As mãos talentosas e os corações sonhadores de Iracema Fernandes e Aline Pereira ajudaram a construir um negócio em família em uma casa centenária de Joinville, município do Norte de Santa Catarina. Desde março de 2025, quem passa pelo número 140 da Rua Henrique Dias, no Bairro Anita Garibaldi, sente um cheiro especial de café passado com grãos especiais. O empreendimento Velvet Café dá um novo significado e vida ao imóvel enxaimel construído em 1883 por um imigrante alemão.
Continua depois da publicidade
História da casa centenária
August Neubauer, sua esposa Wilhelmine e filho Carl imigraram em 1862, com saída de Hamburgo, uma cidade-estado da Alemanha, e desembarque em São Francisco do Sul, no Litoral Norte de Santa Catarina. A família era natural da região da Pomerânia, antigo Reino da Prússia.
A família adquiriu terras na antiga Estrada Parati, que atualmente seria a localidade da Rua Copacabana, e se dedicou à agricultura. Em 1883, Neubauer construiu a residência em estilo enxaimel, onde morou junto com a sua esposa e filho. A técnica era comum na época e, segundo o historiador do Arquivo Histórico de Joinville, Dilney Cunha, era mais barata e fácil de construir.
August Neubauer morreu em 1894 aos 64 anos. Já sua esposa viveu até os 72 anos (1897), e o filho até os 65 (1920). Na sequência, a casa passou a pertencer à família Wuthstrack, até o tombamento em 2006. Nos últimos anos, foi adquirida por uma incorporadora joinvilense que se dedicou à sua restauração.
Veja fotos antigas da casa enxaimel
Como nasceu o Velvet Café
É nesse cenário de 142 anos de história que nasceu o Velvet Café. O empreendimento foi pensado a partir do sonho das duas amigas em ter sua própria cafeteria e oferecer à comunidade de Joinville receitas familiares que geram memórias afetivas. Ao adentrar pelas portas verdes do local, os clientes já sentem os cheiros que vêm das bebidas e enchem os olhos com o balcão recheado de tortas, bolos e salgados.
Continua depois da publicidade
A filha e o genro de Iracema, Suelen Luiz e Dyego Caetano, são os responsáveis pela operação do negócio. Junto com Jonas Junior, também filho da proprietária, os advogados ajudam as amigas a gerenciar o café. Suelen conta, ainda, que o que motivou sua mãe a persistir no sonho foi ter vencido uma batalha contra o câncer de mama nos últimos anos.
Agora, ela e Aline vivem diariamente os desafios e prazeres de produzirem um cardápio especial para os clientes, com diversas receitas das duas famílias como “carro-chefe” do café.
— Então, depois de tudo que ela passou a gente falou: “vamos colocar esse sonho em prática”. Tínhamos olhado uns lugares e um dia a gente passou aqui na frente e falei: “acho que essa casa seria legal para um café, porque é uma casa bem aconchegante” — relembra Suelen.
A advogada conta que a incorporadora proprietária da casa enxaimel prontamente comprou a ideia, já que buscavam um empreendimento que levasse as pessoas a adentrar e conhecer a história do imóvel. Suelen ainda recorda que antes de conhecer a residência a família já tinha encomendado móveis da cor verde, pensados exclusivamente para o Velvet, o que acabou combinando perfeitamente com a casa enxaimel restaurada.
Continua depois da publicidade
Confira fotos do Velvet Café
Receitas do Velvet Café
Todas as receitas são pensadas e produzidas por Iracema e Aline. Como o saboroso bolo de milho com coco, que reúne a cremosidade e sabor necessário para ativar uma saudosa memória afetiva de diversos clientes. Mas mesmo os mais apaixonados pelo bolo caseiro não são agraciados com a descoberta dos ingredientes especiais. Iracema brinca que a receita é um “segredo”.
— Quando nós abrimos, nós pensamos: “o que a gente poderia fazer de diferente?” Porque a gente já conhecia outras cafeterias e ninguém tem essa proposta de algo realmente caseiro. Eu até entendo que, às vezes, a demanda é grande e precisa mais quantidade, só que aqui a gente preserva a qualidade. Então, nossa torta de bolacha, de amendoim, por exemplo, minha mãe fazia desde a nossa infância — afirma.
Atualmente, o bolo de morango com suspiros é o mais pedido do café. A receita é um legado da avó paterna de Suelen, e dona Elsa. O sabor caseiro fez com que o primeiro carro-chefe, o bolo Red Velvet — que deu nome ao negócio — fosse levado ao segundo lugar dos mais procurados pelos clientes.
Os cafés também são especiais, adquiridos diretamente de outro negócio regional, o Castelo do Monte Café. No Velvet, até os pequenos detalhes importam para os proprietários. Suelen conta que todas as xícaras que são entregues às clientes mulheres vão com um guardanapo em forma de laço, para criar uma conexão com o alimento e o local.
Continua depois da publicidade
— A gente tem muito cuidado para que a pessoa realmente se sinta num ambiente acolhedor, bem casinha de vó mesmo, sabe? Tanto que a maioria dos relatos das nossas clientes, principalmente as mais idosas ou com uma certa idade, dizem que o sabor dos bolos, o ambiente remetem à infância. Até tem muitas pessoas que visitam e relatam que já moraram aqui. Vem umas senhoras aqui [e dizem]: “olha, eu já morei aqui, aqui foi o meu quarto, aqui era não sei o quê”. É bem legal — conta.
Confira fotos das receitas do Velvet
Leia também
Conheça a história da casa centenária que passa a abrigar café tradicional de Joinville
Fechado em meio a mistério, tradicional café revela reabertura em Joinville




































