A prisão preventiva de Jair Bolsonaro tem tudo para acirrar a disputa pelo espólio do ex-presidente. Detido, declarado inelegível e com a saúde fragilizada, Jair, salvo uma reviravolta digna de cinema – há quem ainda aposte no milagre de uma anistia –, é carta fora do baralho e não estará nas urnas em 2026. Mas isso está longe de significar que o sobrenome Bolsonaro deixará de ter influência nas eleições do ano que vem, seja por aquilo que Jair representa no campo da direita ou pela articulação dos seus herdeiros, de sangue ou não.
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Há muita gente de olho neste capital político e na capacidade que Bolsonaro, mesmo encarcerado e debilitado, tem de transferir votos. Neste cenário, há dois grupos que se destacam. De um lado, está o núcleo familiar diretamente ligado ao ex-presidente – mas que, apesar do grau de parentesco, nem sempre convive em harmonia. A esposa Michelle e os filhos Flávio e Eduardo se colocam ou já foram alçados a uma posição natural de sucessores de Jair na presidência. Carlos, por sua vez, foi escalado para disputar o Senado por Santa Catarina.
Este grupo costuma exigir submissão total ao projeto do ex-presidente, fritando publicamente aliados de primeira hora que eventualmente destoam do discurso. Nomes da direita nacional, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o deputado federal Nikolas Ferreira, já foram acusados por filhos de Bolsonaro de tentarem se descolar da imagem e dos planos de Jair. Em Santa Catarina, as composições para a formação de chapas, em especial ao Senado, já renderam alfinetadas disparadas à deputada estadual campeã de votos, Ana Campagnolo, e até mesmo para o governador Jorginho Mello.
Do outro lado estão políticos que surfaram na onda, ganharam cancha ou deixaram o ostracismo ao se agarrem ao bolsonarismo. Estes estão pisando sobre ovos e enfrentando um dilema: manter a lealdade irrestrita ao líder-mor ou seguir em frente em novos projetos, assumindo o risco de receberem o carimbo de traidores? Muita gente calcula os passos e ainda não tem essa resposta – e provavelmente nem terá por algum tempo.
O que está em jogo não são apenas votos e um legado político, mas a apropriação de uma narrativa cultivada pelo bolsonarismo de uma suposta injustiça e perseguição aos que ousam contestar o “sistema”. Esta deve ser, de novo, uma das pautas centrais das eleições do ano que vem.
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