Os manifestantes bolsonaristas que invadiram, neste domingo (8), as edificações da Praça dos Três Poderes, idealizadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer — Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal — danificaram importantes obras de arte da cultura brasileira e móveis históricos.
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No Planalto, a tela “Mulatas”, pintada em 1962 por Di Cavalcanti, foi furada pelos manifestantes. Outra obra danificada foi “Araguaia”, vitral de Marianne Peretti, de 1977, que fica no salão verde da Câmara dos Deputados.
No STF, a cadeira da presidente Rosa Weber, concebida pelo designer Jorge Zalszupin, foi arrancada. Além disso, um crucifixo foi danificado e a escultura “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti, de 1961, foi pichada. Segundo um funcionário do Congresso, os golpistas quebraram as vidraças da Câmara e fizeram pichações.
Veja fotos das obras e móveis destruídos
Relógio de 1808
Um relógio trazido ao Brasil por dom João 6º em 1808 também foi destruído. O objeto foi desenhado por André-Charles Boulle e fabricado pelo relojoeiro francês Balthazar Martinot no fim do século 18, poucos anos antes de ser trazido ao Brasil. O relógio foi restaurado em 2012, depois de ter sido resgatado de um depósito do governo federal.
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A peça estava abrigada no terceiro andar do Palácio do Planalto, onde está localizado o gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando o local foi invadido por centenas de golpistas.
Os ponteiros e números do relógio foram arrancados e uma estátua que enfeitava o topo da peça foi arrancada.
— O valor dessa obra é inestimável. O cenário é devastador —, disse o senador Randolfe Rodrigues em vídeo publicado no seu perfil do TikTok.
Invasões
Os bolsonaristas também invadiram e quebraram a sala da liderança do PT. Ao lado, incendiaram uma lanchonete. Atrás dela, fica um painel do artista Athos Bulcão. Até o momento, não há notícias sobre o estado da obra. Os extremistas, conta o funcionário, destruíram hidrantes, numa tentativa de impedir o combate às chamas.
As edificações da Praça dos Três Poderes foram tombadas, em 2007, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan. Brasília, cidade planejada ainda na década de 1950 durante o governo de Juscelino Kubitschek, também foi inscrita pela Unesco, em 1987, na lista do Patrimônio Mundial.
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Logo após o ataque, diversas autoridades e instituições ligadas à proteção dos monumentos públicos se manifestaram.
Em nota, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo, o CAU, classificou a invasão como um atentado grave contra “o primeiro conjunto urbano do século 20 reconhecido como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas.”
Para José Nascimento, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Museus, o Ibram, entre 2009 e 2013, o Iphan deve avaliar todo o prejuízo após a invasão.
— São crimes de dano ao patrimônio público. O Iphan pode fazer a imediata avaliação do que foi danificado e, então, cabe à Polícia Federal prender os terroristas — disse ele.
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De acordo com a presidente da Comissão de Direito Urbanístico da OAB-SP, Lilian Pires, os invasores podem ser enquadrados em ao menos dois crimes -depredação do patrimônio público e depredação de patrimônio tombado. Na sua visão, é necessário agora apurar a responsabilidade funcional da polícia do Distrito Federal, isto é, se agiu de acordo com o comportamento previsto na lei.
Por fim, Marcos Olender, diretor de projetos do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, o ICOMOS, afirmou ser difícil mensurar o valor das obras danificadas.
— Não existe realmente um valor para essas obras de arte que foram danificadas […] O que aconteceu foi muito grave — afirma.
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