O número de internações hospitalares por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), em Florianópolis, aumentou 84,59% entre janeiro e abril deste ano, segundo a prefeitura da Capital. Das internações no Hospital Infantil, 86 foram para a UTI pediátrica durante o mesmo período.
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Foram 677 crianças internadas por doenças respiratórias de janeiro a abril de 2025 no Hospital Infantil, das quais 438 foram de bebês menores de dois anos de idade. Os dados são do Núcleo Hospitalar de epidemiologia do HIJG, fornecidos ao NSC Total pela Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina (SES).
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Paralelo a isso, a taxa de ocupação por leitos das unidades de tratamento intensivos (UTIs) pediátricas da Grande Florianópolis está em 68,97%, com nove leitos disponíveis nessa sexta-feira (2), conforme o Centro de Informações Estratégicas para a Gestão do SUS de Santa Catarina (Cieges/SC).
Na quinta-feira (1º), a prefeitura de Florianópolis declarou situação de emergência em saúde pública por conta do aumento dos casos de SRAG na cidade. O decreto é válido por 180 dias.
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Febre persistente e “susto” na família
Entre os casos de internações no Hospital Infantil da Capital, de janeiro a abril, 17 eram de Influenza. Foi o caso de Rafaela Guedes da Luz Gerges, de 4 anos e 11 meses. A pequena não precisou ser internada, mas deu um “susto” nos pais após acordar com uma febre de 38,5, na sexta-feira passada, dia 25 de abril.
— Eu mediquei e logo a febre baixou, só que ela não ficava nem três horas com a febre baixa e já aumentava novamente. Na sexta, ela ficou o dia inteiro assim, e nós ficamos com ela em casa — conta a mãe, Juliana Guedes da Luz, de 40 anos.
No dia seguinte, sábado, Rafaela amanheceu com febre novamente. Depois do almoço, a mãe a levou em uma unidade da Unimed em Florianópolis. Eles enfrentaram duas horas de espera, e a médica informou à família que provavelmente seria Influenza, devido ao aumento de casos que a Capital enfrenta e aos sintomas que a menina apresentava.
— Ela me deu uma receita para fazer o teste rápido de Covid e de Influenza, e então recomendou que eu tentasse realizá-lo em uma unidade do Santa Luzia. Mas já eram 19h, e não encontrei nenhuma [aberta]. Saindo dali, eu parei em duas farmácias na Trindade, em uma da SC-401, e em mais duas em Jurerê, onde eu moro. Nenhuma delas tinha o teste — relata a mãe, que é contadora em Florianópolis.
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No domingo (27), Juliana ficou com a pequena em casa, acompanhando a melhora da filha. A família conseguiu controlar a febre com medicação, e Rafaela passou a madrugada com a temperatura corporal normalizada. Na segunda-feira, dia 28 de abril, já estava melhor, mas ficou cansada ao realizar as atividades comuns do dia a dia, segundo a mãe.
Na terça-feira, Rafaela ficou com febre de novo, e por isso a família decidiu fazer o teste na quarta-feira. Em uma farmácia de Canasvieiras, a pequena passou por um teste rápido, que detectou Influenza.

Maria Fernanda de Castro Bark, de 5 anos, também deu um susto parecido na família. Na quinta-feira passada, dia 24 de abril, a mãe, Fernanda de Castro, de 41 anos, teve que buscar a filha na escolinha porque ela estava com fortes dores de cabeça.
Como a pequena tem um histórico de sinusite, a família começou a tratar a condição como sempre. Depois, no entanto, Maria Fernanda começou a ter febre. A mãe foi com a filha para o pronto atendimento da Unimed, em Florianópolis. Como a fila de espera estava muito grande, Fernanda conversou com a pediatra pelo WhatsApp, que passou um tratamento para a gripe.
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— A febre não baixava. Eu estava dando paracetamol, e aí passava um tempo e voltava o febrão, de 38,8 e até de 39,5. Isso seguiu por dois dias, e a gente entrou com um antibiótico que a pediatra passou — relata a mãe, que é analista de marketing sênior.
Após entrar com o antibiótico, Maria Fernanda começou a ter séries de tosses bem fortes. A família optou em fazer nebulização, para “secar” o nariz e a garganta. Após cinco dias em antibiótico, a pequena começou a melhorar.

A menina não fez teste de Influenza, mas a mãe disse que ela apresentou todos os sintomas da doença.
— Ela teve a dor de cabeça, que depois virou vômito, que depois foi para febre e daí depois acabou tendo diarreia também. Depois veio a questão do nariz congestionado e a tosse bem forte.
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Após quase 10 dias, Maria Fernanda melhorou.
O que é a SRAG
A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) abrange casos de síndrome gripal (SG) que evoluem com comprometimento da função respiratória que, na maioria dos casos, leva à hospitalização, sem outra causa específica, de acordo com a Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive/SC). As causas podem ser vírus respiratórios, dentre os quais predominam os da Influenza do tipo A e B, Vírus Sincicial Respiratório, SARS-COV-2, bactérias, fungos e outros agentes.
- Síndrome Gripal (SG) – Indivíduo com quadro respiratório agudo, caracterizado por, pelo menos, dois dos seguintes sinais e sintomas: febre (mesmo que referida), calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos ou gustativos.
- Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – Indivíduo com SG que apresente: dispneia/desconforto respiratório OU pressão ou dor persistente no tórax OU saturação de O2 menor que 95% em ar ambiente OU coloração azulada (cianose) dos lábios ou rosto.
O que diz o Estado
Em relação à alta da ocupação das UTIs em Santa Catarina, a SES informou que vem ampliando a rede de tratamento intensivo nos últimos anos, e ainda há previsão de abertura de outros 30 leitos em regiões catarinenses, como o Vale do Itajaí e o Norte do Estado.
Aumento nos casos de SRAG
Santa Catarina já registrou mais de 2 mil casos de SRAG neste ano e 48 mortes. Entre as regiões que mais apresentam casos e óbitos por vírus respiratórios, está Florianópolis, ao lado de Itajaí e Joinville. A capital catarinense tem 36 mortes pela doença, segundo o Cieges/SC.
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Das 27 capitais brasileiras, 14 apresentam incidência de SRAG em nível de alerta, risco ou alto risco com sinal de crescimento na tendência de longo prazo. Florianópolis é uma delas, de acordo com o Boletim Infogripe da Fiocruz, divulgado na última sexta-feira, 26 de abril.
O que explica o aumento?
O aumento das internações por doenças respiratórias está relacionado, principalmente, a maior circulação de vírus sazonais como o Influenza, neste ano, dos subtipos A, VSR e rinovírus, de acordo com Flavia Zandavalli Neves da Fontoura, médica pediatra da emergência do Hospital Infantil Joana de Gusmão.
A circulação é intensificada pelas menores temperaturas, pelo retorno às atividades escolares e ambientes fechados, segundo a profissional.
— A baixa cobertura vacinal e a presença de doenças pré-existentes em crianças também contribuem para quadros mais graves e internações mais frequentes — comenta a médica.
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Quanto ao número alto de internações, Flávia diz que o Hospital Infantil da Capital está tentando redimensionar toda a equipe a fim de atender à crescente demanda:
— Também estamos tentando conscientizar a população para que, em casos leves, procurem as unidades básicas de saúde ou as unidades de pronto atendimento (UPAs). Além disso, é importante que as famílias se vacinem.
Além de manter o calendário vacinal atualizado, medidas importantes para evitar a proliferação do vírus são a higiene das mãos e evitar mandar as crianças para a escola ou para ambientes fechados no geral enquanto elas estiverem doentes, de acordo com a médica.
Vacina da gripe já está disponível na Capital
A vacina contra a gripe já está disponível para os grupos prioritários em Florianópolis, que incluem crianças pequenas, gestantes, idosos, pessoas com doenças crônicas ou deficiência, e trabalhadores da saúde, educação, segurança e transporte. O imunizante previne infecção pelo vírus influenza, que causa a gripe e as complicações como pneumonias e a SRAG.
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No dia 7 de abril, a campanha de vacinação contra a gripe teve início na capital catarinense, mas ainda não começou a ser aplicada nas escolas de Florianópolis, conforme apurou a NSC TV. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde da Capital, ainda não há previsão do início nas unidades escolares.
Entre 7 e 25 de abril, foram aplicadas cerca de 34.864 doses da vacina contra a gripe em Florianópolis, informou a SES por meio de nota. Destas, 21.473 foram em idosos, e 1.876 em crianças de seis meses a menores de seis anos. Outras 249 foram aplicadas em gestantes, totalizando 23.598 imunizantes neste grupo em específico.
As outras 11.266 doses referem-se às outras categorias inseridas no grupo prioritário. São elas:
- Trabalhadores da Saúde;
- Puérperas;
- Professores dos ensinos básico e superior;
- Povos indígenas;
- Pessoas em situação de rua;
- Profissionais das forças de segurança e de salvamento;
- Profissionais das Forças Armadas;
- Pessoas com doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais (independentemente da idade);
- Pessoas com deficiência permanente;
- Caminhoneiros;
- Trabalhadores do transporte rodoviário coletivo (urbano e de longo curso);
- Trabalhadores portuários
- Funcionários do sistema de privação de liberdade;
- População privada de liberdade, além de adolescentes e jovens sob medidas socioeducativas (entre 12 e 21 anos).
Na Capital, a população pode se vacinar em todos os centros de saúde, no espaço Imuniza Floripa, na van de vacinação e na sala de vacinação parceira do SESC. A partir de do dia 12 de maio, a vacinação será aberta para toda a população acima de 6 meses.
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*Sob supervisão de Andréa da Luz
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