Muitos bailarinos nascidos em Joinville, a Capital Nacional da Dança, cresceram em meio à tradição da arte. Alguns destes, inclusive, já subiram nos palcos espalhados pelo mundo todo. Caio Simas, formado pela Escola Bolshoi, é um deles e, há quase dois anos, conquistou um contrato profissional no Cazaquistão.
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O joinvilense de 20 anos teve contato com a dança desde cedo, ainda na infância. Foi ainda aos 18, em 2023, que surgiu a oportunidade de realizar seu maior sonho: exercer sua paixão pela dança no exterior. Naquele ano, Caio passou a morar em Astana, capital do Cazaquistão, país localizado entre a Ásia e a Europa. Lá, ele atua junto à Companhia Astana Ballet.
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Conforme o Bolshoi, outros joinvilenses também já conquistaram contratos em outros países após a formação na Escola, que é a única extensão fora da Rússia, e Caio está entre estes talentos. Especificamente no Cazaquistão, o bailarino é um dos primeiros que desembarcou com uma oportunidade para seguir carreira profissional no país.
Os primeiros passos de Caio na dança
Com nove anos, quando ainda estudava na Escola Municipal Nelson de Miranda Coutinho, no bairro Jarivatuba, a oportunidade para Caio participar das audições do Bolshoi surgiu em uma aula de Educação Física. No entanto, o futuro do bailarino poderia ter sido bem diferente.
— A professora Delurdes chegou com uma folha de inscrição para as audições da Escola Bolshoi, me interessei pela audição, peguei a folha e levei para casa. Chegando em casa, pensei que tinha que pagar para estudar e acabou que amassei a folha e joguei no lixo. No dia seguinte, minha mãe achou a folha e me questionou sobre. Expliquei para ela a situação e no fim ela que me incentivou a tentar. Então eu fui — relembra.
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Desde que entrou na formação, os dias de Caio foram tomados pela dança e foi inevitável a paixão pelo balé clássico. O momento decisivo de seguir na carreira profissional aconteceu na quarta série do Bolshoi.
— A paixão surgiu a partir do momento em que virei a chave na minha cabeça e comecei a ter noção de que o que eu estava estudando era o que eu realmente queria, o ballet clássico — afirma.
Foram oito anos de estudos na única extensão do Bolshoi fora da Rússia até a formatura. Depois, Caio foi contratado pela Companhia Júnior da própria escola, onde ficou por cerca de um ano até surgir a oportunidade de ir para outro país.
Ícone nacional da dança viu um “brilho” especial no joinvilense
A chance de integrar o Astana Ballet, no Cazaquistão, surgiu por meio do Simpósio Internacional de Dança, em Belo Horizonte. Na ocasião, Caio teve a renomada bailarina Cecília Kerche como banca.
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— Depois da audição ela veio até mim, conversou comigo, falou que viu em mim muito potencial, sabe? Viu um brilho que lembrava um parceiro dela, que dançou com ela. Me deu vários comentários positivos e me incentivou bastante a continuar — conta com orgulho.
Depois, Cecília apresentou Caio ao ex-bailarino Ricardo Amarante e ele ajudou o jovem a conseguir um contrato profissional. Desde outubro de 2023, o joinvilense integra o elenco do Astana Ballet.
Para Caio, as experiências no exterior estão sendo muito valiosas para a carreira. Em uma cultura tão diferente da dele, o principal desafio foi aprender o russo, idioma local de Astana.
— A adaptação foi difícil no início, afinal nunca tinha saído do país e senti muito, na parte familiar, a saudade. Mas o que mais me marcou mesmo foi a língua, no início não sabia nem como dizer “oi”, mas no final deu tudo certo — confessa.
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Com apenas 20 anos, Caio já tem um currículo extenso
Antes de ganhar os palcos do mundo, Caio teve a oportunidade de participar do Festival de Dança de Joinville, considerado o maior do mundo pelo Guinness Book.
— Participar do festival foi fantástico, uma experiência incrível e inesquecível, o frio na barriga foi grande e querendo ou não agrega muito no quesito de experiência de palco — destaca.
Para ele, estar no palco do festival é algo que todo bailarino precisa experienciar.
— Foi uma experiência única, foi onde eu pude conhecer outros tipos de bailarinos, ver outros corpos e também aprender a lidar com a pressão. É um grande festival, o maior de todos, e para todo bailarino é muito valiosa essa experiência. Por precisar aprender como tem que se acalmar. Respirar fundo antes de entrar e se concentrar. Foi muito importante mesmo — conta.
Joinvilense voltou para a cidade natal de surpresa
Em 10 de julho, data que comemorou seu aniversário de 20 anos, Caio decidiu que quem receberia o presente seria sua família em um reencontro especial. A surpresa, preparada às escondidas com alguns amigos, proporcionou um momento de muita emoção, lágrimas derramadas e abraços apertados.
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Inesperadamente, Caio bateu palma no portão de casa antes do nascer do sol. Quando a mãe dele foi conferir quem era, levou um susto, pois esperava que o filho fosse voltar de viagem apenas na próxima semana. As três irmãs mais novas de Caio também puderam matar a saudade após quase dois anos longe do abraço do mais velho.
— É muito bom estar novamente em casa, senti muita saudades da comida da mãe. Reencontrar a família foi uma sensação única, sabe? A primeira vez depois de quase dois anos. É uma sensação que ainda não sei explicar, só vivendo para saber — conta aos risos
“Alvo principal” da surpresa no dia do aniversário do filho, Simone Corrente acordou mais cedo para resolver um problema no carro antes de sair para trabalhar e voltou para a cama.
— Fiquei abraçadinha com a minha filha, a Clara, e fiquei pensando “meu Deus, daqui quatro dias eu vou estar cheirando o pescoço do Caio”. Daí começaram a bater palma lá na frente de casa. Quando eu cheguei, abri a janela e vi que era ele eu não acreditei, porque eu queria ter preparado tudo para a chegada dele. Eu queria ter feito um bolo, que ele disse que estava com vontade de comer, queria ter a casa arrumada, buscar no aeroporto. Não foi nada do que eu imaginei. Foi como ele quis fazer. Meu coração transbordou — relembra, emocionada.
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Feliz ao relembrar a trajetória do filho mais velho, Simone conta que a sensação é de dever cumprido.
— Sempre olhei para o Caio com o olhar de que ele ia conseguir chegar onde ele quisesse. Sempre disse pra ele que é para ele olhar pra frente, não olhar para o lado, focar e fazer o que tem que ser feito. E deu certo graças a Deus. […] Assim como Deus levou ele para voar voos altos, Deus trouxe de novo para a gente celebrar junto essas conquistas — conta.
Planos do bailarino para o futuro seguem no exterior
Em 5 de agosto, Caio se despede da família e começa sua viagem de retorno para Astana. Realizado com o Astana Ballet onde trabalha atualmente, os próximos passos da carreira do joinvilense ainda se mantêm no Cazaquistão.
— Pretendo ficar mais alguns anos por lá, porque estou muito feliz com a companhia e bem adaptado no país agora, mas quem sabe daqui a, sei lá, cinco ou seis anos ir para a Europa, pois tenho um sonho de trabalhar lá — revela.
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Após tantos anos vivendo um sonho, Caio teve sua vida transformada graças à arte.
— A dança literalmente mudou minha vida. Eu vejo a vida com outros olhares hoje — finaliza o jovem bailarino.
*Sob supervisão de Fernanda Silva
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