Apesar de comprometer receitas de dezenas de importantes setores da economia, atingir diretamente 130 das 295 cidades catarinenses que vendem para os Estados Unidos e ameaçar a geração e a manutenção de empregos, o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump a exportações brasileiras, mesmo com uma lista considerável de exceções, não encontrou grande resistência política em Santa Catarina.

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Em um estado de perfil conservador e que se tornou um dos principais redutos bolsonaristas, foi mais conveniente para muitas lideranças usar o episódio para atacar o governo federal, Lula, o STF e o ministro Alexandre de Moraes do que se engajar para reverter ou mitigar os impactos da medida. Não que isso fosse garantia de mudar algo – por que Trump ligaria para a opinião dos catarinenses? –, mas ao menos demonstraria certa empatia com empresas e produtores que fazem girar uma das economias mais diversificadas e competitivas do país.

Chama particularmente a atenção o fato de políticos que se elegeram sob as bandeiras do patriotismo e do liberalismo relativizarem uma intervenção estatal e externa dessa magnitude, independentemente dos motivos alegados. Até porque, sob o viés econômico, o tarifaço não se justifica: a relação comercial com o Brasil é vantajosa para os Estados Unidos, que vendem ao país mais do que compram – a balança comercial, portanto, é superavitária aos americanos.

As cidades de SC que mais exportaram aos EUA em 2025

Como Trump citou, na primeira carta enviada ao Brasil, que considera o ex-presidente Jair Bolsonaro alvo de perseguição, qualquer crítica ao aumento das tarifas passou a ser encarada pela extrema direita como um gesto de traição, e isso explica a “cautela” na análise do assunto de muita gente que deve o mandato a esta turma. Este é um danoso efeito colateral da polarização, que não aceita um debate amplo e aberto ao contraditório.

O discurso bélico alimenta as bases e rende votos, mas costuma ter um preço alto, comprometendo a coerência na defesa dos interesses da sociedade. A reação comedida da maioria dos deputados federais, senadores e do governador Jorginho Mello, aqueles que mais deveriam zelar pelo bem-estar dos catarinenses, sugere que, neste caso, as principais lideranças do Estado ficaram reféns do radicalismo.

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Aposta

Houve quem acreditasse que o tarifaço seria um blefe de Trump. Ao deixar quase 700 produtos brasileiros de fora do decreto que aumentou a alíquota, o presidente americano deu a entender que foi forçado a diminuir o tamanho da aposta.

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