No dia 15 de março de 1985, uma sessão do Congresso Nacional selou o fim da ditadura militar, há 40 anos. A sessão foi convocada para dar posse a Tancredo Neves e José Sarney, eleitos presidente e vice no Brasil, após 21 anos de regime militar. Mas um ano antes desse congresso, em 1984, 12 estudantes de uma turma de formandos do curso de jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a turma “Diretas Já”, decidiu transformar a formatura em um ato político a favor da democracia no país.

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Segundo relembra um dos discentes da turma e, hoje, professor de fotografia do departamento de jornalismo na UFSC, Ivan Giacomelli, os estudantes escolheram o dia 31 de março – dia que foi instaurada a ditadura militar em 1964 – como um protesto, “se opondo ao regime militar e apoiando o movimento que pedia a volta da democracia ao Brasil”.

Nas fotos para a formatura, os formandos simularam uma eleição, atrás e fora das grades, representando o direito de votar, que foi tirado da população durante os anos de regime. Além disso, os estudantes também se mobilizaram para criar camisetas que estampassem o nome do movimento, que acabou sendo escolhido como nome da turma.

Os outros estudantes, que optaram por não participar do ato político, seguiram o cronograma da formatura, realizando a entrega dos diplomas dentro do auditório, de acordo com Giacomelli. 

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Em outubro de 2024, um dos doze alunos e ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina (SJSC), Aderbal João da Rosa Filho, carinhosamente conhecido como “Deba”, morreu aos 62 anos.

— Deba era um dos principais estudantes dentro do movimento estudantil e um dos líderes das entidades da Universidade, sempre presente — declara o professor de fotojornalismo.

Veja fotos da turma “Diretas Já”

O que foi o Diretas Já?

Segundo a historiadora Rochelle Gutierrez Bazaga, o movimento pelas “Diretas Já” foi um momento histórico de grande relevância para a política do Brasil, de participação e mobilização popular, e de “construção de um “sentimento nacional” que girava em torno das eleições diretas e da votação da Emenda Dante de Oliveira (que decidiria sobre o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República no Brasil)”.

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Este movimento, que ocorreu entre 1983 e 1984, foi um dos momentos mais emblemáticos da luta pela democracia no Brasil e teve um impacto significativo em diversas esferas da sociedade.

A campanha reuniu diversos grupos sociais e políticos, que uniram e organizaram manifestações públicas para forçar o Congresso Nacional à aprovação da Emenda Dante de Oliveira.

— Embora seja a maior manifestação de massa na história brasileira até os dias atuais, há uma grande ausência de literatura no campo historiográfico sobre o tema, tendo as ciências sociais, o jornalismo, se debruçado e constituído a literatura existente sobre o tema — explica Bazaga.

Diversos fatores influenciaram o início do movimento. Como por exemplo, em 1983, questões econômicas como o crescimento do endividamento estatal, que fez o Brasil recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para obter empréstimos, a queda do PIB industrial, a política de arrocho salarial, entre outros fatores, fizeram com que o discurso do regime militar de desenvolvimento não mais contasse com o apoio da população, levando diversos setores da sociedade às ruas, segundo a historiadora.

No Brasil, diversos comícios foram realizados, tendo o comício da Praça da Sé, em São Paulo, reunido 1,5 milhão de pessoas e se tornado a maior manifestação pública realizada no Brasil até aquela data. Esse movimento também foi marcado pela presença de personalidades políticas importantes, como Franco Montoro, Luiz Inácio Lula da Silva e Ulisses Guimarães. A participação de políticos e de artistas reforçavam naquele momento o sentimento de mudança, mesmo com o governo tentando ignorar a dimensão do movimento.

O legado das Diretas Já pode ser visto na consolidação do processo democrático no Brasil. O movimento ajudou a abrir caminho para a redemocratização do país ao mobilizar milhões de brasileiros em favor da realização de eleições diretas para presidente.

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Embora as eleições diretas não tenham sido realizadas em 1984, o movimento ajudou a construir a Constituição de 1988, que estabeleceu um sistema político democrático no Brasil.

*Sob supervisão de Andréa da Luz

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