A descoberta recente de um asteroide com uma pequena possibilidade de atingir a Terra em 2032, a passagem de outros corpos celestes em regiões próximas ao nosso planeta e a visita do cometa interestelar 3I/Atlas não apenas movimentaram os cientistas, como levantaram um debate entre os internautas: quais são as estratégias de defesa planetária que podem ser utilizadas caso um desses astros tenha chance real de colidir com a Terra?

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Antes de tudo, é importante ressaltar: não existe atualmente nenhuma ameaça real de um impacto de asteroide, cometa ou qualquer outro corpo celeste com a Terra. Mesmo que no início do ano os cientistas tenham apontado uma probabilidade que chegou a ser de 3,2% de um asteroide atingir o nosso planeta em 2032, essa chance foi praticamente descartada após novos estudos e cálculos.

Nem mesmo o intrigante cometa 3I/Atlas, que surgiu de outro Sistema Solar, tem qualquer risco de atingir a Terra. A aproximação máxima com o nosso planeta acontecerá no dia 21 de dezembro, a “apenas” 270 milhões de quilômetros, sem nenhuma possibilidade de colisão.

NASA não ativou o sistema de defesa por conta do 3I/Atlas

O assunto ganhou ainda mais notoriedade em meados de outubro, quando uma série de informações desencontradas e documentos mal interpretados geraram uma grande fake news: a de que a NASA havia emitido um alerta para o “sistema de defesa planetária” por conta do cometa 3I/Atlas.

A informação, muitas vezes replicada com chamadas sensacionalistas e um tom de alerta usado por muitos influenciadores causou uma onda de preocupação e desespero nos internautas.

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A NASA não fez qualquer tipo de alerta ou aviso por conta da passagem do cometa interestelar. Cientistas já garantem há meses que o 3I/Atlas não representa nenhuma ameaça. O que houve, na verdade, foi uma campanha para treinamentos de astrônomos e observadores sobre medições e análises de corpos celestes. E um dos temas dos estudos desse ano é justamente o cometa 3I/Atlas, principalmente por apresentar características e comportamentos incomuns.

Existe um sistema de defesa planetária?

Apesar dos avanços científicos e da intensa corrida espacial, a Terra ainda não conta com um sistema de defesa planetária e também não temos tecnologias eficientes o bastante para impedir que um cometa ou asteroide se choque com o nosso planeta.

A NASA e outras agências espaciais possuem algumas estratégias para tentar desviar pequenos astros que apresentem riscos de colisão com a Terra, como o envio de sondas para se chocarem com asteroides, ou uma detonação nuclear para desviar a trajetória do “invasor”.

Mas, mesmo com essas estratégias, a verdade é que ainda não temos um sistema de defesa planetária que possa ser ativado caso alguma ameaça urgente seja detectada. As estratégias existentes exigem uma previsibilidade antecipada, e possuem limitações tecnológicas e físicas. Um grande asteroide, por exemplo, dificilmente seria interceptado ou teria a rota desviada.

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Estratégias para evitar impactos

A agência espacial americana, em conjunto com outras entidades espalhadas pelo mundo, possui um plano de ação, com algumas medidas que podem ser adotadas para proteger a Terra de possíveis impactos de asteroides e outros corpos celestes, os chamados Objetos Próximos da Terra (NEOs, na sigla em inglês).

A principal meta é descobrir, monitorar e entender esses objetos antes que eles se tornem uma ameaça real, através do uso de telescópios e sistemas de rastreamento instalados em diversas regiões do planeta, inclusive fora dele, no espaço.

As principais estratégias utilizadas são:

1. Desvio por Impacto Cinético

Esta é a estratégia mais testada e demonstrada, sendo o princípio por trás da missão DART (Teste de redirecionamentos de asteroides duplos, na sigla em inglês) da NASA.

  • O que é: envolve o lançamento de uma nave espacial não tripulada para colidir intencionalmente com o asteroide ou cometa, com o intuito de desviar a rota e a velocidade do corpo celeste. É uma técnica relativamente simples e direta que pode ser implementada com a tecnologia espacial atual, ideal para asteroides menores e com tempo de aviso suficientemente hábil para que a operação seja realizada.

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2. Trator gravitacional

Esta é uma técnica que oferece um desvio suave e controlável, sem contato físico.

  • O que é: trata-se do posicionamento de uma grande nave espacial de alta massa para que orbite ou paire próximo do objeto. Isso faz com que a atração gravitacional altere a trajetória do corpo celeste. Essa técnica é muito precisa e dispensa o contato físico. Mas a operação pode levar meses ou até anos. Ou seja, precisa ser aplicada em algum asteroide que seja detectado com muita antecedência, o que faz com que talvez a tecnologia atual ainda não seja suficiente.

3. Desvio por explosão nuclear

Esta estratégia é reservada para cenários de último recurso ou para objetos muito grandes e com pouco tempo de aviso.

  • O que é: a detonação de um dispositivo nuclear (bomba atômica ou de hidrogênio) próximo à superfície do objeto, mas não em contato. A explosão vaporiza a superfície do asteroide, e a expansão rápida desse material (plasma de alta velocidade) atua como um motor natural, empurrando o objeto para longe. É a opção mais potente para desviar asteroides grandes ou para quando o tempo de aviso é muito curto. Mas existe o risco de que o objeto seja quebrado em vários pedaços e boa parte desses fragmentos acabem caindo na Terra.

A missão DART

A missão DART, da NASA, foi a primeira demonstração em escala real de uma tecnologia para defender a Terra contra um potencial asteroide perigoso, testando o conceito de Impacto Cinético como uma estratégia viável de defesa planetária.

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Lançada em novembro de 2021, a nave não tripulada DART atingiu seu alvo, a pequena lua asteroide Dimorphos (com cerca de 160 metros de diâmetro), em 26 de setembro de 2022, a uma velocidade de aproximadamente 22.500 km/h. O alvo Dimorphos orbita um asteroide maior chamado Didymos, e o sistema binário foi escolhido porque seu movimento orbital lento e fácil de monitorar permitiu que os cientistas medissem com precisão a mudança resultante no período orbital após a colisão.

O impacto bem-sucedido causou alterações significativas na órbita e na velocidade de Dimorphos, confirmando a eficácia do Impacto Cinético como uma técnica robusta para desviar a trajetória de um asteroide pequeno, desde que seja detectado com antecedência suficiente para realizar a operação.