Os gastos com anúncios políticos nas redes sociais da Meta, a dona do Facebook e do Instagram, às vésperas das eleições de 2022 têm tido maior participação de candidatos de direita em Santa Catarina. Eles são 12 dos 20 que mais investiram dinheiro na plataforma para impulsionar conteúdo em um período de 90 dias na pré-campanha.

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Entre os partidos de direita no top-20, há uma maioria de nomes do PL, a sigla do presidente Jair Bolsonaro. Ainda nesse campo do espectro político, há também candidatos do Novo, PSD, Podemos, Republicanos, União Brasil e Democracia Cristã.

O centro tem quatro nomes, igualmente divididos entre MDB e PSDB. Já a esquerda, com um candidato no topo da lista, tem dois do PDT, um do PT e outro do Cidadania.

A maior presença da direita repete um fenômeno que vem desde 2014 e se expressou, principalmente, na eleição presidencial de 2018, segundo avalia o cientista político Eduardo Guerini. Ele afirma que partidos desse campo reconheceram a crise de representatividade das próprias siglas e encontraram nas redes sociais uma forma de mobilizar grupos que até então não encontravam voz na política tradicional.

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Em paralelo a isso, a esquerda demorou a perceber o avanço das redes sociais em pautar o debate político e manteve sua tradicional aposta na ligação direta com movimentos organizados da sociedade civil, como entidades sindicais.

— É uma divisão categórica que fez com que a direita conservadora conseguisse arregimentar grupos sociais que até então não estavam articulados — diz Guerini, que é professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). 

Ele afirma ainda ver um apelo maior à pauta de costumes entre esses políticos de direita nas redes sociais.

Como foi feita a lista

O intervalo de tempo analisado pelo Diário Catarinense vai de 18 de maio a 15 de agosto, dia em que teve início oficialmente a campanha eleitoral. No período, o Estado registrou R$ 1,73 milhão em gastos com os anúncios.

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O recorte adotado pela reportagem considera apenas pessoas físicas, todas elas hoje concorrendo a algum cargo eletivo por Santa Catarina, mas há também gastos de empresas com impulsionamentos de publicações políticas. É justamente o caso de quem mais investe nisso na plataforma no Estado: a produtora de vídeo Brasil Paralelo, que produz conteúdo com viés de direita e aplicou R$ 204 mil no período.

Os números são da Biblioteca de Anúncios da Meta, que abre dados sobre os valores aplicados desde agosto de 2020 em publicações patrocinadas sobre temas sociais, eleições ou política em parte das redes da empresa. O WhatsApp não está incluso.

Já o entendimento sobre o posicionamento de cada partido partiu de avaliação do cientista político Fernando Scheeffer, que pesquisa as diferenças ideológicas das siglas.

Professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), ele pondera que há diferentes métodos para fazer essa classificação dos partidos, mas que tem adotado, principalmente, uma análise do comportamento deles — é esperado que partidos de esquerda votem pautas desse campo de maneira favorável no Congresso.

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A classificação dá atenção, portanto, a trajetória de cada partido a nível nacional, e não aos históricos estadual ou do próprio candidato, o que abre margem para controvérsias.

— Essa é uma classificação consensual de especialistas. Mas eu defenderia, por exemplo, que o MDB é um partido de direita, porque ele se comporta assim. Há também certa dúvida sobre o Cidadania. Ele vem do PPS, que é um partido de esquerda, mas tem se coligado muito com partidos de direita — diz Scheeffer.

Da lista catarinense dos que mais gastam nas redes da Meta, o pedetista Jorge Boeira, por exemplo, já foi correligionário de Bolsonaro no PP, onde esteve até 2021, e votou a favor do impeachment de Dilma Roussef (PT) — por conta disso, ele foi alvo de rejeição do PSOL quando a esquerda desenhava uma frente ampla ao governo do Estado.

O que diz a legislação eleitoral

Na eleição presidencial anterior, uma das redes sociais da Meta, o WhatsApp, entrou na mira da Justiça Eleitoral após a Folha de S.Paulo revelar que empresários apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) teriam financiado disparos em massa de mensagens pela plataforma. Esse tipo de prática é hoje proibida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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O TSE difere, no entanto, o disparo em massa do impulsionamento de conteúdo, que protagonizam os gastos divulgados agora pela próprio Meta, que afirma tenta ampliar a transparência da publicidade. As diferenças são descritas em resolução de 2021.

O primeiro dos casos envolve o envio de um mesmo conteúdo para um grande volume de usuários por meio de aplicativos de mensagem instantânea.

A prática não envolve o consentimento do destinatário e se vale de tecnologias que não são fornecidas pelo próprio provedor do aplicativo, como robôs. Ela pode ser entendida como abuso de poder econômico e propaganda irregular.

Já o impulsionamento de conteúdo político-eleitoral é permitido até em períodos de pré-campanha, desde que atenda a alguns requisitos, como a ausência de pedido explícito de votos e o respeito a uma moderação de gastos.

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Ele também deve ser identificado como impulsionamento de conteúdo e ser contratado por partidos, coligações ou candidatos, e não por terceiros. O serviço tem de ser oferecido pelo próprio provedor da plataforma, devidamente cadastrado na Justiça Eleitoral, e ter garantias de transparência.

Além dos disparos em massa, o TSE também tem no radar a preocupação com a circulação de notícias falsas na internet.

Em março, o ministro Alexandre de Moraes, hoje presidente do TSE, chegou a determinar o bloqueio do Telegram, aplicativo concorrente do WhatsApp, até que fossem assumidos compromissos no combate às fake news.

Top-20 com mais gastos com anúncios políticos na Meta:

  1. Jorge Boeira (PDT) – R$ 34.678
  2. Gilson Marques (Novo) – R$ 30.363
  3. Bruno Souza (Novo) – R$ 24.961
  4. Jorginho Mello (PL) – R$ 22.338
  5. Vicente Caropreso (PSDB) – R$ 15.938
  6. Carlos Humberto (PL) – R$ 14.991
  7. Jorge Seif Júnior (PL) – R$ 14.455
  8. Ana Paula Lima (PT) – R$ 13.365
  9. Jorge Goetten (PL) – R$ 12.658
  10. Silvio Alexandre Zancanaro (PSD) – R$ 12.583
  11. André Espezim (Podemos) – R$ 12.083
  12. Antídio Lunelli (MDB) – R$ 11.943
  13. Leandro Sorgato (MDB) – R$ 11.645
  14. Carlos Moisés (Republicanos) – R$ 10.864
  15. Mauricio Eskudlark (PL) – R$ 10.371
  16. Ed Pereira (União Brasil) – R$ 10.316
  17. Alexandre Badotti (DC) – R$ 9.058
  18. Tiago Silva (Cidadania) – R$ 9.000
  19. Rodrigo Minotto (PDT) – R$ 8.936
  20. Marcos Vieira (PSDB) – R$ 8.756

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