Apesar dos inúmeros registros deixados pelas expedições científicas que passaram pelas Américas coloniais, é fato que, em meio ao processo de ocupação territorial, muitas espécies se extinguiram sem serem conhecidas pela crescente população do Novo Mundo.

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Mas houve exceções. Graças a uma excursão de 1828, cujos detalhes se perderam no tempo, uma curiosa planta de Santa Catarina sobreviveu. Entre os espécimes observados pelos exploradores, há uma ilustração com as anotações em latim:

“In Brasiliae montanibus saxosis”, indicando que o material teria vindo das montanhas rochosas do Brasil, e “Flores dicuntur numerosi coccinei magni”, que significa “flores numerosas, grandes e vermelhas”.

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As tais montanhas rochosas do Brasil eram o Alto Vale do Itajaí, e a flor vermelha era o elemento que tornava o espécime tão peculiar, pois não se conhecia nenhum outro cacto com estas características no país. Foi batizado como Heliocereus coccineus.

A expedição do século 20

Como não poderia deixar de ser, o tempo passou e a população aumentou. Em 1983, uma expedição financiada por Raulino Reitz, do Herbário Barbosa Rodrigues, em Itajaí, tinha entre seus membros a especialista em cactos Leia Scheinvar, brasileira que viveu muitos anos no México, e que veio ao Brasil para elaborar uma monografia das cactáceas catarinenses.

Em meio às coletas, encontraram nos quintais de algumas cidades do Alto Vale cactos com vistosas
flores vermelhas. Os moradores relataram que as plantas cresciam sobre afloramentos rochosos e eram apanhadas com frequência na natureza. Apontavam a origem para o mesmo local: a Serra do Perimbó, em Petrolândia.

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Detalhe: uma pedreira havia se instalado em Perimbó e, assim como as rochas, o cacto também desapareceu. Desde 1971 só restavam os indivíduos nas residências da região. A relutância em acreditar que pudesse haver Heliocereus no Brasil gerou uma discussão entre Reitz e Scheinvar que se estendeu por anos, inclusive ventilando a hipótese de ser uma nova espécie.

Contudo, em meio às pesquisas, Leia Scheinvar encontrou a descrição de Heliocereus coccineus da expedição do século anterior, comparou os materiais e decidiu tratar-se da mesma planta.

A expedição do século 21

Em 2021, o botânico Robson Carlos Avi, da Universidade do Vale do Itajaí, em parceria com a Apremavi no projeto “Restaura Alto Vale”, visitou praticamente todas as cidades da região, e, por acaso, encontrou numa residência um cacto muito similar ao Heliocereus.

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Em paralelo, outras expedições localizaram mais espécies raras e ameaçadas. Então, montou-se um projeto ainda mais específico, o “Plantas Raras”, que visa conservar as três espécies endêmicas encontradas na região: Saranthe ustulata, Nicotiana azambujae e, naturalmente, o cacto que se supõe ser o belíssimo Heliocereus coccineus.

De volta ao lar

Agora os espécimes coletados estão sendo cultivados em vasos com substrato, sem umidade. A certeza de ser o Heliocereus coccineus só virá no momento que as novas mudas gerarem flores. Em um mundo ideal, se abrirá a possibilidade de alocar as cactáceas para a Serra do Perimbó, que é o local de ocorrência natural.

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Ainda que a recuperação do Heliocereus somente tenha sido possível resgatando espécimes que já haviam sido retirados de seu habitat, Robson reforça que é proibida a extração de plantas no ambiente natural, prática que é uma das maiores causas da redução populacional, acarretando muitas vezes a extinção da espécie.

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