O cultivo de oliveiras com foco na produção de azeite de oliva tem ganhado força e se tornado uma aposta importante para um grupo de produtores de Santa Catarina. O Brasil é considerado um mercado importante de consumidores de azeite, mas mais de 99% do volume comercializado no país é importado. Por isso, a atividade é vista com potencial pelo setor agrícola do Estado.
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Segundo a Epagri, o Estado tem por volta de cinco produtores com atuação comercial, em cidades como Campo Erê, Campos Novos e Rancho Queimado. Além disso, há outras propriedades que cultivam oliveiras ainda em caráter experimental. Basicamente todas as áreas têm foco na extração do azeite extravirgem, considerado o tipo de maior qualidade, e não na produção de azeitona em conserva. Números extraoficiais apontam a existência de cerca de 80 hectares destinados ao cultivo de oliveiras em Santa Catarina.
Atualmente, o Rio Grande do Sul é o maior produtor do país e responde por cerca de 75% de tudo que é fabricado no Brasil. A região da Serra da Mantiqueira, entre Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, aparece em seguida como outra área que se destaca na produção nacional de azeite de oliva. Mas Santa Catarina já começa a ocupar espaço entre os principais estados produtores, e se inspira na experiência gaúcha para buscar o mesmo sucesso.
O engenheiro agrônomo Jester Macedo e a esposa Patrícia Macedo são um exemplo de produtores que apostam no potencial do azeite de oliva catarinense. Em busca de uma atividade que pudesse dar aproveitamento às terras da família, na localidade de Taquaras, a 15 quilômetros do Centro de Rancho Queimado, na Grande Florianópolis, o casal teve a ideia após assistir a uma reportagem de TV a experiência bem-sucedida da produção de azeite de oliva no Rio Grande do Sul.
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Macedo fez contato com um produtor gaúcho, visitou a propriedade em busca de dicas e voltou de lá com as primeiras 700 mudas de oliveiras encomendas. O primeiro plantio ocorreu em 2011, mas as oliveiras demoram pelo menos quatro anos para começar a dar frutos. A primeira safra comercial ocorreu em 2019. Hoje, a propriedade tem cerca de 3 mil pés da planta em uma área cultivada de 10 hectares, além de uma máquina industrial que extrai o óleo das azeitonas.
Nesta semana, o casal concluiu a colheita da quinta safra. A expectativa é de chegar a 10 toneladas de azeitonas colhidas e 1 mil litros de azeite produzidos. O resultado representa uma alta de 40% em relação ao ano anterior.
Macedo acredita que ocorre no ramo do azeite de oliva um fenômeno parecido ao registrado com as cervejas artesanais e o vinho, em que o consumidor passou a conhecer mais os processos de fabricação, qualificar o paladar e optar por marcas e variedades de mais qualidade.
— É completamente possível ter um produto de excelente qualidade [em Santa Catarina], para competir com qualquer azeite do mundo. Isso mostra o resultado que os azeites brasileiros têm obtido em concursos internacionais, inclusive o nosso. A tendência é que cada vez mais se expanda essa cultura aqui em SC e no Brasil — afirma.
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Turismo de oliveiras em SC
O olival do casal Jester e Patrícia Macedo também tem apostado em outra área derivada do cultivo de azeitonas: o chamado olivoturismo. Aos fins de semana, os produtores abrem a agenda para receber visitantes interessados em conhecer como são produzidos os azeites de oliva e degustar as variedades feitas em Rancho Queimado. Turmas de até 25 pessoas passam o dia na propriedade assistindo à colheita, à extração do óleo e conhecendo as diferenças de sabores e características.
O resultado já faz os empreendedores até mesmo planejarem a construção de um novo espaço voltado à visitação.
— Tem sido uma experiência única. Os visitantes saem surpreendidos com esse mundo do azeite. É uma oportunidade de disseminar o conhecimento sobre o universo do azeite que é muito amplo e pouco conhecido. Com essas visitas, conseguimos também desmistificar muitos mitos sobre o azeite de oliva extravirgem — conta Patrícia, que também é sommelière.
O engenheiro agrônomo e professor de Agronomia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alberto Fontanella Brighenti, compara o perfil dos apreciadores de azeite com o dos amantes de vinhos. Nos dois casos, os consumidores gostam de conhecer melhor os detalhes da produção e viver experiências relacionadas aos itens gastronômicos. Mais do que isso, entre os produtores a aposta é de que essa estratégia também ajuda a educar o consumidor, mostrando as diferenças entre os tipos de — azeites e formando novos entusiastas dos produtos.
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— Há potencial também no turismo. Uma vez que essa cultura se estabeleça, você começa a “educar” o consumidor. Falei com um produtor esses dias e ele comentou: “Meu azeite é caro, mas depois que as pessoas começam a provar, elas não voltam para outro”. Então, imagino que o Brasil, pelas limitações climáticas, nunca vai ser igual a Portugal, à Espanha, que é a maior produtora do mundo, em termos de área plantada, mas a gente vai conseguir se destacar em uma linha mais qualitativa — afirma.
SC retoma investida na produção de azeite
A tentativa de cultivo de oliveiras em SC não é exatamente uma novidade. Em 2005, um projeto liderado pela Epagri desenvolveu pesquisas e testes para a nova atividade agrícola no Estado. A iniciativa, no entanto, estagnou depois que alguns participantes tiveram resultados abaixo do esperado nos primeiros anos. Nos últimos 10 anos, novos produtores iniciaram uma nova investida no ramo do azeite.
O produtor Marcos Matias Roman, de Campo Erê, começou a cultivar oliveiras justamente na época dos primeiros testes, em 2007. Foi nos últimos anos, no entanto, que ele passou a investir com mais esperança na atividade. Em 2014, fez o primeiro plantio e, dois anos mais tarde, o segundo. Investiu em um equipamento para produzir o óleo – um dos requisitos para que o azeite seja classificado como extravirgem e tenha frescor é que a extração ocorra após a colheita das azeitonas.
Atualmente, Roman tem 18 hectares de oliveiras. As duas primeiras safras comerciais ocorreram em 2022 e 2023. Em cada um destes dois anos, produziu cerca de 1,1 mil litros de azeite de oliva. Ele considera que a atividade tem potencial no Estado, e diz que a produtividade por área cultivada registrada em testes chegou a ser até 10 vezes maior do que na Europa. No entanto, pondera que é preciso de apoio do poder público, com profissionais como bioquímicos e agrônomos, para avançar e repetir o sucesso de outras espécies.
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— Santa Catarina não produzia nada de maçã há 30 anos. Hoje a maçã de SC é exportada — compara.
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Desafios para o cultivo em SC
O clima é um fator preponderante para o sucesso do cultivo de oliveiras. A maior parte das regiões do Estado não é fria o suficiente para que as plantas floresçam. Na Serra, a região catarinense em que o inverno é mais generoso, é a geada que, às vezes, se torna um problema, por danificar os pés nos primeiros anos de vida.
Com isso, a solução passou a ser optar por regiões intermediárias, onde há microclimas frios, mas risco menor de problemas meteorológicos como geada e granizo.
O engenheiro agrônomo e professor da UFSC, Alberto Fontanella Brighenti, participa de um projeto liderado pela Embrapa que busca justamente mapear quais as dificuldades para o cultivo em SC e apresentar soluções. A iniciativa também pretende coletar amostras dos azeites produzidos em SC e fazer avaliações sensoriais, mapeando as características de cada rolo em quesitos como cor, aroma e sabor:
— A ideia é começar um trabalho para tentar entender melhor questões como clima e solo, onde tem mais dificuldade e como se pode resolver esses problemas.
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Apesar das peculiaridades de clima e solo, o pesquisador da Epagri, Eduardo Brugnara, afirma que Santa Catarina prima por produzir um azeite de qualidade, o que garante melhores valores de venda.
A azeitóloga e sommelière de azeites de oliva, Ana Beloto, que acompanha etapas de produção do óleo desde o campo até o uso na gastronomia, reconhece que Santa Catarina tem despontado como um novo estado produtor, assim como Bahia e Espírito Santo. Ela observa que o consumo do óleo no país tem saído de períodos sazonais, como Páscoa e Natal, e se tornado mais versátil.
Ana lembra que ao consumir o azeite é importante ter em mente que se está diante de um suco de fruta, e que por isso, ter produção em áreas próximas é uma vantagem.
— Algo muito particular nosso é que a gente tem azeites frescos disponíveis no mercado e com uma agilidade e uma rapidez de logística dos produtores. Então, a gente consegue aqui ter na nossa mesa um azeite com o máximo de aroma e sabor, que é o que a gente quer de um suco de uma fruta — explica.
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Assista ao vídeo sobre a produção de azeite de oliva em SC
Como é feito o azeite de oliva
- O plantio de oliveiras em SC normalmente é feito em outubro, mês com menor incidência de chuvas. A partir daí, a planta inicia uma fase de crescimento que pode durar de 10 a 12 anos. A partir do terceiro ano, no entanto, ela já começa a produzir frutos
- A planta floresce no inverno, a partir de julho, e amadurece até fevereiro – período em que inicia a colheita
- Para produzir um litro de azeite de oliva, são necessários por volta de 10 quilos de azeitonas. Em geral, as espécies voltadas à extração de azeite são menores do que as destinadas a consumo em conserva. No mundo, há cerca 2 mil variedades diferentes de azeitonas, o que interfere também no sabor dos azeites
- Na propriedade de Jester e Patrícia, os frutos são colhidos de forma manual, apenas com o auxílio de derriçadeiras, que ajudam a “chacoalhar” os pés para coletar as azeitonas
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- Em seguida, as azeitonas são recolhidas e levadas para o “lagar” — nome dado ao espaço em que são processadas para a extração do azeite. O equipamento executa basicamente três etapas: a trituração das azeitonas, a passagem por uma espécie de batedeira horizontal e a centrifugação, que ajuda a separar o óleo de eventuais pedaços sólidos restantes dos frutos
- Na sequência, o azeite é transferido a tanques para decantação e, posteriormente, para armazenagem. O produto é envasado em garrafas de vidro escuras, importantes para proteger da luminosidade e preservar as características originais do líquido
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