A pequena Dandara nasceu em julho. É pequena mesmo: no nascimento, pesava apenas 450 gramas. Dandara é prematura, de 24 semanas, e recebe tratamento na Maternidade Carmela Dutra, em Florianópolis, unidade referência em gestação de alto risco. Ela é a menor bebê a nascer e sobreviver na maternidade.

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Nesta sexta-feira (17) é o Dia Mundial da Prematuridade, data para lembrar dos desafios de um bebê prematuro, para ele, mãe, pai, profissionais de saúde e hospitais que prestam assistência.

Desafio este que a mãe de Dandara, Ana Maria Santos da Silva, 36 anos, conhece bem. Ela enfrentou uma gestação de risco, teve hipertensão e diabetes gestacional. No dia 27 de julho, um susto: devido a um descolamento de placenta, precisou passar por uma cesárea de urgência. Os riscos de um parto tão prematuro exigiram um cuidado extremo da equipe, principalmente nas primeiras 72 horas de vida da bebê.

Com uma equipe reduzida e o mínimo de manuseio possível, além de minuciosos cuidados de temperatura e frequência cardíaca e respiratória, o trabalho foi bem-sucedido. Dandara venceu esse período crítico, e pode estar em contato físico com a mãe.

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— Logo quando eu tive ela, não tinha ideia do que era esse mundo da prematuridade. É muito difícil você ter o bebê e não poder levar para casa. O que mais me doía era isso. Só que eu tive muito apoio aqui, as meninas sempre me acolheram muito bem e todos os dias eu ouvia uma coisa boa, por mais que tivesse algo ruim no quadro dela. Pra mim é desafiador. Todo dia é uma surpresa. Mas eu sempre tive esperança — conta Ana Maria, emocionada.

Desafio para a família

A rotina é intensa. Ana Maria chega às 7h na maternidade para acompanhar de perto o cuidado com a filha. Fica o máximo de tempo possível com Dandara no colo, um processo que se repete diariamente.

Quando não está no contato pele a pele, Dandara fica em uma incubadora híbrida, que vira berço e é utilizada pelos prematuros extremos. A cada três horas ela é alimentada por uma sonda nasogástrica, com o leite disponibilizado pela maternidade, sob gestão da Secretaria de Estado da Saúde.

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A bebê também utiliza um CPAP nasal específico para prematuros, um equipamento que dá suporte na respiração, auxiliando no transporte de oxigênio para os pulmões. Isso, uma boa nutrição, controle de infecção e atendimento humanizado, ajudam no bom resultado e sobrevida das crianças internadas na Unidade Neonatal.

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Desde o nascimento, com todos os cuidados e o colo da mãe, Dandara já pesa 1,5 quilo, aos 110 dias de vida.

— Meu Deus, eu sou muito feliz de ter minha filha, independente de como ela nasceu. Foi bem difícil os primeiros dias. Mas estou muito ansiosa para levar ela para casa, agora que ela tá ganhando um peso —, reforça Ana Maria.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, a bebê deve continuar internada na Carmela Dutra até atingir o peso ideal e condições de saúde para a alta hospitalar.

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Prematuros exigem cuidados redobrados

Na Maternidade Carmela Dutra, 10% dos nascimentos entre janeiro e novembro de 2023 foram prematuros. O atendimento humanizado é fundamental na assistência dos prematuros e de suas mães, conforme diz a médica neonatologista Luciana Pizzolo Weinhold, chefe da Unidade Neonatal.

— Isso começa desde o pré-natal, na Unidade de Gestação de Alto Risco. Muitas delas internam na nossa unidade com risco de nascimento prematuro e desde esse momento, as acolhemos — explica.

No parto, o prematuro é sempre atendido pelo neonatologista, acompanhado de um pediatra e uma enfermeira. Após o nascimento, os bebês são levados para a Unidade Neonatal onde, dependendo de peso e idade gestacional, irão para uma incubadora ou para um berço aquecido. Os prematuros extremos, entre 24 e 28 semanas, são os que demandam maior preocupação, porque têm maiores riscos, em especial os que têm menos de um quilo.

— As primeiras 72 horas são as mais críticas e exigem dedicação extrema da equipe. Passado esse tempo, é feito o primeiro contato do bebê com a mãe, o que chamamos de posição canguru, que é o bebê acolhido pele a pele com sua mãe. É importante frisar que pai e mãe não são visitas, o acesso deles é ilimitado e podem estar presentes 24 horas com seus filhos na UTI — reforça.

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Para auxiliar este processo, a maternidade tem um banco de leite, com 150 litros pasteurizados, oferecidos aos bebês da Unidade Neonatal.

A equipe para atendimento ao recém-nascido prematuro conta com médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, técnicos, psicólogos e serviço social. A enfermagem é a equipe que está 24 horas atuando com os pequenos, seja verificando equipamentos, ou auxiliando na troca de fraldas.

— Nosso cuidado é especializado e sempre de forma humanizada. A Dandara nasceu muito pequenininha e precisou de cuidados complexos. Assim que foi possível, colocamos a mãe pele a pele com a bebê. Esse contato é diferenciado e ajudou muito no desenvolvimento dela, é o amor da mãe —explica Rosiane da Rosa, enfermeira assistencial da Unidade Neonatal.  

Já a fisioterapia colabora para a redução da morbidade neonatal, prevenindo e tratando complicações respiratórias e motoras decorrentes da prematuridade. Segundo Marisa Peruchi Moretto, coordenadora do Serviço de Fisioterapia da Unidade, a maioria dos atendimentos é de fisioterapia respiratória. Dandara, por exemplo, faz duas vezes ao dia. Segundo Moretto, ela chegou a ficar entubada, mas hoje usa um método de ventilação não invasivo.

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A equipe da fonoaudiologia começa a trabalhar com os bebês, normalmente, a partir das 32 semanas. Bruna Vieira Krug, coordenadora de Fonoaudiologia da Unidade Neonatal, explica que é preciso que os bebês tenham pelo menos 1,4 quilo, para que tenham força de sugar, já que o foco é na amamentação.

— Os bebês, como Dandara, estão com CPAP para ajudar na respiração. Após a retirada do aparelho, começamos a fazer estimulações, ensinando a sugar, como engolir e respirar, tudo em coordenação. Começamos somente com o dedo com luva sujinho de leite, para que ele sinta o gosto diferente. A partir do momento que o bebê começa a dar sinais, é ofertado maior volume de leite de forma gradual, até que ele possa ir no seio da mãe ou que consiga mamar pela boca — afirma.

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