Não há mais dúvidas de que as máscaras são capazes de diminuir a transmissão do coronavírus Sars-CoV-2 quando bem feitas e usadas adequadamente. As pessoas que ainda resistem à medida ignoram provas científicas robustas, registradas desde muito antes da atual pandemia e que aumentaram substancialmente nos últimos meses.
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Quando o Sars-CoV-2 emergiu e a Covid-19 se espalhou rapidamente pelo mundo, uma das principais missões da comunidade científica era decifrar como o vírus se propagava e passava de uma pessoa para a outra. Só então seria possível construir uma recomendação eficaz para prevenir o contágio.
Forma de transmissão da Covid-19
A ciência precisa de tempo para ser feita, e somente em julho cientistas do mundo todo e instituições como a Organização Mundial de Saúde (OMS) passaram a reconhecer a transmissão do coronavírus pelo ar através de aerossóis – gotículas muito pequenas de saliva que ficam suspensas no ar por mais tempo e podem transportar o vírus até que ele seja inalado por outra pessoa.
Até então, acreditava-se que as principais vias de transmissão do vírus eram as superfícies contaminadas e as gotículas maiores de saliva.
Estudos com o Sars-CoV-2 mostraram que o vírus pode infectar células da boca e nariz. Nessas áreas, ele usa o maquinário das células humanas para se multiplicar e se espalhar para outras partes do corpo.
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Um artigo publicado em novembro na revista científica The Lancet Microbe mostrou que os pacientes da Covid-19 têm a maior quantidade de vírus ativos no nariz e na garganta nos primeiros cinco dias após o início dos sintomas, o que indica que esse período é o de maior contágio já que dessas regiões o vírus pode sair para o ar através da fala, tosse ou espirro.
O reconhecimento da transmissão pelo ar reforçou a necessidade do uso das máscaras e impôs um grande desafio: lidar com a alta demanda pelos equipamentos destinados ao uso profissional, como as máscaras cirúrgicas ou a N95, que ameaçava o suprimento dos hospitais.
Pesquisas sobre eficácia das máscaras
— Nas fotos da época da gripe espanhola (1918) é possível ver as pessoas nas ruas cobrindo o rosto com máscaras ou lenços. Já sabíamos que as máscaras são eficazes, são uma barreira para impedir a propagação de infecções — diz Viviane Alves, microbiologista e professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG).
Segundo a cientista, os estudos com máscaras preconizavam os modelos voltados para uso profissional e uma recomendação de uso universal no começo da pandemia poderia levar a falta do equipamento para os grupos que mais precisavam, como os profissionais de saúde.
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Para enfrentar o desafio, cientistas do mundo todo se mobilizaram para rapidamente testar e estudar diferentes desenhos e materiais para as máscaras.
Atualmente, a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (Abimo) afirma que não há risco de desabastecimento de máscaras, mas o conhecimento adquirido pelos pesquisadores nesse período foi fundamental para combater a pandemia e devem ser úteis no enfrentamento de outras doenças infecciosas.
Artigos científicos que citam os termos “máscara facial” cresceram 420% em 2020 em relação ao ano passado, segundo a Scopus, uma das mais importantes bases de artigos científicos do mundo. É a maior produção acadêmica de todos os tempos com os termos, passando de 700 artigos publicados.
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Estudos ao longo dos últimos meses comprovaram que máscaras feitas com tecido de algodão com três camadas têm eficácia semelhante à de máscaras cirúrgicas.
Um dos artigos mais recentes, publicado neste mês na revista científica Aerosol Science and Technology por cientistas do CDC (Centros para o Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos), mostrou que máscaras feitas com três camadas de tecido de algodão têm poder para barrar 51% dos aerossóis que uma pessoa pode expelir em uma tosse. Uma máscara cirúrgica pode bloquear 59% dos aerossóis em uma mesma situação.
Ação brasileira
No Brasil, o desafio motivou um grupo de pesquisadores da USP de diversas áreas a se unirem no projeto para testar e projetar uma máscara que, inicialmente, pudesse ser usada pelos profissionais do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/USP) em uma possível escassez do equipamento.
A união deu certo, e o projeto já soma mais de 1 milhão de máscaras produzidas, distribuídas para uso da universidade – 250 mil delas feitas artesanalmente por costureiras.
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— Aprendemos muito e ainda conseguimos gerar renda — diz Vanderley John, professor e pesquisador do Inova.USP (centro de inovação da USP) e da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) e um dos responsáveis pelo projeto.
O grupo, que avaliou mais de 200 tipos de máscaras diferentes, planeja ainda usar o conhecimento adquirido para elaborar um documento com orientações gerais para guiar a produção de máscaras mais eficazes.
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Segundo o pesquisador, as máscaras devem ser leves e confortáveis para não tornarem a respiração difícil. As máscaras feitas de TNT (tecido não tecido) costumam ter eficácia superior à das de algodão, e o clipe nasal, um pedaço pequeno de metal que ajuda a manter a máscara ajustada sobre o nariz, confere maior eficácia ao equipamento por evitar aberturas.
O cientista sugere ainda que as máscaras tenham cores claras para evitar o desconforto no calor.
Registro histórico
A primeira evidência do uso das máscaras em espaços hospitalares data do fim do século 19, quando máscaras de gaze eram usadas por pacientes para evitar que a infecção se espalhasse, relata um artigo publicado por pesquisadores da Austrália em 2013 na revista científica International Journal of Infection Control (IJIC).
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O Instituto para Doenças Infecciosas de Chicago, nos Estados Unidos, foi a primeira instituição do tipo a recomendar o uso de máscaras para proteger profissionais da saúde.
Um hospital da cidade, o Durand Hospital, implementou, em 1913, o uso do equipamento por seus funcionários e viu as taxas de infecções respiratórias caírem entre os trabalhadores.
Recomendação de uso da máscara
Atualmente, as principais autoridades em saúde do mundo recomendam o uso universal das máscaras para combater a transmissão do vírus.
Durante entrevista coletiva no dia 16 de dezembro, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, afirmou que o uso da máscara é recomendado pelo ministério e fundamental para diminuir a transmissão do vírus.
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Ainda assim, o presidente Jair Bolsonaro e outras autoridades do governo federal se recusam a usar a proteção em público e até insinuam que ela não seria necessária. O presidente teve Covid-19 em julho, mas ainda não se sabe por quanto tempo a imunidade adquirida pela infecção pode durar, e casos de reinfecção pelo coronavírus já foram confirmados no Brasil, inclusive com o retorno dos sintomas.