Passou o Dia Internacional da Mulher e um colega jogador veio me perguntar sugestões de como aumentar a participação das moças em comunidades gamers, seja de eventos ou mesmo em grupos criados para falar sobre esse hobby. Questão complexa, mas resolvi trazer para a coluna até mesmo para refletir um pouco sobre o assunto.
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Esse colega me disse que viu em algum grupo na internet os jogadores sendo muito rudes e horríveis porque alguém mencionou que era o Dia Internacional da Mulher. E disse que se sentiu frustrado porque não conseguiu amenizar a situação.
Sendo bem sincera, não fui ao grupo ver o que estavam falando porque realmente é muito desagradável e ruim para a saúde mental ver pessoas sendo grosseiras. Porém, obriguei-me a parar para pensar sobre isso, sobre o que seria uma solução para aumentar a participação das mulheres.
Eu me lembro de um evento que eu fui, mas há muito tempo atrás. Deve ter sido em 2009. Foi em um shopping de São José, na Grande Florianópolis. Fomos em três, eu, uma amiga e um amigo.
Outra lembrança é que eu e a minha amiga éramos as únicas gurias do evento. Era sobre jogos retrô e tinha um campeonato. No mais, tinham vários videogames antigos. Até apareciam outras meninas no evento, mas iam direto para o tapete do Dance Dance Revolution. Não sei dizer por que foi assim. Até porque nós não fomos discriminadas em nenhum momento no evento.
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Isso foi o que eu disse ser o mais importante ao colega. Para que qualquer tipo de pessoa participe de eventos e comunidades, é preciso que ela se sinta à vontade. Ou, pelo menos, que não seja hostilizada.
Temos um problema pesado na comunidade de jogadores. Tem uma parte que realmente acha que é um hobby só para garotos. Ou pelo menos é o que parece quando você tem um grupo que faz questão de hostilizar as jogadoras.
Quantas histórias você já não ouviu de mulheres que são xingadas em jogos online? De caras que desrespeitam mesmo, assediam ou dizem que não querem jogar com elas? Ou que simplesmente não acreditam que uma moça pode ser uma boa jogadora? Se não está num nível alto e comete algum erro, então é porque é mulher.
Outra situação que acho bizarra e meio absurda é que os times de esports mais famosos são um bando de guris. Não faz sentido nenhum isso. Afinal, a diferença física entre moços e moças não importa para alguém que vai ficar sentado em frente a uma tela. Como também não importa se a pessoa fica em pé ou está em uma cadeira de rodas, ou a cor da pele, ou qualquer coisa desse tipo.
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Entretanto, esses times são bastante homogêneos, o que não faz o menor sentido. De novo temos o problema em que os caras ganham muito mais dinheiro do que as moças. Porém, o esports, como esporte mais novo, deveria agarrar essa chance de aceitar qualquer bom jogador para o seu time e promover essa modalidade como inclusiva. Mas o que a gente vê é a mesma cultura machista de sempre, com bastante histórias de jogadoras e streamers assediadas ou reduzidas ao fato de serem mulheres.
Fica fácil entender que as moças nem sempre se sentem à vontade em um ambiente que, às vezes, mostra-se bem hostil a elas. Eu tive sempre muita sorte nesse quesito e nunca me senti discriminada. Porém, já houve vezes em que quis jogar e todo mundo que estava jogando era guri, e daí achei melhor não ficar insistindo. Porque se eu perdesse o jogo seria porque sou guria, e não porque eu simplesmente perdi. Não quero passar por isso não.
Não entendo a atitude desses bobalhões. Fomos sempre taxados de nerds toscos. Agora o nosso hobby está menos obscuro e era a nossa hora de abraçar todo mundo que quer jogar. Mas daí vem o cara com essa atitude machista. Que diferença faz se quem joga é guri ou guria? Bora todo mundo se divertir junto!
Então meu palpite para trazer mais meninas é, principalmente, proporcionar um ambiente em que elas se sintam bem-vindas e tentar explicar para esses caras que resistem à ideia de compartilhar o hobby com pessoas diferentes deles que não precisa ter medo, que ninguém morde. É importante também remover quem não sabe brincar. A comunidade não pode ser palco para a discriminação e assédio. É simples. É focar na diversão, não importa com quem.
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