Após o “café fake”, ou “cafake”, ter viralizado nas redes sociais, a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) fez um alerta: não se trata de café, mas sim de uma bebida que imita café e pode ter palha, pedaços de madeira e cascas na composição. O órgão também notificou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Agricultura sobre as vendas das bebidas que, segundo a Abic, não teriam autorização. As informações são do O Globo.
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Os preços do café vêm chamando atenção dos consumidores nos supermercados. Foi isso, inclusive, que acabou “entregando” o café fake. Moradores de uma cidade do interior de São Paulo estranharam, em meio aos preços que beiram os R$ 30, o valor de R$ 13,99 em um pacote que se assemelha às marcas conhecidas.
Fotos desse produto começaram a viralizar nas redes sociais, e isso acendeu um alerta para a Abic, principalmente porque os pacotes estavam na mesma prateleira do produto original.
— Fazemos mais de 5 mil análises por ano de café de produtores associados e não associados, mas neste início de ano nos deparamos com esse produto, que conhecemos pouco. É uma bebida que é à base de café, mas não é café. Isso trouxe preocupação — disse Celírio Inácio da Silva, diretor-executivo da Abic, ao O Globo.
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Em 2024, o preço do café subiu 37,4%, e foi um dos destaques na alta da inflação. O produto, que é consumido em 98% dos lares brasileiros, encareceu, e isso foi visto como uma oportunidade de criação de um produto fake, que custa metade do preço.
Além das notificações feitas à Anvisa e ao Ministério da Agricultura, a Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) também foi alertada sobre o produto.
A bebida à base de café foi encontrada em algumas cidades do Rio Grande do Sul. Procurado pelo NSC Total, o Procon de Santa Catarina (Procon/SC) informou que está atento à questão e acompanhando. Como o órgão ainda não recebeu nenhuma denúncia no Estado, não pode seguir com investigações mais pontuais.
Em quais marcas foram encontrados os “cafés fakes”?
A marca Oficial do Brasil foi uma das que foi identificado o “café fake”. No rótulo, o produto é descrito como “bebida sabor café” e “pó para preparo de bebida à base de café”. Outra marca é a Melissa, que tem o nome e a embalagem semelhantes à uma marca conhecida, a Melitta, que está com uma média de preço de R$ 35 nos mercados brasileiros.
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O rótulo do “café fake” indica que o produto se trata de “pó para preparo de bebida sabor tradicional” e que o produto “contém aromatizante sintético idêntico ao natural”.
Procurada pelo O Globo, a Melitta informou que “está tomando as providências necessárias para defender sua propriedade de marca e seus direitos“. A marca acrescentou, ainda, que reforça o compromisso com a ética, qualidade e segurança do produto.
A fabricante da marca Oficial do Brasil, a Master Blends, também foi procurada, mas não deu retorno até a última atualização da reportagem. À agência Reuters, a fabricante que fica na cidade paulista de Salto de Pirapora disse que criou um “subproduto” do café, e que deixou isso claro na embalagem. Eles adicionaram que não aceitam que digam que eles estão enganando os consumidores.
“Em momento algum falamos que é café, criamos apenas um subproduto para atender uma classe que está sofrendo a cada dia que passa, este produto é composto de café e polpa de café torrado e moído, está escrito ‘bebida à base de café’ na frente e também atrás da embalagem”, comunicou a nota.
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A fabricante da Melissa, a DM Alimentos, que tem sede no Paraná, não retornou.
O que diz a legislação sanitária
A oferta de novos alimentos e ingredientes ao consumidor necessita de autorização prévia da Anvisa com comprovação de segurança do produto, diz a legislação sanitária. Em nota, a Abic diz que o comércio irregular e o consumo de produtos clandestinos por empresas sem registro nos órgãos oficiais viola a legislação.
Procurada pelo O Globo, a Anvisa não comentou até a última atualização da matéria.
“É preciso transparência”
Frente ao aumento de preços, a indústria pode pensar em alternativas para atender ao consumidor, mas é preciso ser transparente, diz Karine Karam, professora de Pesquisa e Comportamento do Consumidor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Uma estratégia que muitas marcas usam para evitar “repassar o aumento de custos ao consumidor” é, inclusive, a redução do tamanho das embalagens.
— É importante que essas práticas sejam transparentes e éticas. O consumidor merece saber o que está comprando e ter a garantia de que está recebendo um produto de qualidade. Uma empresa que usa uma estratégia fake não terá vida longa no mercado — alerta a especialista.
O debate sobre substituir alimentos que ficaram com preços “salgados” aumentou após a sugestão de Lula, na semana passada, de que consumidores deixassem de comprar produtos que estivessem caros, substituindo-os por outros.
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*Sob supervisão de Andréa da Luz
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