Depois de 11 anos, o juiz João Marcos Buch vai deixar a Vara de Execuções Penais de Joinville e seguirá para o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC), em Florianópolis. À CBN Joinville, ele relembrou os sentimentos e principais momentos da trajetória na cidade, além de analisar o sistema carcerário atual. 

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Com o complexo prisional de Joinville com 2,5 mil presos, cerca de 2 mil tiveram penas executadas por Buch. Apesar de mantê-las presas, o juiz diz que há entendimento com os detentos se a relação for franca, direta e com respeito. 

— Nas minhas entradas no sistema prisional, posso dizer que ele é muito cruel. Mas quando encontro um egresso da prisão na rua, ou trabalhando, ou, infelizmente, em situação de rua, é algo amistoso, de agradecimento — diz, ressaltando que essa relação é fundamental para o resgate da dignidade e a retirada de pessoas do ciclo de violência.

Juiz de SC escreve “carta aos detentos” em despedida: “Um dia as prisões não mais existirão”

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Criticado por parte da cidade pelas decisões sempre visando os Direitos Humanos, Buch conta que sempre lidou com lucidez, respeitando quem pensa o contrário, mas lembra que chegou a receber ameaças de mortes. 

— Ao longo dessa história, precisei de escolta em razão das minhas posições jurídicas. As ameaças não vinham do sistema jurídico, mas dos cidadãos — lamenta. 

Para ele, o sistema prisional causa realidades cruéis para as vítimas de violência e as pessoas presas por cometerem crimes. Ele aponta erros, mas se diz positivo para mudanças. 

— O encarceramento continua forte e a estrutura não acompanha. Os presos acabam, infelizmente, dormindo um sobre os outros, com dificuldade de acesso à saúde, educação e trabalho. Como eles saem de lá? Vejo com tristeza que o sistema não melhora, mas sou otimista e acredito que um dia chegaremos lá — analisa. 

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Em Florianópolis, a princípio, Buch será desembargador substituto ou juiz de direito de 2º grau, mas não necessariamente na área criminal — pode atuar também na cível. 

— Vou continuar na luta por garantir a Constituição Federal e a dignidade humana — crava. 

Apesar da mudança de cidade, o juiz afirma que vai levar Joinville para sempre nas lembranças e tem planos de voltar no futuro. 

— Me sinto joinvilense de coração. Posso dizer que fui muito feliz na cidade e a levarei comigo. Pretendo voltar após a minha aposentadoria para seguir o restante da minha vida — finaliza.

Ao longo do período no cargo em Joinville, Buch ganhou reconhecimento nacional pela defesa do direito dos apenados, além de ações como cartas de Natal enviadas aos presos. Recentemente, o juiz virou notícia ao comprar remédios para os detentos com dinheiro do próprio bolso.

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Nesta quarta-feira (17), Buch publicou uma “carta de despedida” nas redes sociais, que foi entregue aos presos, e fez reflexões sobre o sistema carcerário brasileiro.

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