Um esquema que desviou aproximadamente R$ 4 milhões que deveriam ter sido destinados à instituições filantrópicas burlava o sistema de arrecadação da Celesc. A operação policial que aconteceu nesta sexta-feira (5) prendeu três suspeitos, incluindo o dono da empresa investigada pelos crimes de estelionato.
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A operação Falso Samaritano prendeu o empresário Slaviero Mario Bunn, responsável pela Slaviero Benefits, empresa contratada por instituições que recebiam doações através da fatura da Celesc. Segundo a Polícia Civil, em dois anos e meio, apenas R$ 800 mil foram doados, enquanto R$ 4 milhões foram desviados.
A empresa joinvilense, alvo da operação, se define como especialista em captação de recursos para Instituições Filantrópicas. Em 2016, a Slaviero estabeleceu o primeiro contrato com Hospital Bethesda de Joinville, prejudicado pelo esquema de estelionato.
Segundo a Polícia Civil, a empresa funcionava como uma terceirizada, que ligava para potenciais doadores que aceitam fazer doações à instituições por meio de cobranças na fatura de energia elétrica. O mesmo modelo de convênio é adotado com diversas entidades, como o Corpo de Bombeiros Voluntários, APAEs, Rede Feminina de Combate ao Câncer, hospitais filantrópicos, Fundação Pró-Rim, Legião da Boa Vontade, entre outras.
Esquema trocava códigos nas faturas
Segundo o Hospital Bethesda, uma das vítimas do esquema, o fluxo do repasse dos recursos acontece diretamente da Celesc para a instituição a receber o pagamento das doações arrecadadas. Para que aconteça esse repasse, cada empresa é identificada por códigos, para organização interna pela companhia de energia.
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No entanto, a terceirizada contratada pelo Bethesda repassava códigos diferentes daqueles correspondentes às instituições que deveriam receber as doações. Ou seja, a empresa intermediadora fazia o contato com os doadores, recebia os dados em nome do Bethesda, mas ao enviar a lista para a arrecadação na fatura da energia elétrica, o código correspondia a outra instituição, que recebia valores de maneira indevida.
Assim, uma outra instituição de Joinville, recebia de forma fraudulenta as doações que deveriam ser destinadas às instituições filantrópicas. Além disso, a empresa também burlou o sistema da Celesc para inserir cobranças não autorizadas pelos consumidores.
De acordo com a Polícia Civil, a trama criminosa vitimou ao menos sete mil consumidores mantidos em erro, que tiveram descontos irregulares na fatura de energia elétrica por anos. O sistema informatizado de proteção e desconto das doações foi burlado com o objetivo de obtenção de vantagem ilícita em benefício próprio da empresa intermediadora entre Celesc e instituição que deveria receber as doações.
— Nós identificamos na investigação que as empresas intermediárias que fazem aquele contato com os consumidores da entidade da Celesc, eles acabavam desviando os valores que eram destinados a essas instituições. Nós apuramos que em dois anos e meio foram destinados aos hospitais em torno de R$ 800 mil, ao passo que essas empresas intermediárias acabaram ficando com R$ 4 milhões, o que revela uma fraude na destinação dessas doações. Os hospitais são prejudicados, porque recebem muito menos do que deveriam — revela o delegado.
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O NSC Total tentou contato com Slaviero Benefits, empresa investigada pelos desvios, e o empresário Slaviero Mario Bunn, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para manifestações.
Como funciona o contrato de doação entre a Celesc e empresas
Conforme consta no site da Celesc, os contratos de arrecadação de doações são firmados entre empresas (entidades/instituições) sem fins lucrativos que contratam a Celesc para realizar a arrecadação de doações pela fatura de energia elétrica. Portanto, a Celesc não é a empresa responsável pelo serviço oferecido/prestado, ou seja, é apenas a forma de arrecadação.
Ainda, segundo a Polícia Civil, a empresa intermediadora também possui um contato direto com a Celesc e, dessa maneira, descobriu como burlar o sistema.
Operação cumpriu mandados
Nesta sexta-feira, foram cumpridos três mandados de prisão e 16 de busca e apreensão, inclusive nos hospitais, nos setores administrativos, para que a polícia investigue a extensão do esquema criminoso.
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— Os mandados dentro desses hospitais e na própria no setor de arrecadação é para arrecadar prova documental, dados e informações para entender todo o esquema criminoso, os valores efetivamente desviados, como funcionava o esquema e pessoas que ainda estejam eventualmente envolvidas com essa articulação criminosa — explica Ross.
Inclusive, o delegado explica que, em alguns casos, muitos consumidores não tinham autorizado o desconto na fatura da energia e, ainda assim, a empresa intermediária fazia os descontos.
Bens dos investigados foram bloqueados, incluindo os R$ 4 milhões desviados, além de imóveis, dados telemáticos, fiscais e bancários. Foram apreendidos veículos e uma embarcação.
Conforme o delegado, as três pessoas presas são de Joinville e devem responder pelos crimes de estelionato por meio eletrônico, falsidade ideológica, associação criminosa e lavagem de dinheiro. O empresário, alvo principal operação, foi preso no bairro Bucarein.
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Ao todo, cerca de 50 policiais civis de Joinville, Blumenau, Brusque e Florianópolis participaram da operação.
*Sob supervisão de Leandro Ferreira
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