A massa polar que chegou a Santa Catarina mostra uma estrutura social injusta. Enquanto o setor turístico esquenta e boa parcela da população consegue se proteger agasalhada dentro de casa, os que vivem nas ruas ficam expostos ao rigor do frio. 

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Próximos e visíveis, estes moradores tornam-se mais vulneráveis em suas camas de cimento espalhadas por calçadas, praças, sob marquise. Em Florianópolis seriam 460, de acordo com os números da Secretaria de Assistência Social da prefeitura. Para minimizar o impacto das baixas temperaturas, a Rede Somar Floripa pede doações de cobertores e roupas de inverno.

– Tem gente que evita olhar para uma pessoa maltrapilha, fedida, encardida. Mas contamos com aqueles que trazem uma roupa, um cobertor, uma sopa – conta a mulher que se apresenta como Negra Li.

A conversa parece ter gerado o gosto de pertencimento, e ela quer explicar ‘direitinho’ sobre o nome inspirado na cantora e atriz.

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– Meu nome de guerra é Negra Li. Tem uns amigos que chamam ‘Nega Li’, mas eu não me importo. O que vale é ter amigos, e nós aqui na rua temos muitos amigos – conta ela, que se protege do vento num prédio da Avenida Mauro Ramos, Centro da Capital.

Mas o cenário da população de rua é áspero. Alguns se dizem forçados por situações adversas, outros ser escolha própria viver ao relento.

Há quem alivie a tristeza se encharcando no álcool. É o caso do homem que diz fugir de um casamento segundo ele ‘acabado já no altar’.

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– O que começa errado não tem como dar sorte. Nem era eu ou ela, mas a família dando palpite sobre a vida do casal. Uma coisa eu garanto: sinto falta dos meus filhos, mas pelo menos aqui fora sou um homem livre – diz ele, deitado numa calçada próxima da Vidal Ramos.

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Outros apalpam as decepções se empedrando no crack.

– Bom não é, principalmente para a saúde do corpo. Mas pelo menos por alguns minutos a cabeça da gente se alivia – conclui outro, nas imediações do Terminal Rodoviário Rita Maria.

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Não se deve emitir juízo de valores sobre pessoas nesta situação, lembra o padre Vilson Groh, reconhecido por seu trabalho social e que, a cada aniversário, em abril, costuma comemorar com moradores de rua. Para ele, um ato de comunhão e fortalecimento das relações de compaixão e busca de justiça social:

– Precisamos ser solidários com estes irmãos –  sugere.

Rede Somar pede doações de cobertores e roupas de inverno

Quem quiser ajudar os moradores de rua pode procurar a Somar Floripa, uma rede solidária da Prefeitura de Florianópolis e que conecta os cidadãos às Organizações da Sociedade Civil – OSCs de Florianópolis para realizar trabalhos voluntários de cuidado das pessoas, da comunidade e dos animais. 

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A Somar Floripa está pedindo doações de cobertores e roupas para o frio, as quais podem ser entregues na sede, na Rua Tenente Silveira, número 60, das 9h às 19h. Pelo menos duas entidades credenciadas com a Somar trabalham diretamente com a população de rua.

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Já o serviço de abrigo provisório e temporário municipal Passarela da Cidadania, da Prefeitura de Florianópolis, e que atende em conjunto com voluntários do Somar Floripa e coletivos organizados –  denominado “Rede com a Rua” – promete ficar atento. Em média, neste período de pandemia, atende a cerca de 300 pessoas por dia. Além das quatro refeições diárias, oferece pernoite e higiene pessoal.

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Faltam agasalhos e meias para homens

O programa Resgate Social está priorizando a distribuição de cobertores. De acordo com a coordenadora geral, Cláudia Andrieux, as equipes estão indo ao encontro dos usuários nas ruas e oferecendo o espaço da passarela, pelo menos até o frio diminuir, já quem não todos aceitam o lugar. 

Cláudia conta que em falta agasalhos masculinos e meias, os principais pedidos feitos. Grávidas e pessoas doentes têm vagas disponíveis num hotel. O fone do Resgate Social é (48) 99182.6870 está à disposição para chamados e funciona 24 horas.

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