Santa Catarina tem três candidatos a deputado que utilizam os nomes “Lula” ou “Bolsonaro” como parte do seu nome de urna. A prática tem sido comum país afora por candidatos que buscam se apoiar na popularidade dos dois políticos que lideram as pesquisas para a disputa presidencial nas Eleições 2022. A prática, no entanto, tem causado problemas aos concorrentes na Justiça Eleitoral.
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Em todo o país, 38 candidatos a deputado federal ou estadual utilizam nome de urna com menção a Bolsonaro, enquanto 10 têm Lula no nome escolhido para se identificar para o eleitor. Em alguns casos, os candidatos tiveram problemas para conseguir a aprovação do registro de candidatura, porque a Procuradoria Eleitoral local questionou o fato de não exisitir vínculo familiar entre candidatos que utilizam o sobrenome do atual presidente ou haver risco de confundir o eleitor sobre a identidade dos candidatos, por exemplo. Há estados, no entanto, em que os nomes vêm sendo autorizados.
Em SC, “Padre do Bolsonaro” é candidato a deputado estadual pelo PL, partido do presidente. Nas redes sociais, ele se apresenta como “empresário e caminhoneiro”, “ex-seminarista” e repete slogan atribuído ao presidente, “Deus pátria, família e liberdade”.
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Daniel Lula é candidato a deputado federal pelo PT. Nas redes sociais, se apresenta como “candidato do Lula em Santa Catarina”. Em 2012, ele concorreu a vereador em Içara.
A terceira candidatura que explora o nome de um dos dois presidenciáveis é de Dani Coletivo Juventude Lula. O registro é de uma candidatura coletiva a deputado estadual pelo PT.
Duas das três candidaturas já tiveram o processo de registro julgado pela Justiça Eleitoral até a tarde desta sexta-feira (9), mas enfrentaram problemas com a aprovação do pedido. No caso de Dani Coletivo Juventude Lula, a Procuradoria Regional Eleitoral recomendou a aprovação da candidatura sem restrições quanto ao nome escolhido, mas o juiz eleitoral determinou “adequação do nome à legislação” antes de julgar o caso. A candidata defende que o termo não causa confusão, não fere a legislação e tentou manter o nome de urna. Decisão nesta sexta-feira, no entanto, manteve o nome de urna sem a menção a Lula.
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Uso de “Lula” e “Bolsonaro” é questionado

Nos outros dois casos, a utilização dos nomes Lula e Bolsonaro foi contestada até mesmo pela Procuradoria. Os pareceres recomendam a aprovação da candidatura, mas desde que o nome de urna dos candidatos deixe de ter as menções aos presidenciáveis e utilizem os próprios nome e sobrenome dos candidatos a deputado.
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No caso de Daniel Lula, o documento contesta que não é possível afirmar se o candidato é conhecido desta forma e há quanto tempo, e acrescenta que com essa identificação pode haver dúvida se ele tem ou não algum parentesco com Lula, com possível favorecimento eleitoral. Após essa orientação, Daniel Lula apresentou petição pedindo para alterar o nome de urna para “Daniel do Lula”. O pedido ainda não foi analisado.
Na situação de Padre do Bolsonaro, a análise da documentação cita que o candidato utilizava esse nome nas redes sociais apenas desde 2021 e também frisou que a situação poderia causar dúvidas sobre a identidade do candidato e possível relação familiar com Bolsonaro. No dia 7 de setembro, a Justiça Eleitoral julgou o caso e autorizou a candidatura, mas com o nome de urna sendo nome e sobrenome dele: Eloir Dedonati. No DivulgaCand essa alteração ainda não aparece, e também não foi apresentada contestação do candidato até a tarde de sexta-feira (9).
O que dizem os candidatos
A candidata Danielly Ramos Luz, que representa o Coletivo Juventude Lula, diz que tenta manter o nome de urna e entende que não há infração à legislação eleitoral. Segundo ela, o grupo se organiza desde o ano passado para concorrer e a escolha do nome do coletivo se deu porque há integrantes que foram beneficiados por políticas políticas no governo Lula.
— No nosso caso, como é um coletivo, o nome do coletivo foi sempre destacado dessa forma, então o nosso respaldo é justamente nesse contexto, a gente não está se valendo do nome, mas da característica do próprio coletivo — aponta.
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Apesar do argumento, decisão desta sexta-feira da Justiça Eleitoral decidiu aprovar o registro de candidatura dela, mas suprimindo o termo Lula do nome de urna, mantendo apenas “Dani Coletivo Juventude”.
O candidato Daniel Lula afirmou que não tem relação pessoal com o ex-presidente, mas que utilizou a menção a ele no nome de urna como uma homenagem ao líder político.
— A gente acaba usando isso porque é um nome que tem como referência política. A própria Gleisi (Hoffmann) usou também isso — afirma o candidato, citando o nome de urna usado pela presidente do PT nas eleições de 2018.
O candidato Eloir Dedonati, com nome de urna “Padre do Bolsonaro”, não atendeu à reportagem até a noite desta sexta.
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Procurada pela reportagem do Diário Catarinense, a Procuradoria Regional Eleitoral confirmou que está se manifestando pelo deferimento do registro de candidatura desses candidatos, desde que eles alterem o nome de urna, retirando a referência a Lula ou Bolsonaro.
Uso de nomes pode ser estratégia de marketing político
O professor de Administração Pública e coordenador do programa de Educação e Cultura Política da Esag Udesc, Daniel Pinheiro, afirma que a estratégia é comum em eleições como a para deputado, em que os votos costumam ser mais dispersos. Em alguns casos, além dos sobrenomes dos políticos mais “famosos”, é comum também o uso de patentes militares, cargos como pastores, áreas de atuação no setor público, como “saúde” ou “proteção animal”.
— A gente está praticamente há mais de um ano falando Lula e Bolsonaro, então é natural que você acabe usando isso como estratégia de marketing político, para chamar a atenção. Obviamente que quanto mais o candidato é conhecido, talvez nos cargos do Executivo, eles não usam isso na assinatura, mas a gente está vendo aqui em Santa Catarina o quanto eles estão usando nos discursos — avalia.
“Donald Trump Bolsonaro” não se elegeu em 2020
Em 2020, um candidato a vereador de Brusque, no Vale do Itajaí, viralizou nas redes sociais depois de tentar adotar o nome de urna “Donald Trump Bolsonaro”, surfando na popularidade do atual presidente e também do ex-presidente norte-americano, que naquele ano tentava a reeleição nos Estados Unidos. No fim, a estratégia não deu muito certo. Primeiro, a Justiça Eleitoral não permitiu ao candidato usar o nome de urna “Donald Trump Bolsonaro” e definiu como “ridícula” a tática. Por fim, concorrendo como João Santana, o candidato do PSL fez apenas 107 votos e não se elegeu.
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