
Lista
Você sabe de onde vêm nomes como Armação, Naufragados e Campeche?
O que significam os nome das praias de Florianópolis? Algumas têm nomes mais óbvios, claro - como a Praia Mole, batizada em função da areia macia e "molenga"; ou a Barra da Lagoa, que ganhou seu nome por ser o local onde a Lagoa da Conceição (que, na verdade, é uma laguna) desemboca. Mas de onde vêm nomes como Armação, Cacupé, Ingleses, Naufragados?
Listamos nove praias de Florianópolis que têm nomes com origens curiosas. A lista foi elaborada com ajuda do guia de turismo Rodrigo Stüpp, o Guia Manezinho, especializado nas histórias e curiosidades da Capital catarinense.
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A palavra "armação" se refere às armações baleeiras, instalações litorâneas voltadas para a caça às baleias; normalmente compostas de casas para ferramentas de pesca, armazéns para os produtos das baleiras e o engenho de frigir, onde a gordura das baleias é trabalhada. Em Santa Catarina, há várias praias com nomes que levam essa palavra: Armação dos Ganchos, Armação da Piedade, Armação do Pântano do Sul.
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- O óleo de baleia era um produto nobre, enviado até mesmo para a Europa, para uso em iluminação pública - explica Rodrigo. - Parte desse óleo, extraído da gordura da baleia, também era usado na finalização de construções, geralmente públicas. A Catedral de Florianópolis tem o óleo na finalização. O óleo também foi provavelmente usado como liga na construção das fortalezas da Ilha.
Ao lado da Praia da Armação, está a Praia do Matadeiro (foto principal), justamente onde as baleias eram caçadas e mortas - um costume que perdurou, infelizmente, até os anos 1970.
- Por ser uma pequena baía, era para ali que as baleias eram atraídas - conta Rodrigo. - Os filhotes eram caçados, às vezes com dinamite, às vezes com arpões; e as mães vinham atrás dos filhotes e encalhavam, aí eram mortas também. A água ali no Matadeiro às vezes ficava vermelha de sangue.
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Duas situações referentes a naufrágios marcam a história dessa praia; uma área de navegação complicada. A mais antiga data de 1516: foi nessa região que aconteceu o naufrágio dos primeiros europeus que passaram pela Ilha, e que ficaram conhecidos como Náufragos de Solís.
- Juan Díaz de Solís é considerado o descobridor do Rio da Prata - Rodrigo narra. - Ele foi morto no Uruguai; e depois disso três embarcações de sua expedição voltaram para a Europa. Uma delas ficou para trás e naufragou ali na região onde hoje é Naufragados. Entre os Náufragos de Solís estava Aleixo Garcia, considerado o primeiro homem branco a chegar ao Império Inca: ele foi a pé até os Andes, usando uma trilha histórica que começa onde hoje é Palhoça.
O acontecimento que provavelmente batizou a praia, porém, é mais recente: aconteceu por volta de 1750, quando mais de 100 pessoas morreram no naufrágio de um navio de imigrantes açorianos.
A passagem do escritor francês Antoine de Saint Exupery pelo Campeche nos anos 1920 é famosa: ruas com o nome do escritor e do livro são inclusive encontradas no bairro. A história deu origem a uma espécie de lenda sobre o nome da região: Exupery teria começado a chamar o local de "campo de peixes" em francês, o que teria sido abrasileirado pelos locais até chegar à palavra "campeche".
A versão mais realista e mais provável, porém, remete ao pau-campeche, planta com propriedades medicinais e de madeira corante que era encontrada em abundância na Ilha do Campeche - que, por sua vez, batizou a praia.
A praia de maior extensão de Florianópolis é muito associada, claro, ao país africano de mesmo nome - inclusive porque, na região, houve de fato um quilombo.
- Mas na verdade, segundo diz a tradição manezinha, "moçambique" era outro nome dado às tatuíras; aquele bichinho da areia que parece uma baratinha albina cascuda - ri Rodrigo. - E veio daí o nome da praia.
"Sambaqui" vem de "tambaqui", é uma palavra tupi-guarani que se refere a um amontoado de conchas.
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- Os sambaquis são espécies de cemitérios; e Santa Catarina tem alguns dos maiores do Brasil. Joinville, Jaguaruna, São Francisco do Sul, Laguna também têm sambaquis - diz Rodrigo. - Tanto que a gente tem o Museu do Homem do Sambaqui. Os responsáveis por deixar os sambaquis foram nossos primeiros habitantes, que viveram aqui há cerca de seis mil anos.
- "Cacupé" também é uma palavra tupi-guarani, e significa algo como "lugar verde atrás da montanha" - completa o guia. - É como se você olhasse a partir de Santo Antônio de Lisboa para o lugar atrás da montanha, que é Cacupé.
- O nome de Santo Antônio de Lisboa se refere à fé de dona Clara de Avelar, de uma família tradicional da região, muito devota do santo - explica Rodrigo. - Ela colocou dinheiro e doou o terreno para a construção da Igreja de Nossa Senhora das Necessidades, que era o nome da freguesia à época. Foram três freguesias fundadas em torno de 1750. Para haver uma freguesia, precisava haver uma intendência, que era o "braço" da Coroa portuguesa na região; e na época as cidades cresciam em torno da praça da igreja.
Uma embarcação inglesa, possivelmente pirata, naufragou na praia no século XVII, o que rendeu o nome ao bairro: o barco foi encontrado em 1989, na ponta direita da praia, inclusive com louças, ossos, balas de canhão. E existe uma teoria interessante cercando o navio: o de que este seria o barco a bordo do qual os piratas que assassinaram Francisco Dias Velho, fundador do povoado de Nossa Senhora do Desterro, tentaram fugir da Ilha.
O navio a bordo do qual estavam os piratas aportou na Beira-mar Norte, então chamada Praia de Fora, em 1687, sendo expulso por Dias Velho e seus homens. Os piratas, porém, voltaram no meio da madrugada, rendendo a população do povoado e matando Dias Velho.
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