Quando eu joguei a demo de Cyberpunk 2077, algo sobre a história do game me chamou a atenção. Conforme você vai avançando na narrativa, o seu personagem tem acesso às ruas e, com elas, a alguns dos muitos problemas que temos nas cidades: violência, pessoas vivendo sem dignidade, gente sem ter onde morar. Pode me chamar de otimista bobalhona, mas gosto de pensar que, no futuro, nós,como humanidade, poderemos achar uma forma de minimizar essas questões. Só talvez não em 2077, que já tá perto demais.

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Trânsito de carros voadores em Cyberpunk 2077
Até com carros voadores tem trânsito (Foto: Reprodução/Cyberpunk 2077)

Mas logo a gente percebe que o intuito desses games talvez não seja mostrar como vai ser o futuro, mas simfazer um comentário sobre o presente.

Pensei isso esses dias, jogando Mass Effect 2. Já elogiei demais essa série em outro texto e sigo apaixonada pelo game. E tenho mais algo positivo para falar sobre ele: como ele nos faz refletir sobre algumas questões lamentáveis que temos como humanidade em nosso planeta.

Estava a Comandante Ginny Shepard, uma humana, passeando por uma cidade predominantemente asari. As asaris são alienígenas, aquelas mulheres azuis. Duas delas estavam conversando, falando queo pai de uma delas é de outra espécie, um batarian, e, por isso, ela era mais esquentadinha. A que estava fazendo o comentário se autointitulava uma “puro-sangue”, já que o “pai” dela também é uma asari.

Duas alienígenas asari comentam sobre uma terceira
A fofoca está em todos os cantos da galáxia (Foto: Reprodução/Mass Effect Legendary Edition)

Caso você não esteja familiarizado com o jogo, aqui vai um contexto. As asaris têm apenas um sexo e, em um processo complexo, conseguem se reproduzir com outras da mesma espécie ou com um alienígena, seja ele um moço ou uma moça. Esse procedimento envolve a união dos sistemas nervosos dos dois envolvidos. Enfim, melhor não mexer com as asari.

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Mas veja que comentário retrógrado fez a mulher “puro-sangue”, como se o fato do pai da outra ser um batarian fosse a razão de ela ser esquentadinha. Você pode até dizer que “ah, Joana, vai que para uma asari é assim mesmo”. Porém, creio que aqui também temos uma demonstração do jogo fazendo um comentário sobre o mundo real. Afinal, tenho certeza de que você já ouviu uma pessoa falando algo nessa linha sobre outra. Infelizmente.

O contrário também aconteceu. Em outra parte da cidade, outras duas asaris conversavam. Falavam que as “puros-sangues” estavam com os dias contados, que agora as moças procuravam muito mais parceiros alienígenas do que da própria espécie. E as asaris “puras” se acham mais do que as outras. Enfim, mais desigualdade, mais comentários que, no fim, são preconceituosos.

E não é só em jogos futuristas que a gente encontra observações sobre o nosso mundo. Eu buscava em Skyrim uma fuga da realidade, um lugar para viver aventuras medievais, entretanto encontrei também problemas muito contemporâneos.

Na cidade de Riften, você encontra uma argoniana (aquela raça que parece um lagarto) viciada em uma droga chamada skooma. Ela pede que você assassine o traficante dela. E você achando que Skyrim era só fantasia medieval.

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Em outra cidade, Windhelm, o governante local também tem alguns discursos típicos de políticos. Em um deles, ele comenta algo do tipo “Lutamos para fazer a nossa terra grandiosa de novo”. Hmm, acho que já ouvimos alguma coisa parecida por aí, não é mesmo?

Político de Skyrim faz discurso
Make Skyrim great again (Foto: Reprodução/The Elder Scrolls V Skyrim)

Esses paralelos que os games fazem como mundo real podem até, por um momento, tirar o jogador da fantasia do jogo. Porém, é igualmente interessante a reflexão sobre o cotidiano que eles trazem. Dizem que a arte imita e vida, creio que os games também se enquadrem nisso.

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