Marina Hadlich Uliano de Souza, de 39 anos, é escritora e encanta as ruas do Centro de Florianópolis com sua máquina de escrever portátil, criando histórias com apenas uma palavra. Neste domingo (12), a autora deve levar a ação inovadora para a XV Bienal internacional do Livro de Pernambuco.

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Leitora ávida, Marina publicou seu primeiro livro de contos em 2019. De lá pra cá, a escritora desenvolveu diversos projetos literários na região, como bibliotecas comunitárias, clube de leitura e um projeto com máquina de escrever.

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Toda quarta-feira, na Praça XV no Centro de Florianópolis, Marina cria histórias de uma forma inusitada: com apenas o nome e uma palavra, a autora escreve uma história completa, com começo, meio e fim, totalmente de graça.

— Eu fico na calçada na minha mesa portátil esperando alguém parar, ler a placa “Contos de graça” ou até chamando as pessoas. A pessoa só precisa me falar seu nome e uma palavra de inspiração e então eu crio um conto com começo, meio e fim. Levo cerca de cinco minutos para cada cartão, mas depende muito se a pessoa gosta de conversar durante a produção, antes ou depois. Muita gente para ali só para matar a saudade da máquina de escrever — conta Marina.

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Uma das máquinas portáteis utilizadas por Marina, de aproximadamente cinco quilos, foi um presente o avô. O projeto começou em 2024, após a escritora receber um vídeo que a inspirou.

— Me mandaram um vídeo do cantor Vitor Kley em Nova York, onde ele encontrou uma moça escrevendo poesia na rua em uma máquina de escrever. Eu pensei: eu tenho a máquina e gosto de falar com as pessoas. Vou me desafiar a escrever na hora e usar minha criatividade — relembra a catarinense, que nasceu em Blumenau e atualmente mora em Florianópolis.

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Inspiração e momentos marcantes

Para Marina, a ação é uma forma de incentivar e levar a leitura para diversas pessoas.

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— Escrevo para algumas pessoas que não têm acesso à literatura, são analfabetas ou estão em situação de rua. Minha ideia ali é levar amor e alegria por meio das histórias. A praça é lugar de enxergar o outro, de escutar. Eu sempre leio em voz alta os textos para as pessoas, além da questão da acessibilidade, há uma emoção diferente ao escutar as palavras — afirma.

Segundo a autora, muitos momentos foram marcantes desde o início do projeto.

— Um dos momentos que mais me marcaram foi quando uma mulher, que tinha fugido do norte do país por sofrer violência doméstica e se abrigado na mesma praça que eu escrevo, veio me pedir um cartão com uma história. Hoje ela já tem um novo lar e trabalho e, com certeza, já tem muitas outras novas histórias para contar — conta.

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A escritora relembrou ainda, em conversa com o NSC Total, de um momento marcante envolvendo um presente especial que ganhou enquanto estava na Praça.

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— Não tem como esquecer do dia em que ganhei uma máquina de escrever de um senhor na praça. O Seu Luís me deu uma Hemington azul que adoro. Agora, toda semana, ele volta para me trazer uma balinha. Já são seis máquinas de escrever na minha casa, quatro delas funcionando que revezo na praça — relembra Marina.

Veja o vídeo da escritora

Bienal de Pernambuco

A autora deve realizar um bate-papo no Espaço Conexão Petrobrás, na Bienal de Pernambuco, neste domingo (12) às 16h, com mediação de Fábio Lucas.

Além disso, a escritora deverá autografar sua obra de contos “Mulheres mofadas nas entranhas e nas memórias”, quarto livro da autora, com histórias inspiradoras de mulheres fictícias que retratam a realidade feminina.

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— Esse livro traz histórias que são fictícias, mas poderiam ser reais. São histórias de mulheres que são mães, que se separam, que vivem o luto, relembram infância, sofrem violência, que buscam coragem para serem protagonistas de suas histórias. Todo mundo conhece alguém que passou por isso e, ao ler no livro, vivemos todas essas emoções de uma vez só — afirma.

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Oportunidades e encontros entre leitores

Em conversa com o NSC Total, Marina expressou seu desejo de participar de mais eventos literários em Santa Catarina, que segundo ela, deveria realizar uma Bienal oficial.

— Os escritores estão sempre atrás de eventos ou se reunindo para criar os próprios eventos literários, como forma de apresentar o trabalho desenvolvido e alcançar mais leitores. Com toda certeza Santa Catarina deveria realizar uma Bienal estadual, para mostrar a produção literária local e trazer rodas de conversa. Os leitores estão em todos os lugares, por que não reuni-los num lugar que se torna para eles um parque de diversões? — disse Marina.

— Se você pedir para alguém citar o nome de três autores catarinenses, talvez eles respondam os nomes mais conhecidos e clássicos, que talvez já não vivam mais, enquanto a produção literária contemporânea no estado é gigante. Em Florianópolis, temos muitos autores finalistas de grandes prêmios nacionais, como Prêmio Jabuti, Prêmio São Paulo, por exemplo—

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Para espalhar ainda mais a literatura catarinense, Marina também criou um clube do livro, o Clube de Leitura Ribeirão (@clubedeleituraribeirao), que acontece no Ribeirão da Ilha em uma casa cedida para os encontros presenciais.

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— Nesse clube definimos que vamos ler autores catarinenses ou que residam na região e que possam ser chamados para o debate do seu livro no encontro do clube. Quando não encontramos autores por aqui, lemos outras obras nacionais. O encontro com a presença do autor é muito mais enriquecedor e as pessoas têm se mostrado não só abertas, como contempladoras do trabalho dos autores regionais— disse a escritora.

A reunião do clube acontece uma vez por mês com comidas e público de 20 a 90 anos. O próximo encontro deve acontecer no dia 25 de outubro, com a presença da autora Pâmela Carbonari, de Florianópolis.

Antonietas

Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.

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