Sabe aquela história da polarização de “saúde versus economia” que tanto se debateu desde o início da pandemia? Pelo menos no que diz respeito às questões do turismo e da Oktoberfest, esse antagonismo fica só nas redes sociais. É o que mostra uma pesquisa do Projeto Focus, da Universidade Regional de Blumenau (Furb), publicada com exclusividade pelo Santa.
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Isso significa que na vida real a preocupação dos blumenauenses é com ambos: a maioria entende a importância dos visitantes e da festa, ao mesmo tempo em que teme uma agravação da crise sanitária por conta da circulação de turistas.
— Às vezes a gente olha as redes sociais e parece que o mundo está dividido em dois, mas tem um universo de pessoas entre as duas pontas e que é a maioria, que está no meio-termo. A pesquisa não me surpreendeu porque reflete o sentimento coletivo. Sabe aquela história do copo meio cheio ou meio vazio?
Cynthia Boos de Quadros, coordenadora do projeto, quer dizer que o debate não se restringe entre os que defendem um combate rigoroso ao vírus, com fechamento de comércio e outros sacrifícios à economia, e os que colocam o dinheiro em primeiro lugar. A maioria fica na metade do caminho. Não é possível encher o copo.
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Na pesquisa feita com 600 moradores de todos os bairros da cidade, os entrevistados tiveram de responder a um questionário sobre Oktoberfest, tradições germânicas e turismo na pandemia. Os percentuais se diluem em cinco alternativas que vão do “concordo totalmente” até o “discordo totalmente”.
O copo meio cheio fica evidente quando 74% reconhecem, totalmente ou em partes, a importância dos turistas para a economia local durante a pandemia, mas quase 69% também acreditam que os visitantes aumentam o risco de infecção por Covid-19. É o copo meio vazio. Para 92% a Oktoberfest é importante para promover o turismo em Blumenau e 63% sentiram falta do evento no ano passado.
— É o “quero [a festa], mas tenho medo [da contaminação por Covid-19]”. As pessoas depositam mais expectativas na Oktoberfest hoje em relação a anos atrás porque está todo mundo sentindo falta do lazer — analisa a professora.
Uma outra Oktoberfest
O meio-termo é bandeira levantada pela prefeitura de Blumenau desde a chegada do coronavírus. É preciso equilibrar a balança da economia e saúde, dizia o prefeito Mário Hildebrandt (Podemos) nas transmissões que eram feitas diariamente para atualizar a população sobre o então desconhecido vírus, que começava a aterrorizar a cidade.
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Quando se trata de uma festa do tamanho da Oktoberfest, porém, é impossível equilibrar os pesos. E nessa polarização inevitável, ganha a saúde, garante o secretário de Turismo e Lazer, Marcelo Greuel:
— Todo o trade espera a festa em pé, mas eu sempre digo que a prioridade número um é a saúde.
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Se ocorrer, a Oktoberfest Blumenau não será nos moldes tradicionais. Desfiles, pista de dança e atrações que possam aglomerar pessoas foram descartados no plano B. Em lugar da folia imagina-se um evento gastronômico, com reserva de mesas e, no máximo, bandinhas animando o ambiente.
— Inicialmente a ideia da pesquisa era saber se as pessoas iam aderir à Oktoberfest em um formato diferente. Mas não tem como projetar o cenário de outubro, seria até irresponsável abordar dessa forma — revela a coordenadora do projeto Focus.
Uma escolha
É justamente por conta da imprevisibilidade que especialistas condenam a realização de eventos como este. Para o infectologista Amaury Mielle, Blumenau e todas as demais cidades do Brasil “estão voando às cegas”, já que não há um mapeamento das variantes que podem estar atuando em cada região.
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— Penso que qualquer evento que traga pessoas de outras regiões é uma maneira de difundir as variantes de um lado para o outro. Estamos com a cobertura vacinal muito discreta — explica.
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Sem saber do comportamento da pandemia em um futuro próximo e com as inconstâncias no ritmo da vacinação, os turistas acabam simbolizando o perigo, como percebido pelos blumenauenses na pesquisa. E, apesar de importante para a cidade, a Oktoberfest esbarra nas mesmas questões, justamente por ser sinônimo de aglomeração e por atrair visitantes.
— Planejar a Oktoberfest implica em trabalhar na produção da festa a partir de agora. Nesse mar de incerteza que a gente navega, não vejo a menor viabilidade de fechar uma data e ter segurança de que estaremos em um patamar de tranquilidade — ressalta o infectologista.
Para quem está otimista quanto aos próximos meses e acredita que o avanço da imunização não terá mais contratempos, como o presidente do Conselho Municipal de Turismo de Blumenau, Ulysses Kreutzfeld, mesmo com restrições a Oktoberfest poderia representar a virada de página destes meses difíceis.
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— A resposta para tudo está na vacina, mas acho que se for em um ambiente seguro terá adesão. Poderia ser o marco da retomada para muitas famílias — defende Kreutzfeld.
Todos os prós e contras sobre a realização da Oktoberfest 2021 estão sobre a mesa do prefeito. Caberá a ele decidir para qual lado a balança penderá. Copo meio cheio? Meio vazio?
Orgulhoso das tradições, mas desengajado
A pesquisa também revelou o orgulho que os blumenauenses têm da cultura alemã da cidade. Porém, apesar de quase 90% dos entrevistados afirmarem esse sentimento, total ou em parte, apenas 27% garantiu que se envolvem em atividades que ajudam a compreender a cultura alemã.
— Talvez esteja faltando engajamento com a cultura. Ir a museus, teatros, clubes de caça e tiro… Essa tradição mais “raiz” acabou se perdendo um pouco — avalia Cynthia.
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O sentimento coletivo de admiração pela cidade, no entanto, é alto: 83% gostam e têm orgulho do lugar onde vivem. O índice é o mesmo entre os nascidos no município ou não. Prova de que quem escolhe morar em Blumenau adota a cidade como sua.
Ficha técnica da pesquisa
Amostra: 600 entrevistas por WhatsApp
Coleta de dados de 1 a 15 de junho
Margem de erro: 4%
Intervalo de confiança: 95%
Público: 52% mulheres; 58,8% nascidos em Blumenau; 59,5% com descendência alemã
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