Em minha visão um de nossos maiores desafios é dispor da admiração ao sucesso. Vibrar e torcer pelo quanto o outro, que certamente se dedica e é determinado ao seu máximo, consegue ser harmonioso e surfar em seu desequilíbrio uma dose de graça, enquanto se enfrenta.

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A gente deve conhecer a ex-modelo brasileira Ana Claudia Michels – mas se não, vale a pena parar e admirar. Mãe, esposa, linda, ela agora também é médica, formada em outubro de 2019. Coisa mais maravilhosa alguém tão infinita assim. Uau! Boquiaberta fui fuçando naquela energia, pensando no que aprender com ela e nesse infinito de ser multidisciplinar – o que sempre me encantou. Certamente não foi sorte.

Quando dava aula na faculdade tive um aluno que, de forma inocente, atribuiu aos resultados da minha empresa ao dar certo “do nada” – e conversamos muito naquela aula sobre essa pressuposição. Riquíssima chance de uma conversa sobre nossa biografia e do quanto pouca ou nenhuma coisa acontece assim. Quando estamos desprovidos da reflexão sobre se estamos vivendo o caminho da nossa evolução, parte do que nos arma é o desmerecimento do esforço que reside em todo tipo de vitória. Foi sorte. Só que nunca é.

Toda hora me surge um mantra novo e dos meus mais antigos, um que sempre carreguei foi o de que “a sorte só existe para aquele que age”. E toda ação gera, certamente, um bom componente de sacrifício. Quando a gente age, também sofre do gosto bem azedo do erro, mas nossa força, nos mantém firmes, consistentes e depois de tentativas, algumas vergonhas, e alguma dose nova de mais humildade, a gente finalmente acerta uma.

Foi sorte. Só que nunca é.

Quando fiz mestrado conheci um nome que eu só via ser dito pelo pessoal mais intelectual – chegamos a ler alguns artigos da Ayn Rand – mas eu só fui cativada a dar uma olhada extra nela esses dias. Vi um vídeo “dureza” em que ela dizia que o sucesso sofre ataques. Sempre senti que viver o desconforto de ser a pior do melhor time do mundo era um caminho sem volta para minha evolução, e que é mesmo inicialmente incômodo perceber que eu ainda não consigo me equilibrar na prancha em algumas das minhas ondas. Entendi que mirar na forma como gente fera joga (e surfa) é a única e inquestionável maneira de atribuir ao aprendizado a melhor dose de inspiração, sem vaidade, claro – porque conviver com quem é excelente, se não estamos obstinados ao máximo de nós, deve nos gerar todo tipo de despeito e nesse sentido é sempre melhor, como diz a minha mãe, “cortar o topete” e confessar nossa vulnerabilidade.

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Uma das situações mais estranhas que vivi foi quando em entrevista me disseram que é meu privilégio dispor da sorte de “dar conta”. Sem bem entender o que significou aquela comparação entre mim e alguém sem a mesma “sorte” percebi que está em nosso processo defender-se daquilo que nos faz sentir menores. Mas não é a primeira vez que falamos aqui que a comparação é uma criação dolorosa da vida e é a base de todo sofrimento. Inspiração é bem diferente e por isso eu sempre reflito sobre o que e por quem me sinto inspirada a conseguir o melhor de mim, não como aquela pessoa, mas ao lado dela.

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