Quando Marli Baldus Artmann, 54 anos, moradora de Quinze de Novembro, município do Noroeste do Rio Grande do Sul, começou a buscar pelo avô e os possíveis irmãos por parte de pai que a mãe, Lurde, hoje com 75 anos, poderia ter, ela não imaginava que encontraria mais 16 tios e vários primos. Cerca de 66 anos atrás, o avô, Osvaldo Baumgardt, deixou a primeira esposa e quatro filhos para recomeçar a vida em outra cidade gaúcha, ao lado de uma nova companheira, com quem teve os demais filhos.
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Osvaldo faleceu em 1999. Sua primeira esposa, dona Irika, morreu em julho de 2013, e a segunda, dona Anilda, em setembro do mesmo ano. Dos 20 filhos deixados por Osvaldo, dois também já faleceram: o caçula, fruto da união com Irika, e o primogênito da relação com Anilda — ambos com pouco mais de 60 anos.
Já os demais talvez nunca tivessem se encontrado, não fosse pela perseverança da neta Marli e pelo desejo coletivo de construir laços e recuperar o tempo perdido de convivência.
— A minha avó e o meu avô eram casados aqui no Rio Grande do Sul, moravam em Quinze de Novembro. Quando a minha mãe tinha 9 anos, e mais três irmãos menores, o meu avô foi embora com outra mulher e desde então não tivemos mais contato com ele. Passaram-se anos e a gente ficava se perguntando ‘será que o vô ainda vive?’, ‘será que ele teve mais filhos?’, a gente ficava nessa dúvida. Quando a minha avó ainda era viva a gente conversou com ela e pediu se podia procurar o vô, mas ela achou que era melhor não — relata Marli.
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Após o falecimento da avó, a família decidiu iniciar uma busca pelo paradeiro do avô e por possíveis filhos que ele pudesse ter tido. Em um dos primeiros esforços, foram até o cartório da cidade em busca de informações, mas saíram de mãos vazias.
Anos depois, tentaram novamente — sem sucesso. Foi apenas em janeiro deste ano que Marli retornou ao cartório de Quinze de Novembro e, desta vez, contou com a ajuda de novos funcionários, que finalmente conseguiram auxiliá-la na investigação.
— Eles pesquisaram e acharam que ele faleceu em Belmonte e foi enterrado em Descanso. Perguntaram se eu queria a certidão de óbito e eu peguei achando que poderia constar os nomes dos filhos que ele deixou. Mas, quando chegou, constava apenas o nome do declarante: Ari Baumgardt — relembra a neta de Osvaldo.
Coincidências da vida
A partir de então, Marli começou a busca para saber quem era o Ari que carregava o sobrenome do avô dela. Uma pesquisa na internet revelou que Belmonte é um município do Extremo-Oeste de Santa Catarina. No dia 11 de março, ela ligou para a prefeitura, sendo direcionada para a Assistência Social e depois para a Secretaria Municipal de Saúde, onde foi atendida pela auxiliar administrativa Claudineia Mistura.
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Claudineia foi uma peça importante para que o encontro da família Baumgardt acontecesse. Ela atendeu o telefone, ouviu a história de Marli e logo reconheceu o sobrenome e o nome de Ari, mas ela não podia passar nenhum contato ou detalhes sobre a família naquele momento, sem antes falar com o morador. Então, ficou com o contato de Marli e chamou Ari até a secretária para explicar a situação.
— Quando ela me falou do sobrenome, lembrei que conhecia uma família e que inclusive tinha contato próximo, pois na época de escola estudei com uma das filhas do seu Ari, mas por estar em horário de trabalho, por essas questões de golpes e de sigilo dos pacientes, eu não passei nenhuma informação. Mas, ouvi o que a Marli tinha a dizer, me comovi com a história e procurei ajudar — conta Claudineia.
Ari Baumgardt, de 63 anos, é agricultor e mora no interior de Belmonte, mas coincidentemente estava na cidade naquele dia. Quando ficou sabendo da história da sobrinha que o procurava, ficou emocionado, pegou o número de telefone deixado por ela e ligou daquele mesmo dia.
— Quando eu cheguei lá e ela [Claudineia] começou a contar, foi um baque, eu fiquei sem resposta, porque a gente procurou por eles. Quando ela começou a contar eu não acreditei e daí ela sentiu que eu não estava acreditando e me deu um apoio, disse que sentiu que era verídico mesmo e daí eu pedi o número de telefone para ligar para eles. Liguei, fui bem atendido pela Marli, minha sobrinha que descobri agora — relembra Ari.
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— À noite ela [Marli] me chamou para contar que ele tinha ligado, e me agradeceu muito pelo que eu tinha feito por eles. No dia 21 de março ela me chamou novamente para dizer que estavam todos organizados e que a família do Rio Grande estava a caminho de Santa Catarina e gostariam muito que eu estivesse presente, pois queriam me conhecer e passar um tempo juntos — comenta Claudineia.
Encontro da família Baumgardt
Após o primeiro contato por telefone, os laços começaram a se estreitar rapidamente, e logo surgiu o desejo de um encontro presencial para que todos, enfim, pudessem se conhecer. Do Rio Grande do Sul, reuniram-se os irmãos Lurdes, Oscar (73) e Loni (70), além de Marli e outros dois filhos de dona Lurdes e mais dois familiares. Os oito lotaram uma van e seguiram rumo a Belmonte, onde a Claudineia os guiou até a casa de Ari.
— Nós falávamos por telefone e até criamos um grupo no WhatsApp para conversar, mas a gente queria conversar pessoalmente, dar um abraço. Então resolvemos ir até Belmonte e conhecer eles pessoalmente. Foi muito emocionante receber abraços de tios que nós não conhecíamos e nem sabíamos que existiam. Foi muito emocionante mesmo e nós fomos muito bem recebidos — relembra Marli.
O reencontro aconteceu no sábado de 22 de março. A família vinda do Rio Grande do Sul passou o final de semana na casa dos parentes de Santa Catarina.
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Veja fotos do encontro
A festa de confraternização aconteceu na propriedade do seu Ari, no interior de Belmonte. Ao todo, 13 irmãos participaram.
— Os irmãos que estavam mais aqui por perto nós conseguimos reunir aqui para receber os outros que vinham lá do Rio Grande. Eu não sei nem explicar como foi poder dar um abraço neles. No momento em que eles chegaram a gente já percebeu que eram da família mesmo, então foi um abraço sincero e caloroso mesmo — conta Ari sobre a experiência de conhecer os três irmãos mais velhos.
A Lurdes, o Oscar e a Loni também foram até o local onde o pai morou até o fim da vida, na comunidade de linha Cachoeirinha, interior de Descanso, que fica a cerca de 10 quilômetros de Belmonte. Eles também visitaram o túmulo onde ele foi sepultado no dia 9 de fevereiro, há 26 anos.
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Ari conta que o pai chegou a comentar com ele que havia tido outros filhos antes de se unir com sua mãe, mas não passava detalhes que ajudassem ele e os irmãos a buscarem pelos outros.
O agricultor tinha cerca de 7 anos quando a família mudou-se de Tenente Portela (RS) para Santa Catarina, onde nasceram grande parte dos demais irmãos.
A partir de agora, a família, que está ainda maior, quer continuar se encontrando e mantendo contato. Segundo Ari, a próxima viagem deve ser para o Rio Grande do Sul, quem sabe ainda para a Páscoa.
— Queremos devolver a visita e não queremos nos perder mais. Eu falei para eles que pelo menos umas três vezes por ano a gente deve se visitar, se não mais — afirma.
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