Apesar da produtividade recorde em 2025, rizicultores de Santa Catarina enfrentam forte queda no valor pago pela saca de arroz. Com custos de produção elevados e preços recuando mês a mês, cresce a preocupação sobre a rentabilidade da próxima safra.

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Em Forquilhinha e Meleiro, no Sul do Estado, parte da lavoura do produtor Rodrigo Pasini foi colhida ainda no início da safra. A venda antecipada garantiu fôlego financeiro. Ao longo do ano, porém, o preço da saca de 50 quilos caiu de cerca de R$ 92, em janeiro, para R$ 54 em outubro.

— Comecei a colher em janeiro, numa área plantada mais cedo. Vendi a R$ 100 e depois a R$ 95. Agora, vendi o restante a R$ 50. É metade do valor — afirma.

Segundo a analista de Socioeconômica da Epagri/Cepa, Gláucia Almeida Padrão, o cenário é consequência direta do aumento da oferta interna. Houve produção maior não só em Santa Catarina, mas também no Rio Grande do Sul e em outros países do Mercosul, o que pressionou os preços.

Com o valor atual, cada saca representa um déficit de R$ 25 para o produtor. No total da lavoura, Pasini estima prejuízo de R$ 750 mil.

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O governo federal anunciou recentemente a compra de até 137 mil toneladas de arroz da safra 2024/25, na tentativa de estabilizar o mercado. A medida, porém, não animou produtores e representantes da indústria. Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Arroz de SC, Walmir Rampinelli, os leilões não tiveram efeito.

— O governo lançou alguns leilões, mas não surtiu efeito. A ideia era escoar o produto do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina para o Nordeste, mas lá o comprador sabe que houve uma premiação aqui, então também baixa o preço. Não vai resolver — avalia.

Diante das dificuldades no mercado interno, a exportação aparece como alternativa. Atualmente, apenas 3% a 4% da produção catarinense é enviada ao exterior, principalmente para Venezuela e Peru. A indústria tenta abrir novos destinos, como Israel, em busca de nichos que valorizem o produto.

— Israel quer arroz de alta qualidade, e arroz de alta qualidade só tem no Brasil. Precisamos encontrar esses nichos, como Israel e México, mas seria importante enviar arroz beneficiado, que agrega mais valor — diz Rampinelli.

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Para Gláucia, da Epagri, há potencial de expansão, mas aumentar exportações exige planejamento, acordos bilaterais e consolidação de mercados — um processo que não se resolve no curto prazo.

Enquanto isso, a próxima safra já está em andamento. A maior parte das áreas para 2025/26 foi plantada, e a colheita deve ocorrer no primeiro semestre de 2026, em meio à incerteza.

— Se continuar assim no ano que vem, não sei se vamos conseguir seguir na cadeia — diz Pasini.