Se tem algo que o brasileiro leva bem a sério é a “sofrência”. Por isso, em meio ao isolamento social recomendado para frear a contaminação pelo novo coronavírus, as lives de artistas pela internet têm mudado a rotina de quem está em casa. Os shows de músicos sertanejos viraram um grande fenômeno. Tem novo recorde mundial de maior número de visualizações ocupado, agenda de shows compartilhada e até análise de especialistas sobre a estratégia utilizada por cada músico.
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O fenômeno começou quando o sertanejo Gusttavo Lima resolveu transmitir da sala de casa o chamado “Buteco em casa”. A transmissão ao vivo no dia 28 de março bateu o recorde de live mais assistida do mundo e desbancou ninguém menos que Beyoncé, que ocupava o posto. De lá pra cá, o pedido por mais transmissões ao vivo foi aumentando e os fãs pediram por shows aos artistas preferidos.
Então, no dia 5 de abril, a dupla Jorge e Mateus resolveu fazer uma transmissão e bateu o recorde anterior, tornando-se o show transmitido ao vivo com mais visualizações do YouTube. Mas, a disputa não parou por aí. Nessas duas lives, o pedido por um show da cantora Marília Mendonça cresceu nos comentários abrindo espaço para que a sertaneja batesse elevasse a régua e, até o fechamento desta edição, mantivesse como a recordista. A live de Marília Mendonça artista, no último dia 8, atingiu a marca de mais de 3,2 milhões de espectadores simultâneos. Já no Twitter, a artista ficou em todos os assuntos mais comentados.
Toda essa multidão on-line pode ser explicada, de acordo com Georgina Matos, consultora em marketing, justamente pelo momento delicado que o mundo vive. Em busca de conexões, motivados pelo distanciamento social, muitas pessoas decidem assistir os conteúdos para experimentar alguma forma de reunião. Seja com amigos, familiares ou até mesmo fãs do mesmo artista e desconhecidos.
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– Buscamos por conexão emocional e afetiva nesse momento. Além da música nos remeter a momentos de alegria que vivemos, uma espécie de nostalgia, ela torna a nossa vida mais leve nesse isolamento. Assistir a uma live de um famoso e compartilhar com os amigos e familiares, nos passa sensação de pertencimento, pertencimento a um coletivo comum – comenta a especialista.
Além da conexão virtual, as lives são ainda uma ferramenta de enorme engajamento pelas redes sociais, segundo Georgina. Por permitirem interação entre espectadores e o artista, as transmissões ao vivo são ferramentas poderosas de medir a audiência em tempo real e permitem que os artistas possam repensar posicionamentos. São um espaço aberto para que todos digam as opiniões sobre as músicas, peçam música, comentem. Transformaram-se quase como os shows em barzinhos, que deram início a carreira de muitos músicos.
Lives vão muito além da música
Outras áreas, além da música, também estão investindo em lives. Seja pelo YouTube ou pelo Instagram, os conteúdos ao vivo estão ocupando o tempo de quem está de quarentena e ainda oportunizando diversão ou aprendizado. A consultora em marketing Georgina Matos, por exemplo, apostou nas lives de conteúdo técnico e até aventurou-se em passar dicas da área no perfil profissional que mantém no Instagram.
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– É incrível a variedade de conteúdos gratuitos, seja para nosso trabalho ou mesmo para o entretenimento. Acompanhei também algumas de festival de música organizadas por gravadoras. Enquanto faz um jantar ou alguma atividade em casa, estamos ligados de maneira mais íntima coma artistas que admiramos, que estão também num ambiente mais íntimo e agindo de forma mais espontânea – disse Georgina.
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Como CEO da agência Dia Estúdio, especialista em produção de conteúdo para plataformas como o Youtube, Rafa Dias analisa o fenômeno das lives como uma inserção dos artistas com carreira fora do mundo virtual para dentro do universo on-line. Para ele, isso é o motivo dos números serem tão “gigantescos” e alcançarem milhões de pessoas.
Para o especialista, as transmissões ao vivo são a oportunidade de os músicos mostraram a realidade e ficarem mais próximos. Assim como os youtubers, eles aparecem com uma produção básica, mostrando como é a casa, o dia a dia. Estratégia, que para Rafa Dias, é uma forma de manter os fãs, já que muitos ficarão meses sem fazer shows.
A estratégia de lives deve ainda permanecer após a pandemia do novo coronavírus, projeta Dias. Para ele, esses shows on-line podem ser uma opção para os artistas que reúnem multidões, mas em cidades separadas. Pela internet, os músicos conseguem concentrar o maior número de fãs, de uma só vez, em um só local e possibilitando o alcance de números gigantescos de audiência para que consigam monetizar nas plataformas.
– Acredito que essa estratégia vai ser usada em lançamentos de músicas, de álbuns. Esses artistas conseguem lotar estádios ou grandes casas de shows, mas em cidades diferentes, por exemplo. Agora, terão uma soma dos fãs do país inteiro – analisa Dias.
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