Das 677 crianças internadas por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) de janeiro a abril de 2025 no Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), em Florianópolis, 438 eram bebês menores de dois anos de idade. O grupo representa 64,70% das internações, conforme dados do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia do HIJG, fornecidos ao NSC Total pela Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina (SES). Durante o mesmo período, segundo a prefeitura da Capital, as internações na unidade de saúde infantil aumentaram 84,59%.
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A situação é preocupante por dois fatores. Primeiro, a lotação das UTIs pediátricas da Grande Florianópolis, que estavam com somente três leitos disponíveis e com uma taxa de 89,7% de ocupação na sexta-feira (9), segundo o Centro de Informações Estratégicas para a Gestão do SUS de Santa Catarina (Cieges/SC). O segundo é a baixa procura pela vacina que previne a gripe (Influenza).
Hospital Infantil de Florianópolis tem alta de 84,5% em internações por doenças respiratórias
Segundo a prefeitura da Capital, 13,61% das crianças entre seis meses e dois anos se vacinaram em Florianópolis até o momento. A campanha de vacinação começou no dia 7 de abril, e a meta é imunizar 90% do público infantil.
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Florianópolis antecipa vacinação contra a gripe para a população geral
“A Secretaria Municipal de Saúde está ampliando os esforços para atingir a cobertura mais adequada de imunização deste público, que deve aumentar com a proximidade do dia D de vacinação, no sábado (10). Atualmente, são cerca de 13.700 crianças entre 6 meses e 2 anos (2 anos 11 meses e 29 dias) em Florianópolis, segundo o IBGE. Destas, 13,61% já foram vacinadas desde o início da campanha de vacinação, no dia 7 de abril. A meta é imunizar 90% do público infantil entre os 6 meses – idade mínima para a vacinação – e os 5 anos de idade (5 anos 11 meses e 29 dias)“, disse a prefeitura em nota.
A campanha continuará até que a população se imunize, conforme o órgão de Florianópolis.
Esses momentos, como a necessidade de internação, podem ser de muita angústia para os pais, além da possibilidade de deixar sequelas futuras. É o caso de Alice Luz do Rosário de 21 anos, que é auxiliar de cozinha. Em agosto e setembro do ano passado, ela passou um “apuro” com a bebê dela, então com quatro meses e, depois, cinco.
Primeiro, a bebê ficou internada com bronquiolite, doença respiratória geralmente causada por vírus respiratórios, como o vírus sincicial respiratório (VSR). Esse vírus está em maior circulação neste ano, segundo Flavia Zandavalli Neves da Fontoura, médica pediatra da emergência do Hospital Infantil Joana de Gusmão.
Aos cinco meses, em setembro de 2024, a bebê teve que ficar internada por uma semana, desta vez por adenovírus, grupo de vírus que normalmente causa infecções das vias respiratórias, como gripes, resfriados, crupe (inflamação da traqueia e laringe, causada por infecção viral), bronquite ou pneumonia.
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Alice relembra as preocupações:
— Quando ela ficou uma semana, era muita tosse, ela chegava a ficar sem ar. Tinha muita secreção no narizinho também. Ela teve que ficar internada porque eu não ia dar conta em casa. Ela tossia, ficava “roxinha”, meu Deus do céu… — diz a mãe.
Depois de uma semana na unidade de saúde, a pequena ficou bem. Ainda assim, até hoje, ela tem uma imunidade mais “baixa”, e é mais suscetível a gripes, segundo Alice.
— Eu comecei a cuidar bem mais. Qualquer “gripezinha” ela já pega.
Em Florianópolis, atualmente, a situação é grave para toda a população. Na quarta-feira (7), a prefeitura optou por antecipar vacinação contra a gripe para o público geral. A princípio, as pessoas não prioritárias estariam liberadas para a imunização somente no dia D, marcado para sábado (10).
Veja em quais pontos terão vacinas no dia D, sábado (10):
- Continente: Abraão, Balneário, Capoeiras, Estreito, Jardim Atlântico, Monte Cristo, Novo Continente e Vila Aparecida
- Norte: Barra da Lagoa, Cachoeira do Bom Jesus, Canasvieiras, Ingleses, Rio Vermelho, Santo Antônio de Lisboa
- Centro: Agronômica, Itacorubi, Monte Serrat, Pantanal, Prainha, Saco Grande, Saco dos Limões e Trindade
- Sul: Campeche, Costa da Lagoa, Costeira, Fazenda do Rio Tavares, Lagoa da Conceição, Pântano do Sul, Rio Tavares e Tapera
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Outros locais disponíveis para a imunização são:
- Espaço Imuniza Floripa — Policlínica da Mulher e da Criança (rua Esteves Júnior, 89)
- Van da Vacinação — Ticen, Centro
- Sala de Vacinas do Sesc Prainha (Tv. Siriaco Atherino, 100)
SC tem apenas 22% do público imunizado contra gripe
Em Santa Catarina, foram 33.337 doses aplicadas em crianças de seis meses a menores de dois anos até a última sexta, segundo a Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive/SC). O órgão reforça que a vacinação é a principal forma de prevenir os casos graves — que normalmente levam à internação — e mortes.
“É importante reforçar à população que as vacinas contra a Influenza e a Covid-19 estão disponíveis e são a principal forma de prevenir casos graves e mortes. Assim, os grupos devem ser incentivados a manter suas carteiras de vacinação atualizadas, seguindo as orientações sobre as doses e os intervalos recomendados. É essencial que as crianças menores de 5 anos e as pessoas com 60 anos ou mais de idade recebam a vacina o quanto antes, considerando a vulnerabilidade destes grupos no agravamento da doença“, afirma a diretoria em nota.
A Campanha de Vacinação contra a gripe em Santa Catarina, promovida pelo Governo do Estado, completou um mês na última quarta-feira, com 22,93% do público prioritário vacinado nos 295 municípios catarinenses.
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Ao todo, 2.033.845 pessoas precisam ser vacinadas. No entanto, até segunda-feira (5), 718.419 doses haviam sido aplicadas, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
O público que mais se vacinou até o momento foi o de idosos, com 372.745 doses aplicadas. Ao todo, 28,75% pessoas desse grupo já receberam o imunizante. Pessoas de 60 a 69 anos foram as que mais se vacinaram, com 180.460 doses aplicadas.
Em seguida, o grupo de gestantes aparece como o segundo que mais recebeu o imunizante, com 16,43% do público-alvo alcançado. O público infantil vem por último: cerca de 81 mil doses foram aplicadas em crianças, com 12,29% de cobertura.
As medidas de prevenção além da vacina, segundo a Dive/SC:
- Lavar as mãos com frequência;
- Usar máscara em casos de pessoas sintomáticas;
- Evitar ambientes fechados e com aglomeração de pessoas;
- Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir;
- Evitar tocar mucosa de olhos, nariz e boca;
- Manter superfícies e objetos que entram em contato frequente com as mãos, como mesas, teclados, maçanetas e corrimãos limpos com álcool;
- Não compartilhar objetos de uso pessoal, como copos e talheres.
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O que explica a quantidade de casos
O aumento das internações por doenças respiratórias está relacionado, principalmente, à maior circulação de vírus sazonais como o Influenza, neste ano, dos subtipos A, VSR e rinovírus, de acordo com Flavia Zandavalli Neves da Fontoura, médica pediatra da emergência do Hospital Infantil Joana de Gusmão.
A circulação é intensificada pelas menores temperaturas, pelo retorno às atividades escolares e ambientes fechados, segundo a profissional.
— A baixa cobertura vacinal e a presença de doenças pré-existentes em crianças também contribuem para quadros mais graves e internações mais frequentes — comenta a médica.
Quanto ao número alto de internações, Flávia diz que o Hospital Infantil da Capital está tentando redimensionar toda a equipe a fim de atender à crescente demanda:
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— Também estamos tentando conscientizar a população para que, em casos leves, procurem as unidades básicas de saúde ou as unidades de pronto atendimento (UPAs). É importante também que as famílias se vacinem.
Além de manter o calendário vacinal atualizado, medidas importantes para evitar a proliferação do vírus são a higiene das mãos e evitar mandar as crianças para a escola ou para ambientes fechados no geral enquanto elas estiverem doentes, de acordo com a médica.
O que é a SRAG?
A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) abrange casos de síndrome gripal (SG) que evoluem com comprometimento da função respiratória que, na maioria dos casos, leva à hospitalização, sem outra causa específica, de acordo com a Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive/SC). As causas podem ser vírus respiratórios, dentre os quais predominam os da Influenza do tipo A e B, Vírus Sincicial Respiratório, SARS-COV-2, bactérias, fungos e outros agentes.
- Síndrome Gripal (SG) – Indivíduo com quadro respiratório agudo, caracterizado por, pelo menos, dois dos seguintes sinais e sintomas: febre (mesmo que referida), calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos ou gustativos.
- Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – Indivíduo com SG que apresente: dispneia/desconforto respiratório OU pressão ou dor persistente no tórax OU saturação de O2 menor que 95% em ar ambiente OU coloração azulada (cianose) dos lábios ou rosto.
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*Sob supervisão de Andréa da Luz
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