre 39 e 40 graus, fortes dores de cabeça e falta de ar que o impediam até mesmo de caminhar direito. Como muitas pessoas, imaginava que isso jamais aconteceria com ele.

Não levou muito tempo até a entrada no hospital se transformar em um passaporte para a UTI, na segunda quinzena de março. A internação, a primeira de uma vida até então sem histórico hospitalar relevante, foi ainda mais angustiante por outro fator: ele se sentia consciente em boa parte do tempo, momentos que descreve como “um terror” onde as horas não passavam.

— Ficava desesperado porque não via fim naquilo e não via perspectiva de sair dali — lembra.

A dedicação da equipe médica e o carinho de familiares e amigos foram fundamentais no “reset” que Tomio cita na postagem – em dado momento, com a lucidez abalada, ele conta não ter se reconhecido quando “voltou”.

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Já fora do hospital, o empresário está fazendo sessões de fonoaudiologia e fisioterapia e aos poucos volta a ganhar peso. A recuperação, reconhece, será longa, mas ele esbanja confiança. A mais simples das atividades, como se levantar da cama por conta própria, agora é celebrada como uma grande conquista para quem viu a morte de perto e sente que nasceu de novo.

https://www.facebook.com/sergiotomio.proway/posts/1883803015103626

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